30 de mar. de 2021

VACINA COVID EM PATOS DE MINAS

 Primeira dose no dia 10 de março, segunda no dia 25. No dia 10, fui de carro, fiquei algum tempo na fila, bem organizada, com pessoal da Prefeitura orientando, registrando... Quando cheguei a um ponto onde era possível estacionar no passeio, uma senhorita orientou-me a subir por um acesso, estacionar e descer para vacinar. Foi chegar e ser vacinado.

No dia 25, preferi transporte alternativo. Foi chegar, descer e quase ser "assaltado" para receber a vacina. Pessoas do serviço de vacinação recebiam senhoras idosas nos carros em que estavam e encaminhavam à vacinação. Tudo rápido e fácil

Procurei informar-me sobre a orientação do serviço. Foi-me dito que se tratava de uma parceria da Prefeitura com a Faculdade de Patos de Minas (FPM), da qual alunas do Curso de Enfermagem, devidamente acompanhadas e orientadas, empenhavam-se naquele trabalho.

Tudo bem organizado, sem aglomeração na hora de apresentar-se à agulha, sem dúvida uma organização de tirar o chapéu.

Não foi à toa que consegui uma foto das meninas (ops! um marmanjo lá atrás).




26 de mar. de 2021

CAMINHOS E DESCAMINHOS DO BRASIL: O DIREITO DA FORÇA X A FORÇA DO DIREITO

Faço esta publicação com o objetivo de registro. Poderá acontecer nada ou poderá acontecer tudo. Aguardemos o desenrolar.




Esbarrei, ontem com o compartilhamento, pelo facebook, com uma postagem que vi,
pela primeira vez, não sabendo quem foi o autor. Nessa postagem, o retrato do presidente da república, expressão muito séria, e o texto, em caixa alta:

"QUEREM VER UMA GUERRA CIVIL? TENTEM TIRAR ESSE HOMEM DO PODER". Logo abaixo, em caixa baixa, negrito: "Vamos viralizar § E mostrar nossa força".

Não pude deixar de pensar sobre o assunto. Primeiro pensamento: o presidente autorizou a utilização da sua imagem para ilustrar esse texto? Poderá até ter autorizado genericamente e, se for o caso, arriscou-se. Se não autorizou...
Em seguida, pensei se a mensagem está assinada pelo autor, não tendo visto a referência. 
Passou-me também a pergunta sobre se se trata de um propagandista escoteiro ou de uma divulgação orquestrada. A recomendação para viralizar, a fim de "mostrar a nossa força" indica um mínimo de orquestração.
Passou-me pela cabeça, também, que o presidente possa estar temeroso de que se venha a cogitar seriamente de um processo de impedimento. Coincidência: há dias, quando comemorava seu aniversário, o presidente proclamou, perante apoiadores:

"...enquanto eu for presidente, só Deus me tira daqui!"

Em seu discurso, o presidente referiu-se ao Exército como sendo uma força para o povo (com palavras diferentes). Pareceu-me querer dar a impressão de que garantia que o Exército o apoia.
Poucos dias depois, vem um alerta do presidente da câmara dos deputados:

"Os remédios políticos no Parlamento são conhecidos e são todos amargos. Alguns, fatais. Muitas vezes são aplicados quando a espiral de erros de avaliação se torna uma escala geométrica incontrolável".

Em seguida a esses acontecimentos, aparece uma ameaça (não pode ser chamada de advertência) de mostrar ao povo uma guerra civil, se alguém "...tentar tirar esse homem do poder".

