Adoniran
Barbosa é meu ídolo! Simplesmente, o compositor brasileiro de quem mais gosto. Não
digo que seja melhor, nem pior. Como a Cavalaria – que não é melhor nem pior,
é diferente. Questão de empatia. Estou quase certo de que vejo um Adoniran
diferente de todos os demais compositores e até de como alguns de seus analistas vêem-no.
Estou
terminando a leitura de um livro que esquadrinha não só a vida de Adoniran
Barbosa, mas da própria São Paulo, do seu rádio, de sua televisão desde
pequenininha, nas artes em geral (vide sobre arte gráfica, no texto entre aspas).
Vale citar o episódio que deu origem à expressão aí de cima.
“Nesse ínterim, Elifas Andreato, já consagrado como
ilustrador e capista de alguns dos monstros sagrados da música popular
brasileira – deixara sua marca em LPs de Paulinho da Viola, Martinho da Vila,
Toquinho e Vinicius de Moraes, entre outros – preparava seu projeto para o
álbum do autor de ‘Trem das Onze’. O artista gráfico teve a idéia de reproduzir
na capa do disco uma placa comemorativa, usando relevo seco sobre papel
laminado para obter o efeito das placas de metal comumente entregues em
solenidades e ocasiões especiais. Para o encarte, Elifas elaborou um desenho em
que Adoniran era retratado como um palhaço lacrimejante. Em seguida, levou a
arte para Roberto Augusto, então diretor da Odeon, que, ao olhar a obra,
ponderou: ‘Está lindo, mas você acha que ele vai entender esse negócio de
palhaço?’. Em uma segunda análise, Elifas pensou que realmente Adoniran pudesse
se ofender com a imagem. E preparou um outro desenho, de um Adoniran sóbrio,
com a clássica imagem do chapéu e gravata borboleta. Mandou emoldurar o desenho
antigo e entregou-o de presente a Fernando Faro(2), que pendurou o quadro em seu escritório.
Depois de alguns meses, uma ligação do produtor chegava ao estúdio do
ilustrador: ‘Baixo(3) , tem alguém querendo falar com você aqui’.
Era Adoniran, que, de frente para a arte rejeitada, pegou o aparelho e
sentenciou: ‘Elifas, eu sou esse palhaço triste aqui, e não o alemão que você
pôs na capa do disco’. Do outro lado da linha, o desenhista corou. ‘Nunca senti
tanta vergonha. Artista não dá pra subestimar. Subestimar artista é uma merda’.”.
(1) Celso
Campos Jr., autor de “ADONIRAN uma biografia”, Editora Globo, 2ª edição, 2009,
pág. 524.
(2) Produtor
do terceiro álbum pessoal de Adoniran Barbosa.
(3) Segundo
o autor, Fernando Faro tinha o apelido de “Baixo”, que era o vocativo que ele
mesmo usava quando se dirigia a qualquer pessoa. No caso, dirigia-se a Elifas
Andreato, o ilustrador.
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