Não sei por que cargas dágua fui achar confusão na internet. Procurava pelo nome de uma pessoa e encontrei um jornal - O IMPARCIAL - de janeiro de 1921. Vi esquisitices que parecem atuais. Uma delas fala de "balbúrdia", no Congresso ("CONSEQUENCIAS DA BALBURDIA - O FEITIÇO CONTRA O FEITICEIRO - O Congresso não tem ajuda de custo!"; outra, no corpo da matéria, fala da "necessidade de uniformisar o mais possível os methodos para a diffusão do ensino primário", e da convocação de um Congresso para isso (na chamada, "Um congresso de ensino primário"); uma outra trata de ter sido "adoptado", na Escola Normal, um "Compendio de Hygiene (isso mesmo: quem tiver a paciência e o interesse para ler irá deliciar-se com a "ortographia" da época). Com a recomendação expressa, em subtítulo, de que "Não deve ser lido por moças de família" (poderiam ficar sujinhas?). Ah! Não falta um esclarecimento (tratava-se, evidentemente, de matéria que ainda carece de esclarecimento). Está lá, em letras graúdas, para todo mundo ler: "FISCALIZAÇÃO DOS BANCOS". Arremata, em subtítulo, em negrito: "Os trabalhos da commissão que estuda o assumpto".
Acabei aventurando-me em outras páginas do jornal (são 10) e vi coisas interessantes. Curiosos que, como eu estou agora, estiverem de leréia, poderão encontrar coisas curiosas e casarem-se com elas. Vamos lá:
Na página 4, sob a epígrafe (parece coisa da antiga mas não é) TRIBUNAL DE CONTAS: "Em sessão de hontem, das Camaras Reunidas, o Tribunal de Contas ordenou o registro dos creditos, no total de 1.738:500$, para pagamentos das despezas com a. prorrogação da sessão legislativa até 31 de dezembro ultimo;". Cáspite! Não é que os nossos legisladores deveriam mesmo receber essa grana por causa da prorrogação de seu empenho em prol da Nação?
Tem mais, gente! Passando os olhos, aleatoriamente, encontrei, na página 7, em uma seção de "TURF": "Voltou a mancar ante-hontem em São Paulo, o cavallo Descrente".
Não poderia furtar-se a uma página esportiva - referida 7 - a propaganda de um tônico poderoso - "FERRO NUXADO - Produz Forças e Virilidade" (penso que um precursor do Viagra). Uma pérola de publicidade! Só acho que não seria bem recebida hoje, por causa da chamada: "LEIAM OS NERVOSOS". Irritadiço que lesse essa chamada, nos dias hodiernos (não me posso afastar muito no tempo) reagiria, certamente: "Quem que é nervoso aqui!? Estou calmo! Não vou ler essa porcaria!". Certamente, perderia grande oportunidade de informar-se sobre os males que assolam as "victimas" das "affecções" nervosas, sujeitas a "verdadeiras torturas".
Foi útil ter chegado à página 10. Uma espécie de consolo: mazelas antigas são muito difíceis de serem erradicadas. Está lá, chamada em negrito: "A inspecção da Caixa de Pensões da Imprensa Nacional, torna-se necessaria". No corpo da matéria, a notícia de que "Esteve hontem no Ministerio da Fazenda uma numerosa commissão de funccionarios da Imprensa Nacional, composta dos Srs...." (cita montão de nomes, ainda acrescentando "varios outros", numerosa mesmo). O que se segue é absolutamente moderno, em 1921. Não resisto e transcrevo:
"Essa commissão, em vista do proposito do Sr. Alvaro Gutterrez, recusando-se a permitir que a commissão nomeada pelo Sr. ministro da Fazenda procedesse a uma inspecção na Caixa de Pensões, da Fazenda Nacional sob o fundamento da mesma ser autonoma, pediu ao Sr. ministro mantenha a sua resolução de ser inspeccionada a referida Caixa visto serem innumeras as irregularidades ali verificadas, não procedendo a allegação de ser a mesma autonoma, á vista do art. 45 do respectivo regulamento que torna o ministro da Fazenda fiscal supremo da Caixa".
Meu Deus! Pelo menos, havia uma coerência nisso tudo aí: lendo "ministro" com minúscula e "Fazenda" com maiúscula, quero entender que achavam a Fazenda mais importante do que o ministro. Já poderá ser alguma coisa atualizarem isto.
Ora direis: não tem mais que fazer?
Respondo-lhes: não! Nada irá mudar.
Algum curioso que queira ler o jornal, poderá encontrar (pdf) em
http://memoria.bn.br/pdf/107670/per107670_1921_01732.pdf
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