Poderá alguém estranhar a hipótese aqui levantada, de o presidente estar temeroso. Nenhum desdouro. Qualquer ser humano está sujeito a manifestações de medo, ou até pior, quando se sente ameaçado. Observe-se, por oportuno, que o ex-presidente Lula fez um pronunciamento na ABI, no sentido de que o "...o governo Dilma pode contar com a tropa do MST contra as manifestações a favor..." do impedimento da presidente (https://leonardosarmento.jusbrasil.com.br/artigos/169909745/discurso-de-lula-na-abi-assusta-o-exercito-vermelho-pronto-para-apunhalar-o-estado-democratico-de-direito).
Lembro-me de ter ouvido de Lula, em tv, que convocaria o "exército de Stédile" às ruas. Ficou óbvio que aquilo era mais do que medo, era desespero pela probabilidade da perda do poder.
O que se seguiu foi que Dilma saiu do governo e o "exército de Stédile" não foi às ruas.
Mas vamos raciocinar sobre uma guerra civil.
A última experiência, no Brasil, de tomada do poder pela força, foi em 31 de março de 1964. 
Sem falar no que se seguiu, até a "redemocratização", é preciso verificar se quem está falando em "guerra civil" sabe do que se trata. Com relação a 1964, só quem tem mais de 70 anos (classe de 1950, aproximadamente) poderá ter ouvido falar alguma coisa. Os nascidos em 1950 teriam 14 anos. Pode ser que aqueles atualmente com 56 anos de idade entendam nada do que aconteceu. Em 1964 eram bebês. 
Viu-se que o movimento de 1964 foi feito sem derramar uma gota de sangue (o sangue apareceu depois e de modo condenável, por ambos os lados).
Tentemos um paralelo entre o cenário daquele tempo e o atual.
Naquele tempo, os morros do Rio de Janeiro eram românticos redutos do samba, dos grandes compositores, das rodas de partido alto. Não tinham as características atuais de redutos de criminalidade e de milícias. Criminalidade e milícias que acabaram por se espalhar pelo território nacional.
Conjecturemos sobre essa criminalidade e essas milícias organizadas: ficarão de fora da guerra civil? aproveitarão a desordem para praticar toda espécie de crime, contra um lado e outro? apoiarão um ou outro dos lados? ou um e outro, dividindo-se entre as partes beligerantes, conforme o interesse de cada uma? as pessoas que integram o crime organizado e as milícias lutarão conforme regras civilizadas (se é que se possa chamar qualquer luta armada de civilizada)? ou procederão conforme seus costumes bélicos, decapitando, arrancando olhos, estuprando e praticando todo tipo de atrocidade (recorde-se que esse tipo de cenário foi visto nas revoltas em penitenciárias). Ou, numa hipótese aparentemente menos agressiva, ficariam impassíveis para ver o que sobraria para elas? Ah! Parece-me que uma guerra civil é uma excelente oportunidade para contrabando de armas.
Ora direis: e as Forças Armadas?
É claro que irão participar. A questão é saber, de antemão, que lado irão defender. E se estarão coesas. E as Polícias Militares dos Estados? Se todas penderem para a defesa da posição do presidente, penso que não será uma guerra civil, mas uma ocupação, simplesmente. Ah, mas para isso será necessário que todos os governadores de Estados estejam do mesmo lado, ou pelo menos contenham-se diante da "ocupação pacífica".
Pode ser até romântico falar-se em "guerra civil" para "defender a Constituição". Acredito que, se vier a ocorrer, será a absoluta insanidade.


Nota histórico-cultural:

Preocupo-me sempre que ouço o samba "O dia em que o morro descer e não for carnaval", composição de Wilson das Neves e Paulo César Pinheiro. Acho oportuno comparar a situação atual com aquela delineada pelos autores, em 1996 (um quarto de século atrás), data da composição. Transcrevo abaixo, para registro:

Para ouvir com o autor: YouTube

"O dia em que o morro descer e não for carnaval
ninguém vai ficar pra assistir ao desfile final
Na entrada rajada de fogos pra quem nunca viu
vai ser de escopeta, metralha, granada e fuzil (é a guerra civil).
O dia em que o morro descer e não for carnaval
não vai nem dar tempo de ter o ensaio geral
e cada uma ala da escola será uma quadrilha
a evolução já vai ser de guerrilha
e a alegoria um tremendo arsenal.
O tema do enredo vai ser a cidade partida
no dia em que o couro comer na avenida
se o morro descer e não for carnaval.
O povo virá de cortiço, alagado e favela
mostrando a miséria sobre a passarela
sem a fantasia que sai no jornal
vai ser uma única escola, uma só bateria
quem vai ser jurado? ninguém gostaria
que desfile assim não vai ter nada igual.
Não tem órgão oficial, nem governo, nem Liga
nem autoridade que compre essa briga
ninguém sabe a força desse pessoal.
Melhor é o Poder devolver a esse povo a alegria
senão todo mundo vai sambar no dia
em que o morro descer e não for carnaval.

 

25 de mar. de 2021

A CORNETA E SEUS TOQUES


Todo toque de corneta

é um alerta e um comando

quando a ordem se dirige

a toda a tropa e exige

cumprimento imediato.

