8 de dez. de 2013

MEIO INGRESSO: PENITÊNCIA COM JOELHOS ALHEIOS

Leio, na Folha de São Paulo (5/12/2013, cotidiano C5), que o Senado aprova limite à meia-entrada sem incluir idoso. Diz que "Medida irrita produtores culturais, favoráveis à cota de 40% sobre a venda do benefício para todos os grupos". Acrescenta: "Com a mudança, os produtores dizem que não reduzirão os preços dos ingressos. 'Hoje, 90% da nossa bilheteria é comprometida com meia-entrada. Os idosos representam 80% desse total. O governo não cumpriu o acordo. Com essa regra de meia-entrada, os ingressos não serão barateados', afirmou Eduardo Barata, presidente da Associação dos Produtores de Teatro no Rio'."
Tenho pensado, há muito tempo, sobre a questão da gratuidade, ou meios-ingressos, por determinação governamental. Vamos da gratuidade judiciária até 
até os meios-ingressos para idosos e estudantes.
Exemplos: até algum tempo atrás, os serviços cartoriais, incluindo judiciais, eram particulares. Benesses do governo para amigos dos governantes. Assim, os cartórios judiciais estavam obrigados a não cobrar custas daqueles que litigassem "ao pálio da Justiça Gratuita". É óbvio que alguém pagava. Só que não era o governo. Resultava que os que não eram beneficiários da Justiça Gratuita acabavam pagando mais do que lhes devia ter sido ser cobrado.
Vamos direto aos meios-ingressos. Por que é que o governo pode impor a trabalhadores agentes culturais o ônus de receber menos de pessoas que o governo determina? Por que é, então, que o governo não garante "meio-honorário" para médicos, advogados, dentistas, engenheiros - enfim, todos aqueles que recebem honorários pela prestação de seus serviços? E porque não garante "meio-um quilo de carne", para idosos e estudantes? "meia-refeição" e outros "meios" ou "meias"?
Quererá o governo que alguns agentes culturais usem desvios, para garantir um resultado financeiro capaz de satisfazê-los? Como, por exemplo, estabelecer um preço "2x" para ingresso inteiro e "x" para meio-ingresso, mas aditando que quem levar um quilo de alimento paga meio ingresso, cujo valor é o satisfatório. Ou vender lotes por preços diferentes. 

Será que a sociedade - o governo incluído, óbvio - acha que os agentes culturais são os que mais exploram o povo? Pode ser, já que penso ter La Fontaine, com a fábula "A Cigarra e a Formiga" incrustado no imaginário popular que a Formiga é a "trabalhadora" e a Cigarra a "vagabunda" (a quem interessar: "Bando de Vagabundos" - http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2012/08/bando-de-vagabundos.html), estigmatizando tudo que é artista.
Pensarão os governantes que a "permissão" para o exercício de atividades culturais é um grande favor que fazem aos artistas?
Parece-me que o governo quer fazer parecer que o desenvolvimento cultural do cidadão deve ser creditado a ele - governo - e pago pelos artistas e agentes culturais.
O governo quer apoiar a Cultura? Tem de pagar, então, uai! Como?
A Cigarra bate à porta da formiga, no invernoPagando aos produtores culturais a diferença dos meios-ingressos para ingressos inteiros. Mas pagando na boca do caixa, ou até antecipadamente, no limite percentual dos lugares em platéia, que estabelecer. Ou, então, só exigindo um percentual obrigatório de meios-ingressos quando o evento estiver sendo financiado pela Lei Rouanet. Se acha que deve intervir na atividade econômica cultural, há que financiar essa intervenção.


Imagem 1: Centro de Estudos Aprenderhttp://aprendercentrodeestudos.blogspot.com.br/2012/05/conto-cigarra-e-formiga.html
Imagem 2: Peregrinacultural's.
http://peregrinacultural.wordpress.com/2009/07/06/a-cigarra-e-a-formiga-em-versos-por-bocage/

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