Belo Horizonte foi onde estiquei minha juventude. Ainda criança, mudara-me (ou mudaram-me) para a Floresta, bairro vizinho de Santa Teresa. Pré adolescente, concluí o primário e o ginasial ainda na Floresta. Mesmo durante o ginasial, frequentava o cine Santa Teresa, aos domingos principalmente. Pouco depois, mudamo-nos para Santa Efigênia, bem perto da Parada do Cardoso. O bar do Agapito ficava ali, em frente à pequena plataforma da parada do trem. Ficava na esquina das ruas Alvinópolis e Conselheiro Rocha, em Santa Teresa e era o caminho natural entre um bairro e outro. Dali era seguir por um pedacinho da Conselheiro Rocha, atravessar a linha do trem e estar em Santa Efigênia.
Pouco antes de irmos para a casa própria, minha mãe estava construindo na avenida Alphonsus de Guimaraens (na biografia, escrito assim e minha mãe, purista, fazia questão; no mapa está Guimarães).
Morávamos na divisa da Floresta com Santa Teresa e tínhamos de tomar o bonde do bairro dessa Santa para chegar a Santa Efigênia. Nas vezes em que ia visitar a obra, minha mãe levava-nos os três mais novos - Salus, eu e Cícero. O bonde parava na rua Dores do Indaiá - na parte alta de Santa Teresa - onde descíamos, seguindo a pé até a obra. Passávamos, obrigatoriamente, pelo Bar do Agapito.
Invariavelmente, na volta, minha mãe fazia uma parada para comermos um bolinho de feijão - os que o Agapito tinha eram deliciosos - e tomar um guaraná, não o caldo de cana que o Agapito vendia.
Numa dessas passagens pelo Agapito, encontramos o Lana. Ouvi dizer que era marceneiro. Sempre que o vi, estava bêbado, muito encontradiço nas redondezas, andava muito sem incomodar quem quer que fosse. Muito espirituoso, costumava carregar uns painéis com suas criações. Em um deles, pregou um pedaço de brim e uma miniatura de cadeira, depois da inscrição "eu sou é da", ou seja, "eu sou é da brim cadeira". Em outro, pregou uma miniatura de barril (quinto) e a foto de um batalhão em desfile, após a inscrição "Viva o". Ou seja, "Viva o Quinto Batalhão". Referia-se ao velho 5º Batalhão da PMMG, o qual muitos benefícios prestou ao bairro, fornecendo à população água de seu poço artesiano, em ambiente de seguidas e longas faltas por que os habitantes passaram por longo tempo.
Nesse nosso encontro, o Lana virou-se para o Agapito e sentenciou: "ô, Agapito! Você vende cana? Você ainda está moendo cana, Agapito? Ninguém faz isso mais não, Agapito. Olha, Agapito, você é o último que mói cana!".
Imagem: YouTube.
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