22 de out. de 2021

MILLÔR EM PEDACINHOS - RESPONSABILIDADES


"O conhecimento de um mal social não é suficiente para aferir suas causas e encontrar maneiras de solucioná-lo. É necesário um conhecimento íntimo do problema e esse conhecimento acaba in loco, no dia a dia em que se apresenta e desenvolve. É preciso experimentar, viver um mal, para a exata consciência de sua extensão e profundidade. Conhecer a diferença essencial entre o latido e a mordida de um cão. Esta é mais pessoal.

A TEORIA NA PRÁTICA. 1968


Millôr Fernandes, O Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr.







19 de out. de 2021

14 de out. de 2021

CORONEL PM CÉSAR COELHO PERPÉTUO LEVA-NOS A UM PASSEIO PELA BELO HORIZONTE DE 1986. COM PROTESTO!

RELÓGIO QUEBRADO 


Vez por outra, ouço em alguma das estações de rádio de nossa região - Alto do Paranaíba - uma moda sertaneja intitulada Relógio Quebrado. Despiciendo saber - como não sei - os nomes dos autores ou intérpretes, eis que nenhuma relação há, além do título, entre os enredos da canção e desta narrativa.

Oriundo da recém-emancipada Divinolândia de Minas, cheguei a Belo Horizonte no alvorecer do ano de 1.968, aprovado que fora no vestibular para o Curso de Formação de Oficiais do Departamento de Instrução (DI) da PMMG, hoje Academia de Polícia Militar.

Conhecia a capital mineira apenas de algumas passagens, quando ia e vinha do Seminário dos Padres Capuchinhos em que estivera por três anos.

Não tendo, à época, os recursos de que dispomos hoje nas telas dos celulares, como Google Maps, Wase e tantos outros, me orientava no centro de BH a partir de um ponto-base, a Praça 7. Ali estando e me postando de frente para a região do Parque Municipal e Praça da Estação, eu sabia que, tomando aquela direção, chegaria a esses dois equipamentos públicos; se tomasse o sentido contrário, pela rua Carijós, chegaria à avenida Paraná, onde havia uma grande gama de pontos de ônibus, principalmente os que se dirigiam à região de Prado, Calafate, Gameleira, Salgado Filho e outros, que nos conduziam ao DI; direcionando-nos para a esquerda, sabia que chegaria à Rodoviária, podendo acessar, no trajeto, a Feira de Amostras, Lojas Americanas, Sapataria Americana, Camisaria Kadilac, Cine Art Avenida e outras instituições que, aos poucos, fomos conhecendo; a direção contrária nos conduziria à Praça Tiradentes, onde, ainda hoje está a imagem altiva de nosso Patrono (dizem as más línguas que ele está com as mãos para trás porque estava jogando "porrinha" e, ainda, que ele quase sempre vinha "de lona"); ali era praticamente meu limite e, assim mesmo porque bem próximo estava a Boite Uai, do Célio Balona, a que eu tinha acesso por ter um primo que lá trabalhava e conseguia alguns privilégios para a gente.

Nesse trajeto de Praça 7 à Praça Tiradentes, havia uma série de monumentos/equipamentos públicos relevantes, que, para nós, eram referência, como o Palácio das Artes, Parque Municipal, Correios e Telégrafos, Igreja São José e o majestoso Palácio Municipal, que ostenta em sua torre quadrilátera um belo relógio com mostradores para os quatro lados.

Após quatro anos de formação profissional, voltei para o interior, onde trabalhei por toda a carreira, só passando novos períodos na capital para realização de novos cursos de aprimoramento profissional.

Encerrada a feliz carreira na Polícia Militar, acrescida de 15 anos de advocacia, passei a dividir o domicílio entre Patos de Minas, minha Terra Adotiva, e Belo Horizonte, que também amo de paixão. Estabelecendo residência no bairro Funcionários, gosto de fazer minhas caminhadas diárias saindo de minha residência na rua Aimorés, passando pela Praça Tiradentes e percorrendo toda a Av. Afonso Pena até a Rodoviária, quando contemplo todo aquele cenário pelo qual eu me orientava no início da vida na capital. Passei a observar que o velho e belo relógio do Palácio Municipal não mais marcava as horas; sempre parado, marcando um mostrador 11:20, outro 08:40 h e outros horários aleatórios.

Cada vez que ali passava, o fato me chamava a atenção e eu me perguntava: será que os ocupantes/mandatários - o atual e os anteriores - dessa casa não têm apreço pelo que que ela representa? Essa casa não tem dona-de-casa? Ou a dona da casa não tem vergonha de expor sua sala-de-visitas em desalinho? Sempre imaginava a hipótese de questionar publicamente, cobrando da Administração Municipal uma medida.

Passaram-se os dias sem que eu efetivasse o questionamento, até que hoje, 13 de outubro de 2021, durante minha caminhada, percebi que o cenário se modificara, não sei se pra melhor ou pra pior. O que aconteceu? Agora não há mais divergências entre os mostradores; tudo igual! O relógio funcionando? Não! Os quatro mostradores estão sem os ponteiros.

Ficam agora os questionamentos: a dona da casa tomou vergonha e decidiu arrumá-la ou
foi dado o segundo passo para a eliminação de mais um bem público? Vão restaurar o relógio ou eliminá-lo do cenário?

Aguardemos o desfecho!

                                

                             Belo Horizonte, 13out2021

                               César Coelho Perpétuo


Fotos: Prefeitura Municipal de BH.

https://prefeitura.pbh.gov.br/noticias/ultima-parcela-do-iptu-2020-vence-na-proxima-semana


Comentários do editor:

1) Os ponteiros do relógio estavam lá ainda, há menos de um ano (vê-se no site indicado: criado em 11/12/2020 - atualizado em 11/12/2020 | 18:15). Pode-se ver dois dos ponteiros desencontrados, em recorte da foto.


Recorte da foto publicada


2) Parece que o objetivo da página (site) era cobrança de impostos:

"Última parcela do IPTU 2020 vence na próxima semana

criado em 11/12/2020 - atualizado em 11/12/2020 | 18:15".