Os pequenos não dormiram em casa, de novo, mas chegaram cedo à árvore. Estava por perto, para cuidar da ninhada, apesar de já estarem grandinhos. Mãe é mãe, não é mesmo? O paparazzi chegou à janela algumas vezes mas, pelo jeito, viu ninguém. Mais tarde, procurou encontrar a gente, pelo lado de baixo da árvore.
Facim, facim, localizou os três, eu vigiando de longe meus filhotes, bem juntinhos em um galho pouco acima, quase invisíveis. Foi o bastante para que eu corresse para perto dos bichinhos, como a dizer ao paparazzi que saísse dali, que estava atrapalhando. Sacanagem, viu, diário? A gente não está acostumada a se proteger por baixo, porque é de cima que tememos ataques de gaviões que querem comer meus filhotes. A tataravó da minha tataravó contou que a tataravó desta contava que era muito perigoso fazer ninhos em árvores sem folhas, porque vinham uns moleques com estilingues e atiravam pedras nos passarinhos. Disse que uma avó dessa última, vesprando para casar, foi atingida por uma pedra que um garoto malvado atirou. Questão de tradição, sabe? Mas há muito tempo não temos visto meninos malvados atirando pedras com estilingues. Estou no pedaço há algum tempo e não vi uma vez sequer. Os mais velhos dizem que igualmente não vêm. Não sei se é educação para respeitar a natureza ou se é porque preferem os computadores. Acho que essa classe de meninos atiradores de pedras nem existe mais. Por isto nos protegemos só por cima. Veja, querido Diário, que nos camuflamos muito bem e que nossas cores nos confundem com as dos galhos secos. Assim, estamos protegidas, dos males que vêm de cima (incluindo o impertinente). Mas aquele paparazzi chato e ignorante denunciou nossa posição na árvore, pondo em risco nossas vidinhas. Será que ele não se manca, Diário?
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