Meu colega Barbosa detestava acordar cedo. Mas não escapava de enfrentar o corneteiro com seu
toque de alvorada, às cinco e meia da matina. Afinal, um cadete tem de levantar cedo.
Havia, à época, uma figura esdrúxula - o ordenança - que era um soldado que servia pessoalmente a um oficial (normalmente do posto de capitão ou acima), até mesmo em residência. Prestava-se, pois, a várias espécies de serviço (manter limpas as botas, o cavalo bem tratado e escovado - o Barbosa era cavalariano de origem - a espada brilhando e outros que tais). Os "que tais" ficavam sempre por conta do oficial beneficiário do instituto.
Pois não é que o Barbosa, um mero cadete, sonhava com o posto de capitão e, mais ainda, com um ordenança. E bradava, muitas das vezes em que o toque de alvorada o tirava, violentamente, dos braços de Morfeu:
- Quando eu for capitão, terei um ordenança e será corneteiro! Vai ter uma única missão: todos os dias, às cinco e meia da manhã, chegará à minha janela e dará o toque de alvorada. Levantar-me-ei (o Barbosa falava como um clássico que era), abrirei a janela e gritarei: corneteiro efedapê, vai tocar alvorada na pequepê! E enfia essa corneta no...! Depois, fecharei a janela e, placidamente, voltarei ao leito.
Imagem: Miguel Hernandez
https://www.miguelhernandez.com.br/product-page/corneteiro
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