PEDIDOS DE DESCULPAS
Meu ponto de vista sobre pedidos de desculpas: se a gente fez determinada coisa sem intenção de ofender não precisa de pedir desculpas; se fez para ofender, ou correndo o risco de ofender, não adianta.
É claro que o Sr. Paulo Guedes é o motivo deste escrito.
Já tinha duas pinimbas com o Sr. Paulo Guedes. A primeira foi quando comentou que a folha de pagamento de pessoal é muito alta e mencionou propostas, em andamento, de redução de jornada de trabalho para funcionários públicos, com redução dos vencimentos. Segundo o "Estado de Minas" (https://www.em.com.br/app/noticia/economia/2020/01/22/internas_economia,1116049/paulo-guedes-pretende-congelar-salario-do-funcionalismo.shtml), o Sr. Paulo Guedes declarou em Davos: "atacamos a Previdência, atacamos os pagamentos de juros da dívida pública e, agora, vamos atacar a folha de pagamentos".
Minha segunda pinimba surgiu quando o Sr. Paulo Guedes falou sobre a reforma da previdência (comentário de memória) e, falando sobre prováveis efeitos, disse que, dentro de alguns anos, se a coisa melhorar, poderá ser melhorada alguma coisa, como "solidariedade".
Quando à pinimba que o Sr. Paulo Guedes tem com o custo dos funcionários públicos, penso que talvez o Sr. Paulo Guedes não leve na devida conta que, teoricamente pelo menos, o cidadão paga impostos para que o Estado lhe preste serviços de qualidade (vide Código de Defesas do Consumidor, art. 6º, X); e que esses serviços são prestados essencialmente por pessoas: médicos, enfermeiros, dentistas, professores, policiais de toda ordem, burocratas de cada uma dessas atividades, pessoal de limpeza e higiene, lixeiros...
Não estudei Economia. Vivo economia - e como vivo! Atravessei vários planos econômicos - todos prometendo muito, todos frustrados - ora com pendências judiciais depois de mais de vinte anos e depois de muitos demandantes terem morrido. Confio muito pouco nas soluções governamentais e, a cada momento, temo estar ainda na "terra dos Mágicos de Ohs!" (http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com/2017/07/na-terra-dos-magicos-de-ohs.html). Leio alhures referências de que a participação das despesas com pessoal não são aquelas enormes divulgadas. Sei que não é informação oficial, mas sei também que, em geral, os governos exageram (leia-se: mentem) muito sobre coisas que antes eram "segredo de estado" e que hoje devem ser divulgadas. De qualquer forma, se a maior participação nos serviços prestados pelo Estado é de pessoas, parece-me corolário que a maior participação nos gastos do Estado é das despesas com pessoal.
No que diz respeito à minha segunda pinimba, meu sentir é de que não devemos estar dependentes de "solidariedade" do governo. Devemos querer é gestão do Estado, no sentido de satisfazer adequadamente as necessidades da Nação, daquelas que dependam de prestação governamental. Se consigo entender a teoria, o Estado não passa de ferramenta para otimizar o status da Nação. Penso que, em uma Nação rica (seja essa riqueza representada por saúde, educação, moradia, segurança, etc., ou por moeda sonante), não poderemos entender o Estado como rico, mas como detentor de poder financeiro - advindo dos impostos pagos pela Nação - para exercer as atividades que lhe são cometidas pela Constituição.
Não sei se este é o sentir do Sr. Paulo Guedes. Estou apenas fazendo registro do meu. Não o havia expressado antes da fatídica declaração porque poderia parecer petulância minha (ou, verdadeiramente, é).
Mas taxar os servidores públicos de parasitas foi "demais pros meus sentimentos, tá sabendo?" (Chico Anysio). Não sei em que sentido o Sr. Paulo Guedes empregou a palavra. Não sei se estava relacionando com o filme "Parasita". Aquelas pessoas não são apenas parasitas. Antes que tudo, são marginais, vigaristas, desonestas. Tanto quanto uma leva considerável de detentores de cargos públicos, sem trabalhar ou trabalhando para detentores de outros cargos (um deputado falou abertamente que "todo mundo tem"), os quais também são desonestos; tanto quanto uma pessoa que esconde cinquenta e um milhões de reais em um apartamento; tanto quanto pessoas de várias origens - politicamente partidárias e empresariais, da área econômica (de onde o senhor veio) - as quais se envolveram em corrupção de altíssimo nível... Vamos falar delas, Sr. Paulo? Ora direis: nada tenho com isso! Terá, sim, se considerar que uma das causas do empobrecimento da Nação foi aquilo que a imprensa - e até o Judiciário - chamam de roubalheira.
Data venia, Sr. Paulo Guedes, o senhor não pode situar a causa do nosso empobrecimento só nos velhinhos aposentados - que teimam em continuar vivos - e nos funcionários públicos. Penso que há mais aonde mexer.
PS 1 - Desconsidero o pedido de desculpas do Sr. Paulo Guedes, porque não sei, nem nunca irei saber, se o Sr. Paulo Guedes mudou de ideia sobre o parasitismo dos funcionários públicos. Só sei que pediu desculpas.
PS 2 - Estranho que não haja qualquer proposta para extinguir cargos de livre nomeação (eufemismo de "sem concurso"). Arranje-me um emprego para ganhar "x" em Brasília ou alhures e estarei disposto a dividir o meu e a carregar água na peneira para quem me nomeia (se não, perco o emprego). Uma boa parte das desonestidades que estão rolando pela imprensa têm ligação direta com "cargos de livre nomeação".
PS 3 - Quanto a referências do Sr. Paulo Guedes às vilegiaturas de empregadas domésticas na Disney, acho que está caçando chifre em cabeça de cavalo.
Imagem: medium.com
https://medium.com/@marcelo.m4web/chifre-em-cabe%C3%A7a-de-cavalo-a789a1920a04
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