A eletrônica veio para ficar. E pra se intrometer. A princípio saudada com euforia por todos, logo alguns perceberam que essa espécie de tecnologia tinha seus prós e seus contras - como Hitler. Enfiava-se nos jantares sem ser convidada, invadia domicílios como se estes fossem lugares públicos, metia-se embaixo das camas como se fosse um amante surpreendido no ato.
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Mas, no Brasil, temos, como sempre, nosso algo a mais: excedemos. A todos os vícios éticos acrescentamos os nossos defeitos técnicos. Basta falar ao telefone para sermos interferidos por vozes estranhas, importunos de outras cidades e de outros países, uma promiscuidade que Hertz não previu nem aprovaria. Mas, noutro dia, uma vizinha minha conseguiu o que - pensa ela - era um feito extraordinário mesmo para nossos padrões. Pessoa simpática e charmosa, ela falava ao telefone com uma amiga e a conversa desceu - ou subiu, que sei eu? - a certos detalhes que antigamente só eram admissíveis no recesso das alcovas. Quando ela desligou o telefone, este, imediatamente, soou de novo, e uma voz masculina extremamente delicada se apresentou, convidando-a para jantar, no local em que ela escolhesse, quando quisesse - o cara estava encantado com a conversa dela, que tinha acabado de ouvir. E, quando a jovem senhora, contendo a indignação, quis saber como ele tinha ouvido a conversa, ele respondeu: 'Realmente, não sei explicar. É por isso que estou tão fascinado. Só pode ser coisa do destino. Eu estava vendo o jogo Brasil x Uruguai na televisão e, de repente, a sua conversa entrou com absoluta nitidez.'."
04/02/1981
Páginas 117/118.
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