Como disse, hoje estou com a macaca! Vamos virar um pouco o jogo e falar de amenidades, então. Abordando o folclore do jogo-do-bicho, lembrei-me de pesquisar SAUL ALVES MARTINS. Nada a ver com o jogo-do-bicho. Há muito não buscava notícias dele, logo não sabia que faleceu em 2009, aos 92 anos. Saul Alves Martins era Coronel da Polícia Militar de Minas Gerais. Foi meu Comandante, em 1962 ou 1963, no 5º BI (ainda não era BPM), em Belo Horizonte. Lembro-me de uma declaração dele, que sempre norteou algumas atitudes minhas. O Saul era sábio! Naquele tempo, muitos coronéis desejavam, ardentemente, que o tempo de serviço ativo fosse prolongado para 35 anos. Acontecia, sim, de a Polícia Miliar preparar pessoas para o exercício da profissão policial-militar (só as Corporações formam). Resultado é que muitos coronéis estacionavam tanto no conhecimento (que não era parco, mas, em geral, era específico da profissão) quanto nos cargos. Quando eram transferidos para a reserva, saiam de uma situação de destaque, interno e externo, e caiam em um baita ostracismo. Uma tarde, o Comandante Saul disse: "Eu não quero só 35 anos não! Eu quero é vitalício. Pensem bem: eu com 95 anos (quase chegou lá), chegando ao quartel. Dois soldados vão me ajudar a descer do jipe (o veículo disponível para os comandantes, à época). Depois, tomam de uma cadeira de rodas e sobem as escadas, levando-me ao gabinete do comandante. Aí, chega o Piantanida (Major Alberto Piantanida, subcomandante), vindo anunciar-me o batalhão, doido para eu morrer, para ele ser comandante".
Saul Alves Martins, na ativa da PM, era já um estudioso. Seguiu estudando. Acabou sendo um dos antropólogos mais importantes de Minas Gerais, "cuíca do Brasil" (um dia eu conto isto). Vale a pena buscar informações sobre ele, principalmente quem se interessa por antropologia, por folclore, por cultura em geral. Empresta seu nome ao Museu do Artesanato Saul Alves Martins, localizado na cidade de Vespasiano/MG, categorizado como um dos cinco melhores museus de cultura popular do Brasil, e que possui em seu acervo uma grande quantidade de obras doada pelo antropólogo, fruto de suas pesquisas.
Na pesquisa que fiz, encontrei referências de sua neta, Luana Carla Martins Campos (http://luanacampos.wordpress.com/2009/12/12/flores-do-campo/), de quem colhi, na página citada, um soneto de autoria de seu avô, e que repasso (peço autorização mas tenho certeza de que o Coronel autorizaria).
Flores do Campo
Quando, em setembro, chega a Primavera,
Aparecem nos campos, nas queimadas,
Ou mesmo nos barrancos das estradas,
Até na palha seca da tapera,
Belas flores de pétalas bordadas,
De raro odor e de aparência austera,
Lindo jardim que a natureza gera
Para alegrar a vida nas chapadas.
Debalde cultivá-las no canteiro!
Só poderemos vê-las soberanas,
No seu meio, no peito de um vaqueiro,
Nos tapumes de humílimas cabanas,
Depois da chuva, à tona de um ribeiro,
Ou nas tranças de frívolas ciganas.
Foto: Wikipédia.
Nenhum comentário:
Postar um comentário