29 de fev. de 2012

QUANDO A GLOBO QUER (DURA LEX, SED LATEX).

Estava ouvindo, hoje, pela manhã, o André Rezeck, no Redação Sportv. Falava da lei da copa. Quando abordou a liberação de cerveja nos estádios, argumentou que acha impróprio levar tão longe certas coisas, como no caso de considerar a liberação de bebidas uma questão de soberania. Acha que não é para tanto.
Pretendo respeitar opiniões. Mas acho pouco provável que o André Reseck tivesse pensado sobre alguns conceitos de soberania, antes de emitir sua opinião. Tanto que, antes de continuar, fui procurar conceitos, para refrescar a memória. "Entende-se por soberania a qualidade máxima de poder social através da qual as normas e decisões elaboradas pelo Estado prevalecem sobre as normas e decisões emanadas de grupos sociais intermediários, tais como: a família; a escola; a empresa; a igreja, etc.". Vai por aí. "No âmbito externo, a soberania traduz, por sua vez, a idéia de igualdade de todos os Estados na comunidade internacional". "Jean-Jacques Rousseau transfere o conceito de soberania da pessoa do governante para todo o povo (corpo político ou sociedade de cidadãos). A soberania é inalienável e indivisível e deve ser exercida pela vontade geral (soberania popular)". "A partir do século XIX foi elaborado um conceito jurídico de soberania, segundo o qual esta não pertence a nenhuma autoridade particular, mas ao Estado enquanto pessoa jurídica. A noção jurídica de soberania orienta as relações entre Estados e enfatiza a necessidade de legitimação do poder político pela lei". Os destaques são meus. A fonte é a Wikipédia. Nem vou querer discutir a qualidade da enciclopédia eletrônica. Se forem buscar outras fontes, encontrarão coisa semelhante.
Pode ser que o André Rezeck tenha razão, se tomar apenas alguns excertos. Por exemplo: "A soberania é inalienável e indivisível e deve ser exercida pela vontade geral (soberania popular)". Perguntem à maioria dos cidadãos se querem cerveja nos estádios de futebol. Certamente, a resposta será sim. Então, autorizar a venda de cerveja nos estádios atende ao exercício da soberania popular. Mesmo sabendo-se que se trata de uma imposição da FIFA (que nem é Estado, mas dá uma de, impondo condições, a seu talante, para situar a copa do mundo em um ou em outro país, sempre de olho em seu patrocinador universal).
Mas tudo tem um nó. Será que, após a copa do mundo, a tal de soberania popular reinará, para manter a autorização para venda de cerveja nos estádios? Se fizerem isto, aí, sim. O povão estará exercendo sua soberania, mesmo que haja contra indicação de bebida alcoólica em lugares de grande aglomeração. E outras contra indicações, como dirigir sob efeito de álcool. Será que, em homenagem à FIFA, irão suspender o bafômetro, enquanto durar a farra? Porque haverá desdobramentos, é claro: autorizada a venda de bebidas alcoólicas nos estádios, será brincadeira espalhar bafômetros do lado de fora, ao final do jogo.
Só falta alguém vir dizer que futebol é momento e que o momento copa do mundo é momento de liberar cerveja. Momentos de campeonatos estaduais, brasileiros e continentais, não.
Não por acaso (creio), no Globo Esporte, à hora do almoço, quando a emissora abordou o jogo Brasil x Bósnia, abriu a abordagem com uma tomada no estádio, mostrando várias pessoas empunhando copos com cerveja.
Caiu a ficha: não sei por que, mas a Globo quer cerveja nos estádios. Teremos cerveja, com certeza!

Imagem: Blog Thiago Rodrigues.
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