Não é novidade dizer que temos mais de um Brasil. Muitos já falaram isto. A propósito, no último
domingo, assistindo ao programa "Painel", pela Globo News, ouvi a Economista Chefe de uma empresa operadora de investimentos descrever um Brasil em que "Temer está sendo salvo pela Economia". Falou da inflação baixa, de crescimento tímido mas constante... Enfim, falou aquilo que eu sempre ouvi tanto de governantes quanto de economistas. Achei normal, porque tanto governantes como economistas - "mormentemente"* os de operadoras de investimentos - precisam vender otimismo (lembra-me "Na Terra dos Mágicos de Ohs!") - http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2017/12/na-terra-dos-magicos-de-ohs.html ). Pensei "cá consigo" (como dizia um certo passaquatrense): não consigo sequer vislumbrar esse Brasil da senhora Economista Chefe. Qual é mesmo a economia que está segurando Temer? Inflação baixa? Não sou economista mas, ensinado por uma certa longa vivência de crises, de suas explicações e resultados, desconfio de tudo o que os gestores públicos me falam. Por isto, penso que o que poderá estar acontecendo é falta de dinheiro no mercado. Quem está empregado segue comprando, muitos comprando menos; desempregado (há às pampas) não tem meios para comprar. A pouca quantidade de dinheiro no mercado leva a uma disputa ferrenha por ele. E toma promoções, Black Friday e quejandos. Vi uma loja vendendo seus produtos em condições que até podem parecer absurdas: a pessoa que comprou R$ 5 mil ganhou R$ 8 mil de bônus: levou "R$ 13 mil" em produtos pagando R$ 5 mil. O produto envolve arte na produção, com realce, e a dona da loja é a artista. Pode diminuir o próprio ganho - compensação de sua arte - sem prejuízo quanto à matéria prima. Precisa vender, mesmo em condições adversas. Meu "pessimismo" leva-me a raciocinar que, se chegarmos a uma economia francamente empregadora, com remunerações saudáveis, injetando dinheiro na praça através de salários - e não de artifícios que estão sendo usados pelo governo - os preços irão subir imediatamente (não será novidade), porque cada um, em qualquer lugar, quer dar uma mordidinha nos dinheiros que circulam por aí. Não é à toa que bancos compram ("antecipam") décimos terceiros, ficando com uma lasca. Nem é à toa que criaram um tal de décimo terceiro, e sim para uma injeção extra de dinheiro no mercado (sem aumentar salários mensais, o que resultaria em desencaixes mensais maiores - o tal fluxo de caixa). Nem é à toa que os preços são aumentados, quando o décimo terceiro está sendo pago.
E por falar em "injetar dinheiro no mercado", isto sim, penso que é uma das coisas que estão "segurando" Temer, disfarçando a falta de dinheiro e a inflação (mesma acusação que fizeram, em outros tempos, a Dilma). Em agosto, vimos filas imensas nas agências da Caixa Econômica Federal, para recebimento de dinheiro do PIS/PASEP, liberado para idosos - 65 para homens, 62 para mulheres - pelo presidente da República (esta também poderá perder a maiúscula a qualquer momento; aguardem!), conforme divulgou a imprensa (EBC - Agência Brasil - http://agenciabrasil.ebc.com.br/economia/noticia/2017-08/governo-vai-liberar-saque-de-contas-do-pispasep-para-idosos
anunciou que, "pelos cálculos do governo, a liberação deve injetar R$ 16 bilhões na economia". A economia foi "engordada" artificialmente, por pouco tempo, e cada idoso "beneficiado" queimou logo sua grana.
Durou tão pouco tempo essa gordura que, não satisfeito, sua excelência resolve, no final do ano, e por Medida Provisória, reduzir mais um pouquinho a idade para saque de recursos do mesmo PIS/PASEP, que já fora mordido em agosto: 60 anos para homens e mulheres (G1 - https://g1.globo.com/economia/noticia/reducao-de-idade-minima-para-saques-do-pispasep-pode-beneficiar-109-milhoes-diz-planejamento.ghtml). Está lá que "o Ministério do Planejamento informou ao G1 nesta sexta-feira (22) que a redução de 70 para 60 anos, da idade mínima para que idosos possam sacar cotas do Fundo PIS/PASEP pode beneficiar 10,9 milhões de pessoas e injetar R$ 21,4 bilhões na economia" (abro parêntesis para explicar aquele destaque em negrito na palavra beneficiar, uma das artimanhas dos "mágicos de ohs!": velhinho amedrontado pela possibilidade da reforma da previdência, recebe graninha inesperada, acha ótimo, já que precisa gastar, pagar ou amortizar dívidas. A consequência imediata é que a mina secou. Se sua excelência resolver baixar novamente o limite de idade para outro saque no PIS/PASEP, ele já terá recebido e só. Aqui, também - como no governo Dilma - a fonte de recursos não se destinava a encobrir falta de dinheiro no mercado (a preocupação, em ambos os casos, não era, obviamente, a falta de dinheiro dos idosos; a pretensão era injetar grana na economia, fingir que havia salvação). Depois, fica "tudo como antes na casa de Abrantes".
Essa é uma das artimanhas da "economia governamental", mágica de "ohs!". A outra mágica, que também está segurando Temer, desde que se viu encurralado pelo perrengue Joesley, foi ficar liberando verbas para deputados "fiéis" (aos eleitores, por acaso?). Semelhantemente aos contratantes de pistoleiros (que o vulgo chamava "empreiteiros de Cristo"): metade à vista ("combina" da empreitada/ liberação das emendas). a outra metade quando entregar a orelha (liberação das verbas, só mediante a entrega dos votos necessários ao escape). Deu o que falar, teve deputado que ameaçou mudar de "opinião" quando fosse dar o segundo voto, porque as verbas ainda não tinham sido liberadas.
Ouso discordar, amada Economista Chefe de investimentos: penso que não é a Economia que está segurando Temer, não. São artimanhas políticas a qualquer preço e qualquer custo, e "mágicas de ohs!".
Sub censura!
E praza aos céus esteja eu redondamente errado, porque desejo uma Nação mais bem tratada e não aquela que estou vendo e por cujo futuro temo sobremaneira (se/quando vier o "ohs!").
PS - Ah! Não se pode esquecer, também, um tal novo ministro de encomenda - Carlos Marum - que, segundo ouvi pela TV (além de ter visto em muitas chamadas do google), declarou - sem rebuços - que liberar verba por voto não é chantagem, é ação de governo.
(*) Odorico Paraguaçu (O BemAmado, Dias Gomes), por boca de Paulo Gracindo.
Imagem: Shopee.
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