30 de dez. de 2017

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA - I

Raquel

Sete anos de pastor Jacob servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas não servia ao pai, servia a ela,
E a ela só por prémio pretendia.

Os dias, na esperança de um só dia,
Passava, contentando-se com vê-la;
Porém o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.

Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assi negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida;

Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais serviria, se não fora
Para tão longo amor tão curta vida!



Luís de Camões.



Quando você chegou ao seu primeiro emprego, não foi à Previdência dizer: "Olha, eu estou preocupado com o meu futuro e acho que a minha garantia é a Previdência. Quero inscrever-me".
Não! Não foi assim! Havia uma lei determinando que o seu patrão descontasse um valor de seu salário (valor determinado por lei, sem que você tivesse podido discutir), e encaminhasse esse valor para a Previdência.
Foi essa mesma Lei que estatuiu que a Previdência era a garantia de seu futuro. Pela "combina" que não foi feita, mas imposta (sem que você tivesse podido discutir, ou optar por outro modo de proteger o seu futuro), a Previdência deveria acumular os valores descontados do seu salário. Ao fim de um determinado tempo, também estabelecido pela Lei, à sua revelia, o legislador comprometeu-se no sentido de que a Previdência iria pagar-lhe valores - também estabelecidos pelo governo, à sua revelia - valores esse que se destinavam a garantir sua aposentadoria, ao final do dito prazo. Mais tarde, também por força de lei, foi-lhe imposto um tal de FGTS - Fundo de Garantia de Tempo de Serviço - para substituir um fator que lhe era assegurado até então - a estabilidade no emprego - mediante o pagamento de um valor mensal (também estabelecido unilateralmente, sem outra opção), parte por você, parte por seu patrão.
Como sofremos de um mal insidioso e cruel chamado inflação (que, como as ondas do mar, vai e volta), esses valores, sob administração do governo, deveriam ser sempre atualizados, para que, quando chegasse a hora de sua aposentadoria - hora estabelecida pela Lei, à sua revelia, repita-se - os valores que você "permitira" ao governo descontar de sua remuneração, acumular e atualizar deveriam ser suficientes para que a Previdência cumprisse a sua parte na "combina" imposta, ou seja, pagar sua aposentadoria. Essa atualização de valores, para compensar a inflação, deveria ser feita através de uma estratégia - o cálculo atuarial. Fui à rede buscar informação, que transcrevo, para facilitar nosso entendimento (tinha vaga ideia do que é cálculo atuarial, sem maiores detalhes). Vamos lá:

"Fundamentalmente o cálculo atuarial busca, por meio do conhecimento histórico, de distribuições estatísticas e hipóteses, formar o valor presente (valor atual) de um conjunto de fluxos de caixa (obrigações a pagar ou a receber em uma ou várias datas) no futuro.

Emprego:

Muito embora o cálculo atuarial compreenda potencialmente tudo o que o cálculo financeiro abrange, a utilização com a qual o cálculo atuarial se identifica, é o cálculo das responsabilidades dos fundos de pensões e Regimes Próprios de Previdência. Esta estimativa mostra-se intrincado (sic) por combinar variáveis como:
. Valor de mercado dos ativos (NAV);
. Expectativa de aumentos salariais dos participantes do fundo;
. Expectativa de aumento dos pensionistas;
. Expectativas dos retornos futuros dos ativos do fundo;
. Condições para aceder ao fundo;
. Contribuições esperadas para o fundo até passar à situação do beneficiário;
. Tabela de mortalidade para os participantes do fundo, para determinar o final da condição de beneficiário;
. Etc.".

Fonte: CM - Crédito e Mercado.

