Tivera notícia de Elifas Andreato apenas por um episódio que acho muito interessante da vida de Adoniran Barbosa, ao qual me referi aqui no cadikim: http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2012/02/elifas-eu-sou-esse-palhaco-triste-aqui.html.
Há duas semanas, em Brasília, papeando com minha filha Raïssa, chamou-me para ver a exposição de Elifas, no Museu Nacional dos Correios. Saí de lá maravilhado com a obra do artista, de muita sensibilidade e muita força. Transcrevo o texto "Quando a história chama", de João Rocha Rodrigues, Curador da Mostra, que, como o Convite, integra o álbum que foi distribuído a visitantes:
"É praticamente impossível contar a história do País sem ilustrá-la com a obra de Elifas Andreato. O arco que forma a trajetória do artista acompanha de perto os contornos da história do Brasil nos últimos 50 anos.
Quando a luta contra a ditadura chamou, Elifas abriu mão da estabilidade e do alto salário na Editora Abril para dedicar-se à imprensa alternativa, pintou Vladimir Herzog assassinado, desenhou a caveira de quepe do Livro Negro da Ditadura Militar.
Quando os palcos chamaram, pôs-se ao lado dos grandes atores e diretores de seu tempo para criar cenários e cartazes que, além de representar a obra encenada, colocavam pedras no caminho dos dirigentes de coturno. É o caso do cartaz de Mortos sem Sepultura, de Sartre, no qual Elifas insistiu em desenhar um sujeito pendurado num pau de arara. 'Isso não tem nada a ver com a ocupação nazista na França', bradou o policial que apreendeu os cartazes. 'Pau de arara é coisa nossa.'
Quando a música chamou, emprestou seus traços para embalar obras que sempre considerou maiores que as suas. Abriu fronteiras inexploradas, a tal ponto de imprimir seu nome nas capas - e, por vezes, até invadir com as próprias mãos os discos, como em Martinho da Vida, de Martinho da Vila.
Quando os tempos políticos clarearam, lá estava ele em meio aos comícios das Diretas, desenhando cartazes de alerta contra o avanço da aids, envolvendo-se em temas como direitos das crianças, a luta das mulheres e preconceito racial.
Mais tarde, enveredou por empreitadas editoriais e exposições históricas, frutos de sua crença na reafirmação de nossa identidade a partir da rica produção cultural brasileira. Aposta que logo ganharia reforço em seu precioso Almanaque Brasil, que mês a mês trazia como epígrafe a frase de Câmara Cascudo - depois emprestada pelo governo Lula - de que o melhor do Brasil é o brasileiro.
Esta exposição, que celebra os 50 anos de carreira de Elifas, pretende acompanhar um pouco dessa trajetória, tão rica, diversa e cheia de histórias quanto um almanaque. E ainda em franco desenvolvimento."
Pretendo reproduzir algumas poucas das obras de Elifas, em dias diferentes, como amostra. Mas o que pode vir a ser o máximo é ir ao Museu Correios e ver, de corpo presente. Maravilha!
Ainda há tempo! A exposição, que achei encantadora, estará aberta até o dia 3 de abril, no Museu Correios, em Brasília, no Setor Comercial Sul, Quadra 04, Bloco A, 356. Tel.: (61)3213-5076.
O álbum distribuído é de máximo bom gosto. Cadikim mostra a capa e a contra-capa.
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