Logo aos primeiros albores,

alvorada, rancho, formar,

parada das guardas

com cornetas e tambores

e, mais tarde, dispersar.

Segue a caserna a rotina

até tocar recolher

que é o toque que ensina

a hora de ir para o berço.

Pouco mais tarde, o de silêncio

propêncio ao noturno repouso.

Usando a nomenclatura,

na mais pura analogia,

coloca-se na ordem do dia

o toque de recolher

pra que, fora dos quartéis,

toda gente não circule,

muito menos se acumule

pondo em risco seus iguais.

No acatamento ao toque,

mesmo que a contra gosto,

melhor aceitar recolher

do que, em plena luz do dia,

ter de ouvir o de silêncio.




Imagem: YouTube (toque de silêncio).

Para ouvir o toque de silêncio e conhecer a origem.

24 de mar. de 2021

NAÇÃO BRASILEIRA OU NAÇÕES BRASILEIRAS?

Vejo circulando caminhões que transportam vacinas, com imagens mostrando o Zé Gotinha e as inscrições "VACINAÇÃO - BRASIL IMUNIZADO - SOMOS UMA SÓ NAÇÃO".

De cara não concordei com a ideia. Penso que há, no Brasil, pelo menos três nações: a nação da direita, a nação da esquerda e eu. Já repeti que não caibo em qualquer dos grupos. E não há como não acreditar que não exista, entre mais de duzentos milhões de habitantes, uma meia dúzia que possa formar comigo um grupo de indivíduos. Sem contar que, a se considerar algumas características comuns ao que se diz de nações, temos uma nação de negros, uma nação indígena (embora haja quem não admita isso, como se os índios tivessem invadido Pindorama), e até, levando aos extremos, uma nação rubronegra.

Puro negacionismo meu, no que se refere à propaganda governamental? É uma oposição descabida à ideia?

Temo que não. Por via das dúvidas, fui procurar um conceito de "nação", por mais elementar que seja. Vejamos excertos de um único autor:


"O conceito de nação está relacionado com fatores políticos, culturais, sociais e históricos que agregam o sentimento de pertença dos indivíduos. § Nação é um termo utilizado para se referir a um grupo de pessoas ou habitantes que compartilha de uma mesma origem étnica, de um mesmo idioma e de costumes relativamente homogêneos, ou seja, semelhantes entre os seus pares. Além de apresentar todos esses aspectos, uma nação para ser considerada como tal precisa agregar um sentimento de pertença ao todo desse grupo, ou seja, é preciso haver uma vontade por parte dos indivíduos em formarem uma nação. Mas engana-se quem pensa que um Estado seja necessariamente detentor de um território em que se encontra apenas uma nação. Ao contrário, a maioria dos países agrega, em um mesmo território, várias nações, constituindo aquilo que se denomina por Estados multinacionais, a exemplo do Brasil." (PENA, Rodolfo F. Alves - Brasil ESCOLA - https://brasilescola.uol.com.br/o-que-e/geografia/o-que-e-nacao.htm#:~:text=Na%C3%A7%C3%A3o%20%C3%A9%20um%20termo%20utilizado,semelhantes%20entre%20os%20seus%20pares).

É, pelo jeito não estou muito por fora, não.



IMAGEM: AgênciaBrasil.

https://agenciabrasil.ebc.com.br/saude/noticia/2021-01/fiocruz-libera-vacina-de-oxford-para-distribuicao-aos-estados

19 de mar. de 2021

MORRE UM SENADOR

Move-se rápido o Senado

para, agora e aqui,

ativar a CPI

que Randolfe, em fevereiro,

ainda no início do mês,

pediu se apurasse de vez

as agruras no Amazonas

aonde medidas lambonas

levaram o caos e o horror.

Morre, agora, um Senador,

deixando mesmo às escâncaras

que, ainda à falta de âncoras,

sem a dor perto e o perigo

que a Morte traz sempre consigo,

quedou-se o Senado a ouvir

insinuações tão estranhas,

de retorcer as entranhas.

Eia! Sus! Coragem!

Bradem, aos ventos, agora,

a repetir vida afora,

pra negar vozes excêntricas:

Cuidadoso não é maricas!

Lamentos não são mi mi mi!

Paúra não é frescura!

Não maltrate tanta gente!