Apesar de todos os cuidados com que o governo se propôs administrar a Previdência, ao longo do tempo em que você contribuiu, o que o governo está querendo fazer com você agora, alegando que dentro de alguns anos a Previdência não será mais capaz de pagar as aposentadorias, é o mesmo que Labão - pai de Raquel, serrana bela - fez com o pobre do Jacob, depois de este prestar sete anos de trabalho: "por sete anos de pastoreio, prometi dar-lhe a Lia em casamento; para casar-se com Raquel, terá de pastorear mais outros sete anos".
Não me venham dizer que não é isto. Diante das resistências ao projeto, e vendo poucas possibilidades de aprová-lo, o governo achou de recuar em algumas condições. Mas a intenção é deixar para o futuro a maldade que porventura não vier a ser aprovada agora.
Resta pensar sobre: 1) se os governos foram ineficientes e/ou desonestos na administração dessa imensa soma de dinheiros; 2) se lhes cabe modificar, unilateralmente, durante o curso da tal "combina", as condições que foram estabelecidas pelos mesmos governos, quando você começou a contribuir.
Assim quer fazer o governo: modificar as condições que haviam sido asseguradas àqueles que foram incorporados à Previdência Pública, na marra, naquele tempo. Sem qualquer explicação dos governos, foi mais ou menos assim: você começa a pagar à previdência logo que começar a trabalhar e, depois de tantos anos (ou condições específicas para situações diferentes) você aposenta.
Depois de passada mais da metade do tempo de trabalho e de contribuição, vêm eles e dizem: a Previdência vai quebrar e você terá de trabalhar mais alguns anos, ter vantagens reduzidas, senão, dentro em pouco tempo, a Previdência não poderá mais garantir sua aposentadoria.
Na opinião deste "advogadim de província", trata-se de evidente quebra de contrato.
É ético? Será legítimo?




Vamos ficar por aqui, por ora. Penso que poderá ser bom se os interessados pensarem sobre esta parte, para discordância ou concordância, para irmos em frente depois.
Cadikim voltará.



Imagem: guia comercial de ACREÚNA.


29 de dez. de 2017

O BRASIL DE CADA UM


Não é novidade dizer que temos mais de um Brasil. Muitos já falaram isto. A propósito, no último
domingo, assistindo ao programa 
"Painel", pela Globo News, ouvi a Economista Chefe de uma empresa operadora de investimentos descrever um Brasil em que "Temer está sendo salvo pela Economia". Falou da inflação baixa, de crescimento tímido mas constante... Enfim, falou aquilo que eu sempre ouvi tanto de governantes quanto de economistas. Achei normal, porque tanto governantes como economistas - "mormentemente"* os de operadoras de investimentos - precisam vender otimismo (lembra-me "Na Terra dos Mágicos de Ohs!") http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2017/12/na-terra-dos-magicos-de-ohs.html ). Pensei "cá consigo" (como dizia um certo passaquatrense): não consigo sequer vislumbrar esse Brasil da senhora Economista Chefe. Qual é mesmo a economia que está segurando Temer? Inflação baixa? Não sou economista mas, ensinado por uma certa longa vivência de crises, de suas explicações e resultados, desconfio de tudo o que os gestores públicos me falam. Por isto, penso que o que poderá estar acontecendo é falta de dinheiro no mercado. Quem está empregado segue comprando, muitos comprando menos; desempregado (há às pampas) não tem meios para comprar. A pouca quantidade de dinheiro no mercado leva a uma disputa ferrenha por ele. E toma promoções, Black Friday e quejandos. Vi uma loja vendendo seus produtos em condições que até podem parecer absurdas: a pessoa que comprou R$ 5 mil ganhou R$ 8 mil de bônus: levou "R$ 13 mil" em produtos pagando R$ 5 mil. O produto envolve arte na produção, com realce, e a dona da loja é a artista. Pode diminuir o próprio ganho - compensação de sua arte - sem prejuízo quanto à matéria prima. Precisa vender, mesmo em condições adversas. Meu "pessimismo" leva-me a raciocinar que, se chegarmos a uma economia francamente empregadora, com remunerações saudáveis, injetando dinheiro na praça através de salários - e não de artifícios que estão sendo usados pelo governo - os preços irão subir imediatamente (não será novidade), porque cada um, em qualquer lugar, quer dar uma mordidinha nos dinheiros que circulam por aí. Não é à toa que bancos compram ("antecipam") décimos terceiros, ficando com uma lasca. Nem é à toa que criaram um tal de décimo terceiro, e sim para uma injeção extra de dinheiro no mercado (sem aumentar salários mensais, o que resultaria em desencaixes mensais maiores - o tal fluxo de caixa). Nem é à toa que os preços são aumentados, quando o décimo terceiro está sendo pago.

