Assisti a alguns comentários sobre a decisão do Tite, de colocar em campo, contra
Camarões, os jogadores reservas. Por definição, reserva é um jogador que está em condições de substituir outro, seja desde o início, seja durante o jogo (vide "Não vi em 1962" - https://cadikimdicadacoisa.blogspot.com/2022/11/nao-vi-em-1962.html). Pode ser por contusão, por conveniência técnica alternativa... montão de coisas. Em qualquer caso, o treinador deve ter uma motivação.
No caso da decisão, logo após a classificação, não foi seguida de explicações de motivos, dadas pelo Tite. Pode ser que o treinador tenha explicitado sua motivação, e que eu não tenha visto. Vi comentários apenas sobre a possibilidade de descansar os titulares, em face do pequeno tempo entre o terceiro jogo da fase de grupos e o primeiro jogo da seleção brasileira na fase eliminatória. Penso que se tratava de suposições de comentaristas. Adoram quando acertam sobre hipótese não explicitada. Não custa correr o risco de não acertar.
Costumo orientar meus raciocínios por um conceito que colhi em Depak Chopra: "O não revelado é o campo de todas as possibilidades". Posso dar asas à imaginação, buscando alternativas motivacionais, à minha vontade. Segui também o ensinamento de um antigo professor de matemática, que, quando demonstrava um teorema, fazia-o por dois modos, assinalando: "podemos fazer de outra maneira? sim, podemos fazer de outra maneira".
No momento em que vi a notícia da entronização do time reserva no jogo seguinte ao Brasil x Suíssa, interiormente não concordei. Sem elaborar mentalmente qualquer critério. Comecei a alinhar alternativas admissíveis.
Primeiro, imaginei que poderia ser mera imitação do Didier Deschamps, treinador da seleção francesa que, dois dias antes, com a classificação garantida, declarara que iria poupar os titulares. Achei que fazer por imitação, simplesmente, não seria um critério justificável.
Mas poderia ser para poder observar os reservas em atividade, valendo a classificação com nota máxima, mas correndo o risco de não acontecer. Penso que poderia ser um bom motivo. Afinal, pelo conceito acima, reservas servem para estarem em condições de substituir os titulares.
Buscando alternativa, imaginei que o treinador não conseguirá substituir toda a equipe durante um jogo. Portanto, a experiência não passaria de ver os reservas em atividade e avaliar seu comportamento. Achei pouco.
Logo que vi a notícia, havia pensado que se poderia lançar metade dos reservas com metade dos titulares. Isso possibilitaria ver os comportamentos dos primeiros jogando com os outros. Pensei diferente, depois que elaborei as alternativas acima. O goleiro atuaria durante todo o jogo. Cinco jogadores titulares iriam para o banco e entrariam cinco suplentes; no segundo tempo, entrariam os outros cinco titulares e os cinco reservas. O treinador teria a oportunidade de ter uma antevisão parcial da realidade: reservas jogando junto com titulares, podendo ser avaliados em tal condição. Pensei que poderia ser melhor, mais abrangente.
Mas... tem sempre um "mas": seria conveniente deixar o goleiro sem substituição possível? E se se contundisse ou passasse por um situação impeditiva de serguir? Esse "mas" deveria determinar uma escolha: correr o risco ou deixar um reserva de fora. Teria optado por essa. Prefiro a segurança.
Ah! Quer dizer que se o treinador tivesse pensado por aí a seleção brasileira teria vencido a de Camarões? Nem pensar! Aprendi que quem planeja deve pensar sobre o que aconteceria se fosse tomada determinada decisão. Primeira resposta: nada!
Todo planejamento é a tentativa de antecipação de resultado. Que poderá não acontecer, qualquer que seja decisão.
Nenhum interesse em criticar o treinador. Só um exercício de raciocínio de quem tem tempo demais para pensar besteira e gosta de viagens longas.
Foto: uol.
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