Dobre a língua, presidente!

15 de mar. de 2021

NAS LETRAS DE NOSSAS CANÇÕES - O MUNDO NÃO MUDA.

 

"E o povo necessitado

precisa um salário novo,

mais baixo pro deputado

mais alto pro nosso povo."






Juca Chaves em "Dona Maria Teresa".







Nota do cadikim:

Isso aí é que é protesto, como já não se faz mais. A letra merece ser conhecida.

O arranjo de flauta é imperdível. Procurei saber sobre o flautista e só encontrei "ficha técnica sem crédito aos músicos". Incomoda-me.


Para ouvir com o autor: YouTube.

https://www.youtube.com/watch?v=Q5c7NCNwDNc


Imagem: letras.

https://www.letras.mus.br/juca-chaves/364547/



12 de mar. de 2021

BELO HORIZONTE - SANTA TERESA - SANTA EFIGÊNIA - AGAPITO E LANA

Belo Horizonte foi onde estiquei minha juventude. Ainda criança, mudara-me (ou mudaram-me) para a Floresta, bairro vizinho de Santa Teresa. Pré adolescente, concluí o primário e o ginasial ainda na Floresta. Mesmo durante o ginasial, frequentava o cine Santa Teresa, aos domingos principalmente. Pouco depois, mudamo-nos para Santa Efigênia, bem perto da Parada do Cardoso. O bar do Agapito ficava ali, em frente à pequena plataforma da parada do trem. Ficava na esquina das ruas Alvinópolis e Conselheiro Rocha, em Santa Teresa e era o caminho natural entre um bairro e outro. Dali era seguir por um pedacinho da Conselheiro Rocha, atravessar a linha do trem e estar em Santa Efigênia.

Pouco antes de irmos para a casa própria, minha mãe estava construindo na avenida Alphonsus de Guimaraens (na biografia, escrito assim e minha mãe, purista, fazia questão; no mapa está Guimarães).

Morávamos na divisa da Floresta com Santa Teresa e tínhamos de tomar o bonde do bairro dessa Santa para chegar a Santa Efigênia. Nas vezes em que ia visitar a obra, minha mãe levava-nos os três mais novos - Salus, eu e Cícero. O bonde parava na rua Dores do Indaiá - na parte alta de Santa Teresa - onde descíamos, seguindo a pé até a obra. Passávamos, obrigatoriamente, pelo Bar do Agapito. 

Invariavelmente, na volta, minha mãe fazia uma parada para comermos um bolinho de feijão - os que o Agapito tinha eram deliciosos - e tomar um guaraná, não o caldo de cana que o Agapito vendia.

Numa dessas passagens pelo Agapito, encontramos o Lana. Ouvi dizer que era marceneiro. Sempre que o vi, estava bêbado, muito encontradiço nas redondezas, andava muito sem incomodar quem quer que fosse. Muito espirituoso, costumava carregar uns painéis com suas criações. Em um deles, pregou um pedaço de brim e uma miniatura de cadeira, depois da inscrição "eu sou é da", ou seja, "eu sou é da brim cadeira". Em outro, pregou uma miniatura de barril (quinto) e a foto de um batalhão em desfile, após a inscrição "Viva o". Ou seja, "Viva o Quinto Batalhão". Referia-se ao velho 5º Batalhão da PMMG, o qual muitos benefícios prestou ao bairro, fornecendo à população água de seu poço artesiano, em ambiente de seguidas e longas faltas por que os habitantes passaram por longo tempo.

Nesse nosso encontro, o Lana virou-se para o Agapito e sentenciou: "ô, Agapito! Você vende cana? Você ainda está moendo cana, Agapito? Ninguém faz isso mais não, Agapito. Olha, Agapito, você é o último que mói cana!".


Imagem: YouTube.

https://www.youtube.com/watch?v=vSGZhhBTlKA

11 de mar. de 2021

GATO NO TELHADO: EM DESCANSO OU EM VIGÍLIA?


Hoje, seis e meia da manhã, olho pela janela e vejo, distante cerca de cem metros, um gato sobre um telhado. Fotografar, claro. Lá estava um gato olhando o tempo, como se não quisesse nada, mas com o café da manhã voando em volta dele. As fotos estão aí. Quando acabava de implantá-las no micro (a segunda resultado de um corte), voltei a olhar pela janela. O gato já havia se mandado. Quem sabe atraído por alguma rolinha distraída.












