1 de jan. de 2014

UM VÔO POR UM FIO DE CABELO




Parlamentar reincidente
Que um senado negligente
Aceita compartilhar
Cadeiras de “homens sérios”,
Sem revelar os mistérios
De uma atitude abusada,
Agora reiterada
- será apenas uma a mais?:
Voar nas asas da FAB,
Já sabendo que não cabe
No rol das coisas legais?


Afirma que pagou uma
E a outra paga também.
Faz-me pensar que é do bem
Fretar avião oficial,
Desde que pague depois.
Ora pois! Então, requeiro
Que a máxima autoridade
- em gesto de equidade -
Autorize, imediatamente,
Este mero cidadão,
Não mais que reles mortal,
Que a Carta diz ser igual,
Livre de discriminação,
- o que me deixa fagueiro -
A voar, por um momento,
Em viagem, sem deslize,
Naquele mesmo avião,
Podendo levar amigos
E roda de malandragem,
Com direito a choro e samba,
Só alegria de bamba,
Pelos céus deste Brasil.
Pagarei cada centil
Sem me importar com o preço
Acho, mesmo, que mereço
Ter mordomia igual
A qualquer cara de pau,
Que – argumento ardiloso –
De por alto cargo exercer,
Se ache mais poderoso
Do que o próprio poder.


Diz a nota que o motivo
Foi de ordem capilar:
Milhares de novos fios
Pra disfarçar a calvície.
Que, ao povo, em sua estultice,
Vale mais, em eleição,
Mostrar belo corpo são,
Pois não comporta disfarce
O que vai dentro da face.
Assim – vale lembrar –
No correr desses dez meses
Que antecedem novo pleito,
Prazo em que se operará
A magia capilar,
O que se mostra sempre torto
Há de parecer direito.


É bom a gente lembrar
De que Gepetto, em Pinocchio,
Implantou pelos humanos
Sobre a careca de pau.
Mais tarde, a fada madrinha
Prometeu, diante do berço,
Que Pinocchio poderia
Ganhar bela forma humana
Ter cérebro e até coração,
Se um dia qualquer cuidasse
De praticar boa ação.
Quem sabe – é só fantasia –
O senador conseguiria
Ganhar todo esse apanágio,
Cumprindo da fada o presságio,
De se tornar ser pensante,
Pulsante, ético e humano,
Com cérebro e coração,
Se, até com sacrifício,
Conseguisse o milagre,
- mesmo um cabeça de bagre,
De praticar boa ação.



Ora pois! Fingindo inocente,
Perguntou ao Comandante,
Se o vôo foi coerente
Com a norma pertinente.
Comandante franze a testa
Pensando: “pensa nós besta”?
Se acha que a coisa está preta,
Não me inclua na mutreta.
Pergunte pra Presidente!
E, se ela não quiser prosa,
Pergunte ao Joaquim Barbosa
Que, sempre do início ao fim,
Explicará, certamente,
- e mui delicadamente -
Tudo tim-tim por tim-tim.


Pra que incomodar o Ministro,
Se o objetivo sinistro
É por em forno bem quente
Tudo quanto é ingrediente:
Manjericão, alecrim, manjerona,
Calabresa, presunto, azeitona,
Sabores de queijos diversos,
Sobre a massa, bem sovada
- sempre a base do banquete -
Que elege, em quatriênios,
Parlamentares perversos?


Foto: Baixaki.

2 comentários:

Zé Caixeta disse...

Muito pertinente e atual. Aúltima foi uma viagem "repentina" para os EUA levando o foragido Olavo de Carvalho.

marco antônio comini christófaro disse...

Sabia dessa última aí não, Zé Caixeta. Mas esse negócio de uso de avião oficial envolve muito descuido. Lembre-se de que tem um caso de prisão no exterior por transporte de droga, um trem que ainda tá entalado. Penso que precisasmos de seriedade,no geral. Obrigado pelo comentário.