Os relatos são muito vivos, assim como outros capítulos.
Destaquei, para o cadikim, um relato paralelo sobre portadores da síndrome de Down, objeto maior da emoção que senti.
Diz o autor do livro que trabalhou na Imprensa Oficial, sendo seu diretor o Dr. Paulo Campos Guimarães.
Transcrevo excerto do escrito de Libério Neves:
"Quando trabalhei na Imprensa Oficial era seu diretor o Dr. Paulo Campos Guimarães. Pai de um jovem com síndrome de Down, ele criara na Imprensa uma sessão das oficinas toda formada por funcionários com tal deficiência e, salvo engano, dirigida por seu próprio filho. § Na hora do lanche, eles se espalhavam pelos diversos setores afora, numa visita cordial e cotidiana aos outros funcionários distribuídos pela casa. Meu lugar ficava na sala do Suplemento Literário, então dirigido pelo amigo pessoal e modelar contista Murilo Rubião. § Todos nós os recebíamos com uma especial atenção, depois eles voltavam para o trabalho, não sem antes beijarem os rostos das funcionárias ali; disso, eles faziam questão. § Tal imagem de simpatia, tão repetida neles, parecidos uns com os outros, é marcado pelas dobras no canto interno dos olhos (os epicantos); e vim a perceber como característica de alma, nessas pessoas, a pureza, ao transitar com tantos, nos ônibus que fazem a linha de Santa Teresa. § Cheguei a pensar que o mundo bem podia ser governado por pessoas mansas assim, e por elas escrevi este poema. Não tenho como deixá-lo de fora, se as vejo cotidianamente, em meu ir e vir, do Bairro e para o Bairro.
OS ANJOS CISMADORES
Pequeno canto aos quantos
herdeiros de Epicanto.
Mansos filhos de Deus
feitos em alma e olhos,
frutos postos no mundo
por um destino igual.
Não como tenho os meus,
olham com os seus olhos
puros por este mundo
longe de todo mal.
Vivem assim talvez
no Olimpo entre as crianças
sem grito ou desencanto
nem maldosas heranças.
Tão dóceis, e sendo dez
ou mil ao nosso alcance
ao rés do chão, voam
ó anjos na distância.
Busco alcançar no amor
o véu das suas mentes,
contudo são do Céu
- felizes eternamente."
A inserção de pessoas portadoras da síndrome de Down, em atividades laborais, já fora objeto dos cuidados do Dr. Paulo Campos Guimarães, há em torno de quarenta anos, pelo menos (o Dr. Paulo faleceu em 1980). Fundador da APAE em Minas Gerais, o Dr. Paulo antecipou-se - e muito - nos conceitos sobre portadores da síndrome.
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