20 de jan. de 2025

MENDIGO DE UM REAL (OU: ME DÁ UM REAL AÍ!)

 Conheci-o correndo nos intervalos de carros parados no semáforo, pedindo, sem parar: me dá um real aí!... me dá um real aí... Movimentava-se para lá e para cá, não se detendo para esperar a entrega de um óbulo. Não dava muito tempo para o doador entregar. Corria frenético: me dá um real aí... me dá um real aí... Algumas vezes, caminhando ele em minha direção, estendia-lhe algum dinheiro. Apanhava-o rapidamente com um "obrigado" e seguia na sua incessante busca por um real.

Tinha toda a aparência de um dependente de drogas. Não incomodava ninguém, apenas pedia um real, sem se importar se não viesse a moeda.

Às vezes, era visto dormindo em uma esquina. Muito magro, nunca o vimos se alimentando.

Um dia de inverno, minha mulher disse-lhe que iria dar-lhe um cobertor. Respondeu que não queria. Ela insistiu, dizendo que tinha o cobertor e que estava muito frio. Repetiu: não quero! E seguiu na sua corrida desenfreada: me dá um real aí... me dá um real aí...

De repente, sumiu na poeira. Não o víamos mais no lugar onde costumava dormir, nem nos intervalos dos carros parados no semáforo. Chegamos a nos perguntar e a outros: será que morreu? Afinal, seu estado parecia-nos lamentável.

Pois não é que, um dia, pela manhã, passando pela calçada da praça Antônio Dias, ouvi "me dá um real aí!". Olhei para o lado da voz. Estava ele lá, magro como sempre o vi, mas com aspecto físico bem diferente, bem disposto e sem os sinais característicos de dependente de drogas. Conversei com ele rapidamente, disse-lhe do meu agrado de vê-lo em situação melhor.

Algum tempo depois, voltei a vê-lo com a fisionomia anterior, não tanto grave, como antigamente. Desapareceu de novo.

Há poucos dias, andando pela Major Gote, ouvi "me dá um real aí!" Lá estava ele, sentado, encostado na parede de uma loja, com seu melhor aspecto, repetindo seu bordão: me dá um real aí!... me dá um real aí!... Conversei um pouco com ele, repetindo meu gosto por vê-lo melhor. Perguntei onde estava. Disse que em Goiânia. O que foi fazer lá? Sou de lá. Minha família mora lá e briga muito comigo. Observei que não deveria ser muito difícil para a família brigar com ele. Sorriu. Desejei-lhe felicidade, metendo-me a conselheiro: depende só de você! Recebi um "vai com Deus" e, saindo, pude ouvir o bordão:

Me dá um real aí... me dá um real aí...