E por falar em "injetar dinheiro no mercado", isto sim, penso que é uma das coisas que estão "segurando" Temer, disfarçando a falta de dinheiro e a inflação (mesma acusação que fizeram, em outros tempos, a Dilma). Em agosto, vimos filas imensas nas agências da Caixa Econômica Federal, para recebimento de dinheiro do PIS/PASEP, liberado para idosos - 65 para homens, 62 para mulheres -  pelo presidente da República (esta também poderá perder a maiúscula a qualquer momento; aguardem!), conforme divulgou a imprensa (EBC - Agência Brasil http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-08/governo-vai-liberar-saque-de-contas-do-pispasep-para-idosos

anunciou que, "pelos cálculos do governo, a liberação deve injetar R$ 16 bilhões na economia". A economia foi "engordada" artificialmente, por pouco tempo, e cada idoso "beneficiado" queimou logo sua grana.

Durou tão pouco tempo essa gordura que, não satisfeito, sua excelência resolve, no final do ano, e por Medida Provisória, reduzir mais um pouquinho a idade para saque de recursos do mesmo PIS/PASEP, que já fora mordido em agosto: 60 anos para homens e mulheres (G1 - https://g1.globo.com/economia/noticia/reducao-de-idade-minima-para-saques-do-pispasep-pode-beneficiar-109-milhoes-diz-planejamento.ghtml). Está lá que "o Ministério do Planejamento informou ao G1 nesta sexta-feira (22) que a redução de 70 para 60 anos, da idade mínima para que idosos possam sacar cotas do Fundo PIS/PASEP pode beneficiar 10,9 milhões de pessoas e injetar R$ 21,4 bilhões na economia" (abro parêntesis para explicar aquele destaque em negrito na palavra beneficiar, uma das artimanhas dos "mágicos de ohs!": velhinho amedrontado pela possibilidade da reforma da previdência, recebe graninha inesperada, acha ótimo, já que precisa gastar, pagar ou amortizar dívidas. A consequência imediata é que a mina secou. Se sua excelência resolver baixar novamente o limite de idade para outro saque no PIS/PASEP, ele já terá recebido e só. Aqui, também - como no governo Dilma - a fonte de recursos não se destinava a encobrir falta de dinheiro no mercado (a preocupação, em ambos os casos, não era, obviamente, a falta de dinheiro dos idosos; a pretensão era injetar grana na economia, fingir que havia salvação). Depois, fica "tudo como antes na casa de Abrantes".
Essa é uma das artimanhas da "economia governamental", mágica de "ohs!". A outra mágica, que também está segurando Temer, desde que se viu encurralado pelo perrengue Joesley, foi ficar liberando verbas para deputados "fiéis" (aos eleitores, por acaso?). Semelhantemente aos contratantes de pistoleiros (que o vulgo chamava "empreiteiros de Cristo"): metade à vista ("combina" da empreitada/ liberação das emendas). a outra metade quando entregar a orelha (liberação das verbas, só mediante a entrega dos votos necessários ao escape). Deu o que falar, teve deputado que ameaçou mudar de "opinião" quando fosse dar o segundo voto, porque as verbas ainda não tinham sido liberadas.
Ouso discordar, amada Economista Chefe de investimentos: penso que não é a Economia que está segurando Temer, não. São artimanhas políticas a qualquer preço e qualquer custo, e "mágicas de ohs!".
Sub censura!
E praza aos céus esteja eu redondamente errado, porque desejo uma Nação mais bem tratada e não aquela que estou vendo e por cujo futuro temo sobremaneira (se/quando vier o "ohs!").
PS - Ah! Não se pode esquecer, também, um tal novo ministro de encomenda - Carlos Marum - que, segundo ouvi pela TV (além de ter visto em muitas chamadas do google), declarou - sem rebuços - que liberar verba por voto não é chantagem, é ação de governo.

(*) Odorico Paraguaçu (O BemAmado, Dias Gomes), por boca de Paulo Gracindo.

Imagem: Shopee.

28 de dez. de 2017

MILLÔR EM PEDACINHOS - RETRATO SIMPLIFICADO DO TRIUNFADOR



"Na pré-história, não foi ele quem abateu o primeiro javali. Foi o primeiro que abateu o que abateu o primeiro javali. Ficou com a glória das primícias do abatimento e inspirou o terror em todos os que quisessem abater javalis sem seu consentimento."



