A notícia que está em segundo lugar aí em cima foi a que vi e ouvi hoje, transmitida pela tv. Explicações de parte a parte não me
interessam e explico, depois. Em face da notícia, e tendo passado rapidamente pela que está mencionada no princípio da chamada, fui ver "causdiquê" tinha ocorrido a proibição do MEC.
Fiquei sabendo que dois professores da Universidade Federal de Pelotas fizeram críticas ao presidente da república. No vai-vem da vida, os dois professores "...tiveram que assinar um documento em que se comprometeram a não criticar o governo federal por dois anos" (https://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2021/03/03/dois-professores-universitarios-assinam-termo-em-que-se-comprometem-a-nao-criticar-o-governo.ghtml).
Segue-se que o MEC enviou ofício circular às instituições federais de ensino, para que tomassem providências para prevenir e punir manifestações políticas em suas dependências.
Vanja vai, Vanja vem (a expressão, que conheci há mais de 50 anos e que só podia ter sido cunhada por Stanislaw Ponte Preta, o que me foi contado agora pelo blog EntreMentes, do Paulo Gurgel (http://blogdopg.blogspot.com/2015/01/vanja-vai-vanja-vem.html), repete-se, Vanja vai, Vanja vem, o MEC resolve suspender o ofício, com a ingênua justificativa de que "... não havia a intenção de 'coibir a liberdade de manifestação e de expressão' ".
E o Genuíno? Ah! O Genuíno...
Genuíno foi um jogador do futebol mineiro (tinha que ser), nascido em Sete Lagoas. Atuou durante a década de 1950. Lembro-me dele, mas não o vi jogar. Começou no Bela Vista, daquela cidade; foi para o Rio de Janeiro, jogar no Madureira, de onde migrou para o Vasco (o "Madura" levou uma grana e o atleta não gostou, dizendo que não era mercadoria e que o Madureira nada havia pago para tê-lo no time, além de salários). Fez fama no Vasco. Mas grande parte da sua fama, sem desmerecer o futebolista que Armando Nogueira qualificou como um dos melhores centro-avantes que já vira jogar, essa grande parte de fama residia no fato de ele gostar muito de Sete Lagoas e de caminhões. Conta-se que certa vez, já no Vasco, pegou uma carona em um caminhão que ia para Sete Lagoas e sumiu. Depois voltou e foi perdoado porque o técnico Flávio Costa gostava dele e ele recompensava com gols.
Isso aí e mais alguma coisa fiquei sabendo pela rede, em páginas que menciono ao final. Mas do que me lembro dele - não sei se é verdade ou folclore - é que contava-se que Genuíno tinha um caminhão, com o qual rodava pela cidade, com uma frase no para choques: "EU QUERO É ROSETAR". Explicitar isso naquele tempo? Quase blasfêmia! Mas o Genuíno era muito querido ali. Ninguém queria dizer a ele que não deveria, ou poderia fazer aquilo. Bola vai bola vem, pediram ao Delegado de Polícia que conversasse com o Genuíno e fizesse-o ver que não ficava bem, que a população sentia-se ofendida e coisa e tal. Genu não se fez de rogado: pois não, doutor, não quero desagradar meus conterrâneos. Vou tirar a frase. Poucos dias depois a cidade viu o caminhão passeando com a nova frase: "CONTINUO QUERENDO".
Então, como é que o Genuíno poderia ter entrado nessa estória?
Não! Ele não poderia, já que morreu há muitos anos.
Foi que, divagando e associando a notícia a ele, imaginei o que poderiam ter feito diferente os dois professores que assinaram o tal termo de ajustamento de conduta, comprometendo-se a não criticar o governo por dois anos. Pensei no Genuíno.
Poderiam os professores silenciar toda e qualquer crítica ao governo. Poderiam seguir reunindo-se com os alunos, em discursos demorados, mais ou menos nos seguintes termos, cada um com um diferente mas no mesmo diapazão:
Prometi, solenemente e devidamente documentado, que não vou criticar o governo durante dois anos. Portanto, em cumprindo meu compromisso, não venho aqui falar mal do governo. Porque falar mal do governo não faz mais parte do meu discurso, já que a isto me comprometi. Vamos falar de flores, para não dizer que não falei das flores (ah, Vandré!). Há uma quantidade infinita de flores lindas em todas as regiões do Brasil. As flores do Cerrado são maravilhosas! O Ipê-do-Cerrado, a Colestenia, a Canela-de-Ema, a Caliandra (tenho uma bisneta com esse nome), a Flor do pequi, a do Umburuçu... No Nordeste, quando chove no chão, florescem de muitas formas maravilhosas, como a batata-de-purga, baba de sapo, cabeça de velho, violeta-da-caatinga.... Na Amazônia, então, nem se fala: abacaxis de jardim, amarelinha do rio, aninga da várzea, cabeleira vermelha, cachos dourados, jasmim de rio, quaresmeira branca... Espécies maravilhosas e abundantes, em vegetação de médio porte e em árvores frondosas, sem falar na Vitória Régia! E o Pantanal? Samambaias, helicônias, bromélias, orquídeas, flor de maracujá... Enormes campos floridos pelos quais vagueia o Tamanduá Bandeira. E as flores das margens dos rios caudalosos! Como vêem, queridos alunos, venho falar de flores, jamais do governo ou, pelo menos pelos próximos dois anos - este é o meu compromisso - até depois que se forem as eleições. Enquanto Vanja vai e Vanja vem, poderemos promover reuniões proveitosas neste mesmo recinto, para falarmos de flores, de animais silvestres, de aves ribeirinhas, até de peixes e de ariranhas. Até mais!
Imagens: Conteúdos de:
Cantinho: https://cantinho.live/2020/04/09/os-encantadores-lirios-nativos-do-vale-do-jequitinhonha/
Iloveflores: https://iloveflores.com/nomes-e-fotos-de-flores-brasileiras-populares-e-raras-do-brasil/
Conheça Minas: https://www.conhecaminas.com/2020/08/uma-viagem-pelos-encantos-de-minas.html
Foto de Genuíno, com referências: Kike da Bola.
http://kikedabola.blogspot.com/2013/11/
Referências a Genuíno: Blog do Chico Maia.
http://blog.chicomaia.com.br/2011/09/28/lembrancas-de-genuino-o-craque-do-caminhao/
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