27 de dez. de 2019

O PROBLEMA É QUE EU SOU MINEIRO

No final da semana passada, assisti a uma entrevista extremamente interessante para mim, concedida pelo Ministro da Economia aos vários jornalistas da Globo News.
Quase sem perceber, acabei lembrando-me de escritos meus, de 1987, sobre entrevista concedida pelo Ministro da Indústria e Comércio de então.
O ministro Paulo Guedes ocupou quase todo o tempo falando, provavelmente estratégia para ser menos inquirido. Quando alguém falava em que se deveria fazer certa coisa, respondia, rapidinho: "mas já estamos fazendo" e emendava várias explicações. A ponto de FHC "elogiá-lo", como está na revista Fórum,  (https://revistaforum.com.br/politica/fhc-elogia-entrevista-de-paulo-guedes-deixou-jornalistas-treinados-de-escanteio/), com evidente ironia, como se pode ver no recorte do Twitter, colhido na página acima.


Não gostei das vezes em que interrompeu perguntadores e, em dois momentos, de modo que me levou a duvidar. Falando sobre países que estão com economias mais desenvolvidas que a nossa, referiu-se, dentre outros, à China. Cristiana Lôbo ensaiou perguntar, a oportunidade não apareceu logo. Quando foi possível, argumentou: "Mas ministro! A China treina seus jovens." O ministro devolveu de sem-pulo: ah! a China é uma ditadura! Não vamos falar da China! Vamos falar da Alemanha!
Ora, gente! Mas ele é que havia citado a China. Fiquei por entender. Em outro momento, quando um jornalista comentou sobre a economia do Chile, que passa por momentos difíceis, envolvendo situações de aposentadorias, respondeu que alguns economistas estiveram naquele país (ele, inclusive, embora não se tenha referido a isto na entrevista) e fizeram reformas com resultados bons, mas políticos locais, posteriormente, cometeram erros e atrapalharam. Acrescentou que o problema é que os salários, no Chile, são bem mais altos do que em Cuba, onde os aposentados recebem 100% (não entendi de que, mas é uma referência) e, no Chile, recebem 70%. Mas os 70% do Chile correspondem, em valores numéricos, a mais do que os recebidos em Cuba. Não me agradou a comparação do ministro. Pareceu-me fora de propósito comparar o Chile com Cuba.
Mas o que é que o ministro da Indústria e Comércio de 1987 tem a ver com este papo?
Em 1987, comentei, no jornal "Estado de Minas" - Sucursal de Uberlândia, que a toda hora aparecia alguém do governo para dar explicações. Não era raro obrarem em contradições. Vou transcrever um excerto:
"É! Mas, no último domingo, um Ministro - o da Indústria e Comércio - veio superar tudo o que de belo se tem falado por aí, em termos de explicações. Pintou um Brasil com céu de Brigadeiro, mar de Almirante e planícies para General de Infantaria nenhum botar defeito! Nada de pessimismo! Está tudo muito bem! O povo tem mais é que acrediar nas suas próprias potencialidades e na sua capacidade inesgotável de explorar mais e melhor os recursos disponíveis neste país, onde Cabral tropeçou um dia. Nada de pessimismo, pessoal, que a maré está pra peixe! Foi muito agradável vê-lo e ouví-lo. Boa pinta, simpático e bem falante, sorriso de dente do ciso, otimista que nem técnico de time pequeno, quando enfrenta os grandes. Inteligente e hábil para discutir. Ótimo na esgrima do diálogo. Safa-se das mais perigosas estocadas dos jornalistas, como os mocinhos da TV se desviam dos tiros dos bandidões. Não permitiu, em momento algum, que o pessimismo dos jornalistas lançasse sequer uma nuvenzinha cinzenta no horizonte do imenso azul que é o nosso verdadeiro céu. Mas houve um momento em que eu temi pelo brilho do discurso do senhor Ministro. Foi quando um jornalista perguntou da sorte da pequena e média empresa, na conjuntura dos juros de trinta por cento. Estão sem condições de operar e é muito provável que entrem em colapso, o que irá atingir faixa ponderável dos componentes da economia nacional. Aí foi que eu vi que o homem é bom mesmo! Não deixou por menos. Disse, enfaticamente, que as pequenas e médias empresas terão, em 87, o seu ano de ouro, porque disto está cuidando o Ministério da Indústria e Comércio. E afirmou:
- Vocês precisam ver os programas extraordinários que estamos fazendo no Ministério.
Não deu muito certo, como se viu.
Sei que a situação atual não é idêntica.
Mas incomoda-me a euforia governamental.
Dizem que sou pessimista... montão de coisas.
Acho que o problema é que eu sou mineiro: mais desconfiado do que burro de olaria!