Pág. 208 do livro aí em baixo:






22 de dez. de 2017

COINCIDÊNCIA. OU NÃO...

Encontro, nas minhas velharias, um conto que escrevi há muitos anos (datilografado, com data de 15 DEZ 1960). Fala de um mestre-sala de escola de samba da antiga. Vou transcrever apenas o início:


"Emergindo de um amontoado de barracos que pareciam prestes a cair, o moleque apareceu no terreiro. Disse algumas palavras ao ouvido de um prêto e, a um gesto dêste, cessou imediatamente a batucada. A tristeza se estampou, simultâneamente, nos rostos. Aquilo significava que Tio Joca acabava de morrer.".
(grafia da época).

Posteriormente - também coisa da antiga - andei comprando fascículos da revista MPB Compositores, com os respectivos CDs. Não há registro de data. No exemplar que festejava Cartola, fui encontrar, na página 2, também apenas o início:


"Naquele dia não houve samba. O apito do mestre Valdomiro, diretor de harmonia da Mangueira, soou apenas uma vez, e isso foi o bastante para que ensaio da escola de samba, animado pela bateria e pelas passistas, terminasse. Mestre Cartola havia morrido e, na quadra da Mangueira, só podia reinar o silêncio. Era 30 de novembro de 1980,...".





FONTE: Revista e páginas citadas, Editora Globo. 

21 de dez. de 2017

O "ESPADA DE PAU"

Foi num livro que minha mãe me deu que conheci essa estória. Nome do livro: Contos Morais e Cívicos do Brasil. Referências a atos edificantes, de honestidade, probidade, coragem... tudo de bom, até chegar no último "conto" - "O Espada de Pau". Por aí, podemos ver que a malandragem brasileira já era um destaque desde os tempos do primeiro império.
Conta que D. Pedro I, que era chegado a uma matrifusia, costumava sair nas noites cariocas, frequentando tudo que era lazer noturno e discreto, sempre disfarçado evitando ser reconhecido. Em um bar, viu um soldado bebendo muito mais do que lhe permitia seu modesto soldo. Acabou abordando o militar e perguntou-lhe como é que conseguia beber tanto - e pagar - se seus vencimentos eram modestos. O soldado respondeu, prontamente, que empenhava sua espada e que, assim, podia gastar à larga, com bebidas. O imperador obtemperou (imperador obtempera), perguntando como é que ele se apresentava armado de espada. Redarquiu (soldado redarque - não sei se se conjuga assim, no google encontrei redarqui, mas penso que isto será passado) que estavam expostos os copos da espada, mas que a "lâmina" era de madeira.
Passou-se algum tempo e o imperador foi passar em revista as tropas da guarda imperial. Identificou o tal soldado entre os que estavam formados. Dirigiu-se a ele:
- Soldado! Tenho notícia de que você é um excelente esgrimista. Quero experimentar a sua força, para avaliar se é capaz, realmente, de pertencer a esta guarda que vela pela minha segurança. Saia de forma e venha cruzar ferros comigo!
O soldado tornou, humilde:
- Majestade! Jamais seria eu capaz de levantar minha espada contra meu imperador!
- Faço questão, soldado, de conhecer sua força e sua habilidade. Venha duelar comigo!
- Majestade! Eu seria o mais vil dos soldados se erguesse minha espada contra meu imperador!
- Sem conversa, soldado! Saia de forma e venha duelar comigo!
O soldado adotou uma atitude mística: ajoelhou-se, mão no peito, face voltada para o céu e bradou:
Minha virgem nossa senhora! Eu lhe suplico, humildemente! Se eu tiver realmente de levantar minha espada contra meu imperador, que ela se transforme numa espada de pau.


Imagem: Saber Crescer.
http://sabercrescerblog.blogspot.com/2013/10/realizacao-de-escudos-espadas-e-cavalos.html

18 de dez. de 2017

NA TERRA DOS MÁGICOS DE OHS!