5 de mar. de 2021

AJUSTAMENTO DE CONDUTA: COMPROMISSO DE NÃO CRITICAR O GOVERNO POR DOIS ANOS. MEC VOLTA ATRÁS E CANCELA OFÍCIO QUE PROIBIA MANIFESTAÇÕES POLÍTICAS EM UNIVERSIDADES. COMO É QUE É QUE O GENUÍNO PODERIA TER ENTRADO NESSA ESTÓRIA?

A notícia que está em segundo lugar aí em cima foi a que vi e ouvi hoje, transmitida pela tv. Explicações de parte a parte não me
interessam e explico, depois. Em face da notícia, e tendo passado rapidamente pela que está mencionada no princípio da chamada, fui ver "causdiquê" tinha ocorrido a proibição do MEC.

Fiquei sabendo que dois professores da Universidade Federal de Pelotas fizeram críticas ao presidente da república. No vai-vem da vida, os dois professores "...tiveram que assinar um documento em que se comprometeram a não criticar o governo federal por dois anos" (https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/03/03/dois-professores-universitarios-assinam-termo-em-que-se-comprometem-a-nao-criticar-o-governo.ghtml).

Segue-se que o MEC enviou ofício circular às instituições federais de ensino, para que tomassem providências para prevenir e punir manifestações políticas em suas dependências.

Vanja vai, Vanja vem (a expressão, que conheci há mais de 50 anos e que só podia ter sido cunhada por Stanislaw Ponte Preta, o que me foi contado agora pelo blog EntreMentes, do Paulo Gurgel (http://blogdopg.blogspot.com/2015/01/vanja-vai-vanja-vem.html), repete-se, Vanja vai, Vanja vem, o MEC resolve suspender o ofício, com a ingênua justificativa de que "... não havia a intenção de 'coibir a liberdade de manifestação e de expressão' ".

E o Genuíno? Ah! O Genuíno...

Genuíno foi um jogador do futebol mineiro (tinha que ser), nascido em Sete Lagoas. Atuou durante a década de 1950. Lembro-me dele, mas não o vi jogar. Começou no Bela Vista, daquela cidade; foi para o Rio de Janeiro, jogar no Madureira, de onde migrou para o Vasco (o "Madura" levou uma grana e o atleta não gostou, dizendo que não era mercadoria e que o Madureira nada havia pago para tê-lo no time, além de salários). Fez fama no Vasco. Mas grande parte da sua fama, sem desmerecer o futebolista que Armando Nogueira qualificou como um dos melhores centro-avantes que já vira jogar, essa grande parte de fama residia no fato de ele gostar muito de Sete Lagoas e de caminhões. Conta-se que certa vez, já no Vasco, pegou uma carona em um caminhão que ia para Sete Lagoas e sumiu. Depois voltou e foi perdoado porque o técnico Flávio Costa gostava dele e ele recompensava com gols.

Isso aí e mais alguma coisa fiquei sabendo pela rede, em páginas que menciono ao final. Mas do que me lembro dele - não sei se é verdade ou folclore - é que contava-se que Genuíno tinha um caminhão, com o qual rodava pela cidade, com uma frase no para choques: "EU QUERO É ROSETAR". Explicitar isso naquele tempo? Quase blasfêmia! Mas o Genuíno era muito querido ali. Ninguém queria dizer a ele que não deveria, ou poderia fazer aquilo. Bola vai bola vem, pediram ao Delegado de Polícia que conversasse com o Genuíno e fizesse-o ver que não ficava bem, que a população sentia-se ofendida e coisa e tal. Genu não se fez de rogado: pois não, doutor, não quero desagradar meus conterrâneos. Vou tirar a frase. Poucos dias depois a cidade viu o caminhão passeando com a nova frase: "CONTINUO QUERENDO".

Então, como é que o Genuíno poderia ter entrado nessa estória?

Não! Ele não poderia, já que morreu há muitos anos.

Foi que, divagando e associando a notícia a ele, imaginei o que poderiam ter feito diferente os dois professores que assinaram o tal termo de ajustamento de conduta, comprometendo-se a não criticar o governo por dois anos. Pensei no Genuíno.

