Assisti à apresentação da lista de convocados à Seleção Brasileira. O ponto que me chamou mais a atenção foi a referência do treinador Tite ao atleta Vinícius Jr:
"- O Vinícius Jr, a gente tem que ter muito cuidado com atletas jovens. Calma com a expectativa exagerada. Eles oscilam. Te dou a resposta com informação. O Vinícius até se afirmar, é a sua terceira temporada. Quantas vezes ele esteve conosco? Neste processo temos que ter o cuidado. Ele vai oscilar. Ele jogou muito contra a Argentina, foi destaque nosso. Já teve o desempenho que tem no Real Madrid. A maturidade do jovem para que ele possa desenvolver e amadurecer. Inclusive com o peso que a camisa da Seleção Brasileira tem - disse antes de complementar."
Como qualquer brasileiro, sou metido a entender de futebol. Um pouco de gente, também, que maior parte da minha vida passei trabalhando com gente. E, afinal, acompanho o futebol brasileiro.
Com ressalvas, concordo com o Sr. Tite. Mas não consigo ver coerência satisfatória nem com o histórico da Seleção Brasileira, nem com a mesma sob o comando de Tite.
Começemos pelo fim. Há jogadores repetitivos (sem trocadilho) na Seleção Brasileira que não apresentaram muito e continuam sendo chamados. Estará Tite esperando que amadureçam?
De ré, volto-me ao passado.
Edu estreou no Santos com 15 anos de idade, em 1966, ano em que foi para a Copa do Mundo. Um pouco "amadurecido" foi Campeão na Copa seguinte, 1970. Participou ainda da de 1974.
Moacir, reserva de Didi na Copa de 1958, aos 22 anos, participara da Copa Roca em 1957, Brasil Campeão, aos 21 anos, mesma idade com que estreou no Flamengo.
Amarildo começou no Goytacaz (RJ) aos 167 anos, passou pelo Flamengo em 1958, tendo ido depois para o Botafogo, Bicampeão da Copa do Mundo em 1962, 23 anos.
Coutinho estreou no Santos aos 14 anos de idade, dividido a camisa 9 com Pagão, outro também considerado gênio mas que sofria com lesões repetidas. Há referência a que teria sido titular da Seleção de 1962, se não se tivesse contundido na véspera, substituído que foi por Vavá. Fez a primeira partida na Seleção Brasileira aos 16 anos, contra a Seleção do Uruguai. Figurava como titular na Seleção de 1962 mas uma lesão pouco antes da Copa determinou sua permanência no banco.
Tostão, quando tinha sete anos de idade, foi "convocado" para jogar no time de várzea do seu bairro para enfrentar os "garotos do Atlético". Entrou no segundo tempo, parecendo sumir no meio de garotos com 12 a 15 anos. Marcou um gol e saiu carregado pelos companheiros. Aos 15 anos, 1962, time de futebol júnior do Cruzeiro, depois no América por um ano, retornando ao Cruzeiro em 1964, então com 17 anos, fazendo carreira brilhante, finalizando sucesso com o Tricampeonato da Copa do Mundo.
Dener, após infância e adolescência conturbadas por maus caminhos, acabou estreando na Portuguesa de Desportos, promovido a profissional em 1988, 17 anos. Com ele, a Portuguesa obteve seu primeiro título na Copa São Paulo de Futebol Júnior. Eleito o melhor jogador do campeonato. Na final, caiu nas graças do assessor do presidente do Grêmio, vencido pela Portuguesa por 4 x 0, foi motivo de um pedido do dirigente, para empréstimo do jogador. Cedido por três meses, foi campeão gaúcho, seu primeiro título como profissional. Em 1994, emprestado ao Vasco, foi Campeão da Taça Guanabara. Curiosidade: "Seu primeiro jogo como profissional ocorreu em 14 de outubro de 1989, na derrota por 2-1 para o Grêmio, em Porto Alegre. Ao fim da partida, o ex-lateral do Grêmio Alfinete foi até o jovem Dener e pediu para trocar de camisa: 'Poxa, estou estreando hoje, sou do juvenil ainda, não tenho dinheiro, se te der a camisa vou ter que pagar quinhentos paus em outra', revelou Alfinete".
Dida, do CSA para o Flamengo, passando a atuar no time principal em 1955, 21 anos. Segundo maior artilheiro da história do Flamengo, superado por Zico. Dali para Seleção Brasileira Campeã de 1958. Atuou na primeira partida, com Pelé contundido. Contundiu-se e deu lugar a Mazzola que, por sua vez, restituiu-o a Pelé.
Ô sô do céu! Esqueci do Pelé?!!!!!!
É claro que não, uai! E no que me lembro, é de uma entrevista coletiva de convocação para 2010, dada pelo Dunga. Dunga sofreu forte pressão para escalar dois jogadores "chegantes": Neymar e Ganso. Respondeu que "ainda não tinham sido testados". Um repórter entrevistador perguntou (já respondendo): "quer dizer que, se o senhor fosse o técnico da seleção de 1958, não teria convocado o Pelé?". A resposta está em crônica trazida, à época, pelo cadikim (http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com/2014/07/dunga-e-imprensa-quando-um-chefe-gaules.html). Assinalei, então, que a resposta de Dunga foi pequena (considerei a Dona História): Pelé, antes da Copa de 58, disputara jogos pela Seleção, tendo inclusive participado da Copa Roca, marcando o gol do título. Foi um tempo de muita pinimba da Globo especificamente com Dunga. Há outras referências na citada crônica.
Repito: concordo com o Tite com que é preciso cuidar bem dos jovens. Muita grande promessa tem-se perdido em um tempo de muito dinheiro, sem sempre correspondido com comprometimento.
Mas tenho de terminar falando que, naquele tempo, os jogadores jovens tinham muitos a quem pedir a bênção: Pelé chegou no Santos pedindo a bênção a, tirando a defesa, que não era muito, pelo menos a Zito, Dorval, Pagão, um tal Jair da Rosa Pinto; na Seleção, chegou pedindo bênção a Gilmar, De Sordi, Djalma Santos, Belini, Orlando, Nilton Santos e Garrincha, sem contar alguns do time reserva. Assim chegaram Coutinho, Edu, Dida, Moacir, Dida, Amarildo, Tostão, Dener...
Não resisto à tentação de amolar um pouco mais: ouvindo notícias de que o atual técnico do Flamengo, o português Paulo Sousa, pretende fazer uma imersão na história do clube que passa a treinar, fico imaginando se o Tite não deveria saber isso tudo aí em cima.
Fonte de informações específicas: WIKIPÉDIA.
Imagem: Gávea News.
https://www.gaveanews.com/index.php/2022/01/14/com-ronaldo-roberto-carlos-marcelo-robinho-casemiro-e-savio-vinicius-junior-entra-pra-grupo-seleto-do-real-madrid/