Eu era menino e os políticos já prometiam. Inventavam as mais inventivas soluções para os problemas daquele tempo (agora sabemos que eram poucos). E, já então, falhavam no cumprimento de suas promessas. Uns perjuros! Fui crescendo e assistindo, a cada eleição, a novas promessas, em palanque, de melhorar a vida do povo. E nada!
O eleitor, coitado, sempre crédulo, votando em alguém. Trocava UDN pelo PSD, o PSD pela UDN. UDN pelo PSD, de novo. Talvez para não ficar igual àquele português que viajava, em um bonde literalmente vazio, em noite de tempestade. Enorme goteira despejava água sobre o pobre passageiro, "a píncaros" (como dizia o narrador esportivo Walter Abrahão, gostosamente, referindo-se a "cântaros" e, de quebra, criticando pouca intimidade com vocabulário mais rico). Veio o condutor e perguntou: por que o senhor não troca de lugar? E o cara, ensopado: mas trocar com quem?
Fechemos parênteses e voltemos às promessas de palanque. Sempre dando em nada.
Adulto (desculpem pela pretensão), vi o povo tentando trocar ARENA por MDB sem conseguir. Eleição indireta, não tinha jeito. Depois, PDS por PMDB. As propostas de mudanças cada vez mais criativas (os agravamentos de crise exigiam soluções mirabolantes, porque não cabiam mais as soluções simples de antanho). E nada! A crise se aprofundando cada vez mais.
Veio a pré-nova república, com um novo mágico, cartola em punho, conseguindo a mágica de harmonizar "caminhando e cantando" com "quero falar de uma coisa" e outras bossas. Deu no que deu. Nem é bom falar! O povo cada vez mais na pior! Só levando ferro!
Mágico de Oz clássico releitura filme boneco de palha homem de lata leão covarde Dorothy pedidos desejos campanha eleitoral eleições política prefeito compra de votosAgora, em plena campanha presidencial, quase uma dezena de candidatos estão buscando o voto direto do povo, numa corrida que já começa desenfreada, todos prometendo soluções mágicas para as crises do desemprego, da habitação, da previdência, da saúde, da educação, da segurança pública, da dívida externa, da dívida interna... mais crises do que candidatos; quem sabe um presidente para cada crise resolvesse... ou um ministério... Vários mágicos. Cada um com uma mágica diferente, tentando convencer o eleitorado. E o povo, pra variar, confiando! Para, no final... oh!
Fim de século, plena era dos mágicos de... ohs!


Nota do cadikim: texto do blogueiro, publicado no jornal "Correio do Triângulo", em Uberlândia, na década de 1980.