Poderiam os professores silenciar toda e qualquer crítica ao governo. Poderiam seguir reunindo-se com os alunos, em discursos demorados, mais ou menos nos seguintes termos, cada um com um diferente mas no mesmo diapazão:

Prometi, solenemente e devidamente documentado, que não vou criticar o governo durante dois anos. Portanto, em cumprindo meu compromisso, não venho aqui falar mal do governo. Porque falar mal do governo não faz mais parte do meu discurso, já que a isto me comprometi. Vamos falar de flores, para não dizer que não falei das flores (ah, Vandré!). Há uma quantidade infinita de flores lindas em todas as regiões do Brasil. As flores do Cerrado são maravilhosas! O Ipê-do-Cerrado, a Colestenia, a Canela-de-Ema, a Caliandra (tenho uma bisneta com esse nome), a Flor do pequi,  a do Umburuçu... No Nordeste, quando chove no chão, florescem de muitas formas maravilhosas, como a batata-de-purga, baba de sapo, cabeça de velho, violeta-da-caatinga.... Na Amazônia, então, nem se fala: abacaxis de jardim, amarelinha do rio, aninga da várzea, cabeleira vermelha, cachos dourados, jasmim de rio, quaresmeira branca... Espécies maravilhosas e abundantes, em vegetação de médio porte e em árvores frondosas, sem falar na Vitória Régia! E o Pantanal? Samambaias, helicônias, bromélias, orquídeas, flor de maracujá... Enormes campos floridos pelos quais vagueia o Tamanduá Bandeira. E as flores das margens dos rios caudalosos! Como vêem, queridos alunos, venho falar de flores, jamais do governo ou, pelo menos pelos próximos dois anos - este é o meu compromisso -  até depois que se forem as eleições. Enquanto Vanja vai e Vanja vem, poderemos promover reuniões proveitosas neste mesmo recinto, para falarmos de flores, de animais silvestres, de aves ribeirinhas, até de peixes e de ariranhas. Até mais!




Imagens: Conteúdos de:

Cantinho: https://cantinho.live/2020/04/09/os-encantadores-lirios-nativos-do-vale-do-jequitinhonha/

Iloveflores: https://iloveflores.com/nomes-e-fotos-de-flores-brasileiras-populares-e-raras-do-brasil/

Conheça Minas: https://www.conhecaminas.com/2020/08/uma-viagem-pelos-encantos-de-minas.html


Foto de Genuíno, com referências: Kike da Bola.

http://kikedabola.blogspot.com/2013/11/


Referências a Genuíno: Blog do Chico Maia.

http://blog.chicomaia.com.br/2011/09/28/lembrancas-de-genuino-o-craque-do-caminhao/

MILLÔR EM PEDACINHOS - IDEALIZAÇÕES


"Diante da tentativa constante de nos mitificarem, dando-nos qualidades que não possuímos, coragens que não sentimos, capacidades intelectuais que nunca demonstramos, é preciso conservarmos a autocrítica a todo custo. A tentação de acreditar que é grande, a vontade de ser Deus ou, para os mais medíocres, estátua, permanente. Façamos como aquela mulher, cheia de senso de humor que, sempre que se via nua na intimidade do banheiro, morria de rir de seus admiradores.


AUTODISCIPLINA. DISCURSO. FACULDADE DE RECUPERAÇÃO DA ABBR. 1959"



FONTE: O Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr, págs. 148/158.





4 de mar. de 2021

TODO EMPREENDIMENTO PRECISA SER UMA "MÁQUINA DE FÁBRICAR SOLUÇÕES", SE QUISER SER BEM SUCEDIDO.

Assustei-me, ontem, vendo e ouvindo o senhor Eduardo Pazuello dizer que


"não somos uma máquina de fabricar soluções mas somos seres humanos focados na resolução de problemas".


Essa afirmação vi-a e ouvi-a em programa jornalístico, e vejo-a novamente agora, em O TEMPO (https://www.otempo.com.br/politica/pazuello-diz-que-ministerio-da-saude-nao-e-maquina-de-fabricar-solucoes-1.2454874), em Sputnik Brasil (https://br.sputniknews.com/brasil/2021030417063026-apos-recorde-de-mortes-pazuello-fala-que-governo-nao-e-maquina-de-fabricar-solucoes-video/) e em G1 BEM ESTAR (https://g1.globo.com/bemestar/vacina/noticia/2021/03/03/apos-recorde-de-mortes-por-covid-pazuello-fala-em-dia-dificil-para-todos-os-brasileiros-nao-somos-uma-maquina-de-fabricar-solucoes.ghtml).

