4 de abr. de 2020

GRAVIDEZ PSICOLÓGICA




Algumas pombinhas urbanas (acho que o Paulim tem razão; são rolinhas) resolveram chocar no muro que separa nosso prédio de um grande prédio novo, este com elementos de segurançal no muro.
Uma lástima! Nunca fui pombinha ou rolinha mas achei a escolha péssima. Tirando o rolo de arame farpado, bem feito e que parece garantir a segurança do ninho, contra ataques alados de bem-te-vis, principalmente, não gostei do que vi: cobrindo o topo do muro, uma placa de metal, parecendo alumínio. Deve esquentar muito! Além disto, o ninho, feito com gravetos, deixa um espaço no centro, em que o contato dos ovos é imediato com a placa.

A pombinha (permita-me, Paulim, chamá-la de pombinha) nem aí para o que penso, o que acho até coerene. Botou os ovinhos, dois, e lançou-se à aventura de chocá-los. Nem sempre presente, saía para dar umas voltas e os ovinhos ficavam sujeitos às intempéries, sol e chuva, esta um tanto insistente, as tais águas de março. Resultado, os gravetos ficaram molhados e assim permaneceram por vários dias. Um ovinho acabou lançado fora e ficou sobre a placa do muro. O outro abriu-se para mostrar a vida a um filhote, que ficou algum tempo protegido pelo corpo da mãe, ou do pai, não sei se se revezavam. Seguiu assim até que o filhote foi ficando mais tempo sozinho, muito molhado e acabou não resistindo. A pombinha lançou-se ao mundo e deixou lá o cadáver do filhote.
Pois bom (como dizia Pantaleão). O sol ficou mais frequente e uma outra pombinha assumiu o ninho, encontrando-o sem o filhote morto. Pôs os ovinhos, chocou-os, também sem ser muito frequente. Parece que deram em nada e ela se mandou.
Uma terceira pombinha (pareceu-nos muito jovem) ocupou o mesmo ninho. Não sei se botou ovinhos, porque não os vi. A pombinha, muito da caxiona, não arredava asas. E
ficou ali um bom tempo, sem sair e sem mostrar ovinhos. Foi quando falei para minha mulher, médica ginecologista, que a pombinha estava com gravidez psicológica. "Cê tá doido? Onde já se viu gravidez psicológica?"
Não vi, mas tenho notícia antiga, com credibilidade. No primeiro ou segundo ano do Curso de Formação de Oficiais - CF0 - da PMMG, 1959 - 1962, nossa turma foi, em visita programada, à Penitenciária Agrícola de Neves. E toma ouvir exposições sobre o que era, como funcionava, o que produzia (era agrícola), sobre as características dos detentos e das detentas. Foi quando um dos encarregados das exposições disse que havia uma detenta que tivera, várias vezes, gravidez psicológica. "Engravidava", "tinha enjôos", "fazia enxoval", "embarrigava" (adaptações progressivas para simular barriga crescendo),... tudo direitim, como convém a uma detenta mineira. No final, "trabalho de parto" e "parto". Foi levando assim, a direção da Penitenciária aceitando a pantomima, provavelmente achando que ficava mais fácil lidar com a detenta. Vários "partos", várias "crias" devidamente encaminhadas a quem se dispusesse a cuidar delas... até o dia em que o filho que a detenta estava esperando era filho do Diretor da Penitenciária...

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