Imagem: WillTirando.
http://www.willtirando.com.br/o-grande-magico-de-oz/

17 de dez. de 2017

GALO 2017 - FICOU DEVENDO MUITO

Escudo Galo Imagens WhatsappFalei sobre isto, em agosto (O QUE HÁ COM O GALO, AFINAL? - http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2017/08/o-que-ha-com-o-galo-afinal.html). Das "premonições", na imprensa, de bom desempenho, porque o time tinha elenco, e da pouca "incorporação".
Vejo, afinal, que não foi cumprida uma promessa - quase uma ameaça, em razão de desempenho pífio - do então presidente, de que o time "tinha a obrigação de classificar-se para a Libertadores". Penso até que foi melhor não se ter classificado. Não poderia ser mal sucedido. Se tivesse ocorrido, seria uma pedreira nos sapatos.
Argumentei, em agosto, que um fator merecedor de cuidados - não copiei mas costumo consultar a rede - era a média de idade dos jogadores e algumas evidências de que o time costumava perder ou sofrer empate na segunda metade do segundo tempo.
Nada contra esse ou aquele jogador mais "experiente", mas vejo pouca produção. Robinho (acima dos 30) encantou o técnico e a torcida com os dois gols que marcou contra o Cruzeiro (sempre ocorre euforia quando é contra a Raposa). Não me entusiasmei. Robinho foi servido, nas duas vezes, pelos esforços de outrem: no primeiro gol dele, Fábio Santos (também acima dos 30; acho que é o "experiente" com melhor desempenho no brasileirão) percebeu que o goleiro Fábio lançaria a bola para um meia, quase na linha de meio de campo; correu, foi mais rápido e interceptou o passe com a barriga, a bola sobrou para Robinho que, depois de uns poucos passos, driblou um adversário e marcou; muito bonito; no segundo, foi Cazares quem tabelou pela direita, correu para o meio e lançou Robinho, que teve pouco trabalho para dominar, driblou um adversário e marcou por cobertura. Dois belíssimos gols, enfeitados pela emoção do momento e pelo fato de ter sido contra o Cruzeiro. Mas não vi grande atuação de Robinho, no curso da partida. Comentei: toparia um jogador que não está rendendo, desde que me garantisse dois gols por jogo, mesmo jogando mal. Robinho não ofereceu isso, no decorrer do campeonato. Verdade é  que a gente aprende muito menos nas vitórias do que nas derrotas. Não fica só em Robinho. Marcos Rocha (abaixo dos 30) não é mais aquele lateral da Libertadores; Leonardo Silva (quase 40) perde na corrida para muitos atacantes; Adilson, Elias... Estão na curva descendente, óbvio.
Acho que um dos fatores de desenvolvimento é a renovação. Vi o Flamengo fazer uma renovação, do "rolo compressor" - Paulinho, Rubens, Índio, Evaristo e Esquerdinha, entre outros - para Joel, Moacir, Henrique, Dida e Zagallo, quatro deles na seleção de 1958. Constato que a vida é feita de nascimentos e de mortes. Quem planeja melhor as substituições oportunas tem oportunidade de progredir melhor.
Quando Leonardo Silva ficou um tempo maior sem jogar, foi substituído pelo zagueiro Bremer, da base , campeão sub20 em 2016. Leonardo voltou e Bremer não teve oportunidade mesmo em jogos considerados mais fáceis, indo Leonardo para o banco. Penso que se tivesse acontecido, o jogador jovem teria tido oportunidade de crescer. Ninguém amadurece no banco. Só jogando.
Achava que a direção do Galo deveria considerar sobre o que a imprensa publicou, da média de idade da equipe.
Incomodou-me a notícia de que o clube vem de contratar Arouca, com 31 anos. Joga bem? Sim joga. É titular de um grande clube, da série A? Não. Está na curva ascendente? Não.
À evidência, acho que o Atlético não está pensando em renovar.

Imagem: IMAGENSHATSAPP
http://www.imagenswhatsapp.blog.br/category/imagens-atletico-mineiro-para-whatsapp/

14 de dez. de 2017

MILLÔR EM PEDACINHOS - DE REPENTE

De repente, eu me dei conta de que todas essas perguntas podem ser comigo. Sempre olhei os anúncios de jornal, as propostas pararreligiosas e os panfletos que me entregam na rua como coisas destinadas aos outros. Subitamente, percebi que estava pensando nelas e... "respondendo".

P - Você já parou para pensar se trata seus filhos como eles merecem? Por que não mudar, hoje mesmo?

R - Eu já tratei meus filhos como eles merecem, mas isso há muitos anos. Hoje, o maior está com 25 anos e 1,90 metro e eu já não acho prudente.


14/04/1982


Pág. 176 do livro.




11 de dez. de 2017

MILLÔR EM PEDACINHOS: - TÓPICOS ENTRE O MEDO E A CORAGEM


"Averiguação

As autoridades encarregadas da segurança do Rio repetem enfadonhamente sua impossibilidade de enfrentar aquilo que outrora se chamava crime. Por falta de homens, de material, de prisões. Quanto à falta de homens, não sei; nem quanto à falta de material. Mas nossas prisões, embora eu reconheça que estejam todas ocupadas, são muitas e as melhores do mundo. Nosso sistema carcerário pode mesmo ser considerado sem par. Estive em várias de nossas prisões ultimamente: são locais bem-protegidos, de guardas e vigilantes bem-armados e bem-pagos; boas instalações, portas pesadas e com os mais modernos sistemas de controle e segurança. As pessoas lá confinadas vivem bem, de modo geral não se queixam da alimentação. Reclamam apenas das saídas, cada vez mais raras; só lhes é permitido tomar um pouco de sol e fazer uns exercícios de manhã cedo e logo são obrigadas a voltar para os alojamentos. Quando tentam, porém, se afastar um pouco ou mesmo escapar ao confinamento, são agredidas, violentadas ou mesmo mortas, sem qualquer explicação ou julgamento. De qualquer forma, repito, as prisões são tão boas que, na Vieira Souto, Rio, o custo de uma delas, atualmente, vai de um mínimo de 20 milhões a um teto de 100 milhões.

