Eu era menino e os políticos já prometiam. Inventavam as mais inventivas soluções para os problemas daquele tempo (agora sabemos que eram poucos). E, já então, falhavam no cumprimento de suas promessas. Uns perjuros! Fui crescendo e assistindo, a cada eleição, a novas promessas, em palanque, de melhorar a vida do povo. E nada!
O eleitor, coitado, sempre crédulo, votando em alguém. Trocava UDN pelo PSD, o PSD pela UDN. UDN pelo PSD, de novo. Talvez para não ficar igual àquele português que viajava, em um bonde literalmente vazio, em noite de tempestade. Enorme goteira despejava água sobre o pobre passageiro, "a píncaros" (como dizia o narrador esportivo Walter Abrahão, gostosamente, referindo-se a "cântaros" e, de quebra, criticando pouca intimidade com vocabulário mais rico). Veio o condutor e perguntou: por que o senhor não troca de lugar? E o cara, ensopado: mas trocar com quem?
Fechemos parênteses e voltemos às promessas de palanque. Sempre dando em nada.
Adulto (desculpem pela pretensão), vi o povo tentando trocar ARENA por MDB sem conseguir. Eleição indireta, não tinha jeito. Depois, PDS por PMDB. As propostas de mudanças cada vez mais criativas (os agravamentos de crise exigiam soluções mirabolantes, porque não cabiam mais as soluções simples de antanho). E nada! A crise se aprofundando cada vez mais.
Veio a pré-nova república, com um novo mágico, cartola em punho, conseguindo a mágica de harmonizar "caminhando e cantando" com "quero falar de uma coisa" e outras bossas. Deu no que deu. Nem é bom falar! O povo cada vez mais na pior! Só levando ferro!
Agora, em plena campanha presidencial, quase uma dezena de candidatos estão buscando o voto direto do povo, numa corrida que já começa desenfreada, todos prometendo soluções mágicas para as crises do desemprego, da habitação, da previdência, da saúde, da educação, da segurança pública, da dívida externa, da dívida interna... mais crises do que candidatos; quem sabe um presidente para cada crise resolvesse... ou um ministério... Vários mágicos. Cada um com uma mágica diferente, tentando convencer o eleitorado. E o povo, pra variar, confiando! Para, no final... oh!
Fim de século, plena era dos mágicos de... ohs!
Nota do cadikim: texto do blogueiro, publicado no jornal "Correio do Triângulo", em Uberlândia, na década de 1980.
Imagem: WillTirando.
http://www.willtirando.com.br/o-grande-magico-de-oz/
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