Pode ser a influência que estou recebendo de Friederich Nietzsche, através da leitura de seu livro "Sobre Verdade e Mentira". Não dá para descer a detalhes, porque ainda não consegui entender amplamente o cara (o Filósofo). Mas posso tomar também por base o que expressei no cadikim sobre minha quase eterna incredulidade http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com/2012/04/increu.html); também posso tomar por base um ensinamento de Catullo da Paixão Cearense sobre a verdade, em poema do qual transcrevo apenas uma parte (completo em http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com/2018/01/catullo.html):


"Pois todos nós sabemos que a Verdade

    é a única mulher, de eterna virgindade,

que o homem não quer ver, quando está nua.".


Pois bom: tenho "cá consigo" que qualquer empreendedor que queira ser bem sucedido tem de ser uma "máquina de fabricar soluções". Desde que trabalhe muito e com eficácia. É a tal decantada criatividade, aliada ao princípio de que "o gênio é 1% de inspiração e 99% de transpiração", expressão atribuída, segundo li agora (BRAINLY, https://brainly.com.br/tarefa/9059820), a Thomas Alva.

Se se bem quiser analisar a expressão lógica na fala do Sr. Eduardo, iremos ver que emendou uma expressão do que "não somos" a uma outra expressão do que "somos". Fez isto, contradizendo-se. Observo que o Sr. Eduardo tem o hábito de trocar expressões para explicar-se. Veja-se a confusão que inventou tentando transformar "tratamento precoce" em "atendimento precoce".

Não é que nessa fala de ontem disse que não é uma coisa (máquina de fabricar soluções) e acabou afirmando que é a mesma coisa (seres humanos focados em resolução de problemas). Ou não?

Penso que qualquer órgão do governo é uma máquina de fabricar soluções sim. Ouso discordar do Sr. Eduardo.

O Sr. Eduardo poderia ter transformado "seu" Ministério em uma "fábrica de soluções", quando encaminhou correspondência ao Diretor do Instituto Butantan, manifestando "...a intenção deste Ministério da Saúde em adquirir 46 milhões de doses da referida vacina (Vacina Butantan - Sinovac Covid-19),..." (https://cadikimdicadacoisa.blogspot.com/2021/02/isso-e-que-e-aval-presidente-do-senado.html). Bloqueado pelo Sr. Jair, que mandou cancelar a intenção de compra, o Sr. Eduardo explicitou, via Embratel e entre gargalhadas de ambos, a manifestação de subserviência mais grave que já vi durante toda a minha vida: ..."um manda, o outro obedece" (https://www.youtube.com/watch?v=NRLwxzs219Y).

Ah! Tivesse o Sr. Eduardo trabalhado com o Senhor Coronel PMMG Walter Rachid Bittar, certamente teria pelo menos recebido do mesmo o ensinamento que recebi e que já costumava aplicar, "sem base teórica":


"toda pessoa que exerce qualquer grau de autoridade deve ser capaz de exercer sua autoridade para baixo e para cima".


Acho que o Sr. Eduardo, com aquele gesto, perdeu a grande oportunidade de ter sido - e continuado sendo, certamente - uma "fábrica de soluções". Pior: com várias atitudes do Sr. Jair, para não comprar vacinas, e da evidente subserviência do Sr. Eduardo, restou à Nação - a gente que vive no Brasil - apenas esperar remessas de vacinas em conta gotas.




Imagem: tecmundo

https://www.tecmundo.com.br/ciencia/211764-brasil-registra-pico-mortes-inicio-pandemia.htm

 

2 de mar. de 2021

MILLÔR EM PEDACINHOS - "TECNOLOGIA: UTILIDADES E PERIGOS"


"O homem é o câncer da natureza. Estraga a terra, corrompe as matas, fura os túneis, empesta o ar, suja as águas, apodrece tudo onde pisa, sem sentido nem objetivo. A explosão nuclear, ao contrário do que todos pensam, não será uma tragédia senão para nós. Para o universo é apenas uma medida saneadora, uma forma drástica de se livrar do ser humano.

CONVERSA COM CHAVES FERREIRA, EDITOR PORTUGUÊS. 1973".


Fonte: O Livro Vermelho dos Pensamentos de Millôr, pág. 94.