11/02/1981"


Texto na página 121

Link da explicação de motivo:
http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2017/11/millor-em-pedacinhos-us-fora-da-lei-num.html

8 de dez. de 2017

MILLÔR EM PEDACINHOS - "COMO É, NEGA, ESSE FUTURO SAI OU NÃO SAI?"

EDIÇÃO EM 26/06/2019: Não é por nada não. Mas temos de tirar o chapéu ao Millôr. Escrito seu em maio de 1983 (lá se vão 36 anos) guarda toda a força de atualidade.

"Nada como o passado pra você desacreditar do futuro (o contrário sendo natural) no presente. Folheiem a História ou qualquer revista velha. Parecia que ele estava ali, na esquina, se falava nele concretamente, no amanhã amanhã mesmo, não apenas maneira de dizer. E ele nem se dignou mandar dizer por que não veio. Mas continua a coisa mais prometida pelos homens públicos e mais manuseada pelos economistas que hoje, tantas vezes, até se autodeterminam futurólogos. Chegar não chega. O amanhã de ontem não se realiza hoje, e os conservadores, que esperam que o que vem seja igual ao que foi, se desiludem tanto quanto os renovadores, que pensam que o que vem será diferente de tudo que já foi. A nostalgia de uns é a angústia de outros - pois para ambos o futuro é um espaço impreciso mas concreto, que podem vender para si mesmos e pra outros crédulos, um futuro-imobiliário, onde será possível viver a vida plena que uns tiveram no passado, ou encontrar a purificação dos males que sempre nos envenenaram - no futuro cabemos todos e cabe tudo, pois, sempre futuro, não pode ser cobrado ou conferido. Que fim levou o 1950, futuro de 1940, e 1960, futuro de 1950, e como será 2000, futuro dos futuros, isto é, de todos os passados? Talvez esse não chegue mesmo jamais, não apenas no sentido filosófico mas também no material. Só um imenso bang. Ou um soluço. (Obrigado, Elliot!)


18/05/1983"

Livro abaixo, pág. 188.






PS.
Primeira citação, com preâmbulo:
http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2017/11/millor-em-pedacinhos-us-fora-da-lei-num.html

6 de dez. de 2017

"TERRORISMO INADEQUADO" (TEMER)

Durante o almoço em que Evo Morales ficou parecendo mais pretexto do que homenageado - segundo meu sentir - Temer não perdeu oportunidade para falar da reforma da previdência, e para desmerecer - e até execrar opositores. Disse:



"Eu digo isso porque de vez em quando espalham, né, 'olha, vão tomar a sua aposentadoria, vão tirar a sua aposentadoria' é um terrorismo inadequado e um terrorismo inadequado (articulação vocal ininteligível) terrorismo administrativo inadequado porque a essência da reforma -  este é outro ponto fundamental - é combater privilégios" (https://g1.globo.com/politica/noticia/temer-ve-terrorismo-inadequado-em-divulgacoes-equivocadas-sobre-reforma-da-previdencia.ghtml).

Execrar, sim, já que passou a considerar "terroristas" aqueles que ousam discordar de suas ideias - e, muito provavelmente, de seus interesses políticos.
Pode ser que esteja a caminho de um inferno astral o Deputado Rodrigo Pacheco, do PMDB/MG - o partido de Temer - que se manifestou, quando no mesmo quadro jornalístico (link acima), falou-sem em partidos fecharem questão quanto à reforma da previdência, para votarem a favor:

"Não considero ser recomendável o fechamento de questão nessa matéria, até pra permitir que os deputados possam decidir seu próprio voto, de acordo com as suas circunstâncias, a sua consciência e a sua reflexão."

