Desenvolve-se, na cidade do Rio de Janeiro, ação governamental policial, para tratar da violência que assola aquela cidade. Enorme mobilização, presença de cerca de dez mil pessoas no efetivo da operação, Exército, Marinha, Aeronáutica, Polícia Militar, Polícia Civil. Pronunciamentos do Ministro da Defesa, exposição de estratégias. Disse que as operações em andamento estão garantidas até o final deste ano, mas que se estenderão até o final de 2018.
Foi aí que não tive como deixar de inquirir: e depois? E foi aí que acabei desovando um tema que me rondava a mente, há algum tempo: o caos não chega de repente; nem se vai rapidamente.
O caos que se instalou no Brasil - com maior realce na cidade do Rio de Janeiro - não veio em uma nuvem de poeira. Instalou-se através da sedimentação de poeirinhas que, em contato com água, foram se transformando até virarem avalanches lamacentas putrefatas. Avalanches lamacentas putrefatas que terão de ser secadas, "britadas", se considerarmos sua consistência enorme, e pulverizadas, para que possam ser removidas por um ventinho contrário àquele que determinou a sedimentação do mal.
Isto leva tempo. Muito tempo. E não é para terminar em 2018, não! Penso, há muito tempo, que se o governo conseguir elencar medidas para estabelecer segurança; se todas essas medidas estiverem corretas e se se conseguir 100% de aproveitamento na aplicação, é coisa para vinte anos ou mais.
Pensando sobre a questão, não tive como não pensar na "retomada do morro do alemão". Fui ler sobre o assunto.
Primeiro, encontrei um "passo-a-passo" da "Ocupação das Favelas do Alemão", em "G1 RIO DE JANEIRO - RIO CONTRA O CRIME" (http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/rio-contra-o-crime/noticia/2010/11/ocupacao-das-favelas-do-alemao.html). Encontrei:
"15h45 - O prefeito Eduardo Paes afirma que, assim que obtiver autorização, a comunidade do Alemão será 'invadida' por serviços de assistência social."
No "ÚLTIMO SEGUNDO - Rio de Janeiro" (http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/rj/operacao-do-exercito-no-complexo-do-alemao-ja-custou-r-237-milhoes/n1597213631643.html), em 16/09/2011: "Operação do Exército no Complexo do Alemão já custou R$237 milhões - Valor é equivalente à metade das verbas destinadas à modernização da força em 2011."
Cheguei a ficar encantado com as avaliações e declarações do então governador Sérgio Cabral, que encontrei na página do UOL notícias Cotidiano, São Paulo, 28/11/2010 (https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-noticias/2010/11/28/estamos-virando-uma-pagina-na-historia-do-rio-diz-cabral.html):
"Após a retomada do complexo do Alemão por forças de segurança neste domingo (28), o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, afirmou que as parcerias com o governo federal continuarão para garantir a tranquilidade aos fluminenses e agradeceu aos fluminenses e ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela cooperação. § Em entrevista à Globo News, Cabral afirmou que a política de segurança é de médio e longo prazo, e se manterá sob o comando do secretário José Mariano Beltrame. 'Estamos virando uma página na história do Rio', afirmou. 'Com essa reconquista territorial damos um passo decisivo para a nossa política de segurança pública'. § O governador afirmou que a ação contra os criminosos acaba com a confusão, com essa mixórdia de conceitos que levou o Rio de Janeiro a uma situação de crise econômica e crise social, e falência política'. Depois de citar o governo federal, ele afirmou que a participação da sociedade 'é o grande segredo deste momento'. § Cabral citou investimentos feitos no Complexo do Alemão nos últimos anos - entre os quais as obras de habitação e um sistema de teleférico que ajuda a transportar moradores. 'Enquanto não levássemos segurança pública e paz o trabalho não estaria completo', afirmou o governador.".
Emocionante, não?
Mas há outras pérolas de Cabral, no Estadão de 27/11/2010 (http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,em-meio-a-cerco-no-complexo-do-alemao-cabral-diz-que-governo-nao-recua,646240):
"Segundo o governador, as equipes de Segurança têm informado à população sobre os eventos no Rio. Para ele, 'o momento é de retomada de territórios, de afirmação da ordem e do Estado de Direito Democrático'. § Estamos todos unidos. Todos com o mesmo propósito: seguir em frente sem qualquer recuo na busca da libertação das pessoa do poder de bandidos nas comunidades', disse Cabral. § Cabral diz que seu compromisso é 'pacificar todas as comunidades onde houver o domínio do poder paralelo'.".
Sinceramente, não vejo contradição no que disse Cabral. Referiu-se, repetidamente, em "bandidos na comunidade". Mas achei super interessante um texto final:
"No topo do morro, os policiais encontraram uma casa luxuosa onde viveria um dos chefes do tráfico na região. Banheira de hidromassagem, televisão de 40 polegadas e ar condicionado estavam à disposição dos criminosos em uma residência de dois andares. Antes de deixaram o local, os bandidos balearam os aparelhos domésticos e reviraram os móveis.".
Primeiro: se outros chefes, em vários segmentos da administração pública, têm ostentado conforto e riqueza, por que imaginar que os bandidos não? E olha que estes estão sempre sob o risco dos rigores da lei e vigiados por tudo que é polícia. Enquanto que os outros vivem protegidos por essas mesmas forças, até que percam a condição de poder público.
Segundo: ainda fiel ao preceito de Millôr ("livre pensar é só pensar"), posso pensar o que quiser do fato de os bandidos balearam os aparelhos domésticos. Poderão ter pensado: "cê" acha, "mano", que eu vou deixar tv de 40 inteira "pros home"? Lá tem ladrão tanto como eu e alguém vai querer "apreender" minha tv.
Imagem: Folha de São Paulo.
http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2017/07/1905483-rio-tem-segundo-dia-de-tropas-federais-nas-ruas.shtml
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