"Nada como o passado pra você desacreditar do futuro (o contrário sendo natural) no presente. Folheiem a História ou qualquer revista velha. Parecia que ele estava ali, na esquina, se falava nele concretamente, no amanhã amanhã mesmo, não apenas maneira de dizer. E ele nem se dignou mandar dizer por que não veio. Mas continua a coisa mais prometida pelos homens públicos e mais manuseada pelos economistas que hoje, tantas vezes, até se autodeterminam futurólogos. Chegar não chega. O amanhã de ontem não se realiza hoje, e os conservadores, que esperam que o que vem seja igual ao que foi, se desiludem tanto quanto os renovadores, que pensam que o que vem será diferente de tudo que já foi. A nostalgia de uns é a angústia de outros - pois para ambos o futuro é um espaço impreciso mas concreto, que podem vender para si mesmos e pra outros crédulos, um futuro-imobiliário, onde será possível viver a vida plena que uns tiveram no passado, ou encontrar a purificação dos males que sempre nos envenenaram - no futuro cabemos todos e cabe tudo, pois, sempre futuro, não pode ser cobrado ou conferido. Que fim levou o 1950, futuro de 1940, e 1960, futuro de 1950, e como será 2000, futuro dos futuros, isto é, de todos os passados? Talvez esse não chegue mesmo jamais, não apenas no sentido filosófico mas também no material. Só um imenso bang. Ou um soluço. (Obrigado, Elliot!)
18/05/1983"
Livro abaixo, pág. 188.
PS.
Primeira citação, com preâmbulo:
http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2017/11/millor-em-pedacinhos-us-fora-da-lei-num.html
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