18 de fev. de 2020

NÃO CONSEGUI ME VER NAQUELE AMBIENTE FÍSICO. ERA PURA FICÇÃO!

Deve ser porque estou bastante velho. Hoje, pela manhã, assisti, consternado, a uma cena que achei mais violenta do que todas as notícias dos últimos quinze dias, e mais patética do que o bêbado do Bar Independência (http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com/2012/02/o-bebado-do-bar-independencia.html). O ambiente parecia-me seleto: palácio em Brasília, carrões brilhando, entourage, o céu lindo da capital federal, repórteres... Sem que nem pra que, vejo e ouço o Presidente da República referir-se a uma jornalista (ausente) de forma absolutamente desrespeitosa, usando uma expressão obcena, pretensa e infamemente disfarçada de trocadilho, uma fingida e contida meia gargalhada. O entourage ria, uns poucos acompanhando a gargalhada.
Dono de um botecoEstupefato, percebi que todo aquele ambiente era pura ficção. O que a tela da tv passou a mostrar-me era um boteco de copo sujo, baixíssimo astral, escuro a esconder manchas de vômito no assoalho, na rua um carrinho, quase desmanchando, onde alguém assava churrasquinhos, bêbados emborcando a "última", e um senhor mal vestido, cabelos desalinhados e barba por fazer, roupa amarfanhada, parecendo contrariado, mas bancando o engraçado, falando impropérios. Os circunstantes, igualmente desalinhados, um com camisa molhada da cachaça que deixara escorrer da boca, outro com a calça suja de molho de tomate, divertiam-se e riam.
Bebi o último gole da cachaça vagabunda que me tocara, engoli aquele pedaço de linguiça fria e gordurenta, e fui embora dormir.

Imagem: Papo de Bar.
https://www.papodebar.com/em-defesa-dos-botecos/

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