Eu, que já pensara sobre a expressão usada por Temer, aproveito o pronunciamento de Rodrigo Pacheco, para indagar:
"Seu" Temer, se o senhor classifica as ideias opostas à sua como "terrorismo inadequado", certamente achará que é possível existir terrorismo adequado, não? E o que será, então, terrorismo adequado? Será, porventura, essa enorme pressão que o governo está fazendo sobre os deputados, com ameaças intercaladas com promessas de benesses e de ajuda nas próximas eleições, para aqueles que votarem a favor, excluindo e dificultando, óbvio, os "infiéis" (uma das faces mais cruéis do terrorismo)?
Ou será o estado psicológico em que se devem encontrar muitos deputados, que admitem o tal "fechamento de questão", alheios aos interesses dos seus eleitores - interesses que estão obrigados a conhecer, por dever de ofício? Pelo jeito, encontrarão dificuldades em votar "de acordo com as suas circunstâncias, a sua consciência e a sua reflexão", como apregoa o Deputado Rodrigo Pacheco? Por via das dúvidas, acho de bom tom esclarecer que não conheço o deputado, e nem tenho cor partidária. Principalmente porque estranho muito a forma por que os parlamentares "nos representam".
Finalmente: para "combater" (preferia que tivesse falado "excluir") privilégios, não precisa de uma reforma que atinja aqueles que nem passam perto de privilégios.


Imagem: Brasília De Fato.

4 de dez. de 2017

DIA INTERNACIONAL DO COMBATE À CORRUPÇÃO E A CONTRA-INFORMAÇÃO

Ouço, pela Tv, notícia de que hoje é o Dia Internacional do Combate à 
Corrupção.
P
rimeiro que tudo, repito - acho que já disse por aqui - não gosto de "Dias". Em geral, quem tem "Dia" não está com muito (Dia do Índio, Dia da Árvore...). Quem está com muito não tem dia (nunca ouvi falar em Dia do Lula, Dia do FHC, Dia do Temer,... olha: nem Dia do Rodrigo Maia). "Dias" servem para engambelar alguém. Mais nada.
No mesmo momento em que recebo essa informação, recebo uma outra, nas tirinhas que correm em baixo, de que o Ministério Público de São Paulo investiga um esquema de corrupção - novidade bem atual - na Secretaria de Gestão Ambiental da Prefeitura de São Bernardo do Campo. Nas mesmas tirinhas, leio que o Ministério Público Federal e o Conselho Nacional do Ministério Público assinaram um pacto contra a corrupção.
Procuro mas não vejo qualquer manifestação do STF ou de qualquer outro órgão do Poder Judiciário sobre este magnífico "Dia".
Procuro mais e encontro, na página da TRANSPARÊNCIA E CONTROLADORIA GERAL DA UNIÃO (http://www.cgu.gov.br/sobre/institucional/eventos/anos-anteriores/2016/dia-internacional-contra-a-corrupcao) que "O Dia Internacional Contra a Corrupção remete à data em que o Brasil e mais 101 países assinaram a Convenção das Nações Unidas contra a Corrupção, em 2003, na cidade mexicana de Mérida" (quase escuto um "ay, caramba! arriba compadre!").
Ô sô do céu! Então, assinamos essa tal Convenção em 2003, passamos pelo mensalão, ingressamos na Lava Jato e adjacências, com tentáculos evoluindo por aí, e mais "filhotes independentes" que foram surgindo em vários lugares, sem nunca termos ouvido sequer falar em Dia Internacional de Combate à Corrupção e que assinamos a Convenção!
No ambiente que me circunda, penso que toda essa falação no tal "Dia", em pacto contra a corrupção, em investigação de um caso novo, no ABC paulista, tudo isso pode ter vindo à guisa de "contra-informação" (apesar do silêncio do STF, até agora).
Faz-me lembrar um episódio, que memorizei, da novela "O Bem Amado", texto de Dias Gomes, que, segundo ouvi dizer, foi o homem da contra-informação do Partido Comunista: o Dirceu Borboleta volta-se para Odorico Paraguaçu - encarnado no impagável Paulo Gracindo - e diz: "Prefeito, o senhor precisa marcar uma data para inaugurar o cemitério.". Odorico pergunta: "Por que?". Dirceu: "O povo está falando que o senhor nunca vai inaugurar o cemitério.". Odorico: "E o que é que adianta marcar uma data?". Dirceu: "Pelo menos, é uma contra-informação.". Odorico, peremptório:

"Contra-informação é providenciamento urgente!".

Por falar em urgente, a quantas andam as denúncias levadas ao STF pela PGR, relativas à Lava Jato?

Imagem: Ministério Público de Contas - Estado do Piauí.
http://www.mpc.pi.gov.br/9-de-dezembro-dia-internacional-de-combate-a-corrupcao/