22 de dez. de 2019

UMA ASSOCIAÇÃO DE DEFICIENTES SUPER ATIVA


Tive notícia através de minha irmã mais velha, minha Madrinha. Achei maravilhosa a ideia e dificílima a atividade.
Resolvi acessar a página eletrônica (https://www.apbp.com.br/associacao/) e conheci um pouco da história: trata-se de uma associação internacional, criada em 1956 por um artista que pintava com a boca. Acho que vale a pena conhecer. A página dá notícia das obras que se encontram à venda.
Há 53 artistas com essas qualidades no Brasil.
Os artistas que apresentam alguma deficiência física que os impeça de pintar são treinados para pintar com a boca e com os pés. Obtêm do trabalho seu próprio sustento. Aqueles que, após admitidos, são atingidos por circunstâncias que dificultam ou impossibilitam a produção, terão uma renda vitalícia (espécie de previdência).
Dentre seus produtos artísticos, cartões, calendário, adornos, cartas floridas, kits.
Melhor mesmo é ver alguns de seus artistas e seus trabalhos.





"Bolas Natalinas", original pintado
com a boca por Marcelo Cunha.


"Festejando o Natal", original
pintado com a boca e o pé,
por Maria Goret Chagas.



"Numa estrebaria Ele nasceu", original
pintado com a boca por
Jerzy Omelczuk.





    20 de dez. de 2019

    MILLÔR EM PEDACINHOS (COM ANOTAÇÕES DO CADIKIM)


    "Cuidado com os administradores públicos que lançam todo o peso de sua ação para um futuro remoto. Nem eles, nem os críticos, estarão lá para verificar o acerto das medidas tomadas no presente. Geralmente, o lucro do futuro parte de um presente bem administrado.
    Conversa com Negrão de Lima, Político. 1972"


    Fonte: O LIVRO VERMELHO DOS PENSAMENTOS DE MILLÔR,  pág. 138, sob o título "Hipocrisia social e política", na pág. 129.

    Anotação do cadikim: Lembrando de que um ministro da fazenda fizera uma declaração destacada, de que era preciso deixar o bolo crescer, primeiro, para depois reparti-lo, cadikim foi pesquisar se esse ministro ministrara no período de 1972. Encontrou o autor da frase, Antônio Delfim Netto e uma declaração do mesmo de que tal frase nunca lhe havia passado pela boca. Vamos esmiuçar: Foi encontrá-lo em página da "folha" (sempre a Folha), sob a epígrave "1968 - ATO INSTITUCIONAL Nº 5 (https://www1.folha.uol.com.br/folha/treinamento/hotsites/ai5/personas/delfimNetto.html). Segundo a matéria, Delfim esteve no governo entre 1967 e 1973, período que ficou marcado como o do "milagre econômico". Mais: "Delfim afirmava querer 'fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo', mas os benefícios econômicos não atingiram pessoas de baixa renda, que tiveram seus salários reduzidos e sua participação na renda nacional decrescida de mais de 1/6 para menos de 1/7 em 1970".  Ainda no UOL (https://educacao.uol.com.br/biografias/antonio-delfim-netto.htm) encontramos biografia de Antônio Delfim Netto. Diz que foi o mentor da política econômica brasileira, no período 1968/1973. Excerto: "Criticado pela forte concentração de renda durante esse período, ele disse que seria preciso esperar o bolo crescer para, depois, reparti-lo. Mas o bolo cresceu e nunca foi dividido. Além de conceder incentivos às exportações e ao investimento estrangeiro no país, a política de Delfim era caracterizada pelo congelamento dos salários e a elevação das tarifas públicas". Indagado em entrevista ao GGN (https://jornalggn.com.br/ditadura/nao-tenha-nada-do-que-me-arrepender-diz-delfim-sobre-atuacao-no-regime-militar/), em 24/03/2014, dentre outras coisas, Delfim teria declarado, conforme o texto: " 'Esta frase nunca passou pela minha boca'. Disse que não se pode distribuir o que você ainda não produziu, a não ser que você tome emprestado". Observe-se que não se lhe atribuiu proposta de distribuir o que não tinha, e sim proposta de deixar crescer para distribuir depois. Como sempre, "filho feio não tem pai".
    Parece, sim, que Millôr, em 1972, estava referindo-se ao período em que Delfim Neto foi ministro.




    14 de dez. de 2019

    MILLÔR EM PEDACINHOS




    Millôr tenta compreender e ajudar a desatar o nó górdio.





    Fonte: O MUNDO VISTO DAQUI (PRAÇA GENERAL OSÓRIO) 1980 - 1983, pág. 94.






    11 de dez. de 2019

    SERÁ QUE A TURMA DO GALO PENSOU NO TROCO?

    Já não torço para qualquer time. Nem mesmo para a seleção brasileira. Inútil gasto de energia. Sigo gostando de futebol, que já não se faz como antigamente. Mas não me meto a criticar as paixões que há por aí. Nem adianta criticar os excessos. O mundo está muito doido!
    Em que poderia a turma ter pensado?
    A comemoração de atleticanos assemelhava-se à de quem conquistou um campeonato. Até jogadores do galo participaram.
    Pensei: mas que vantagem que Maria leva?
    Como um dia vem após o outro, um ano também. E um campeonato regional também.
    Não é que o Atlético terá de enfrentar o Cruzeiro, no Campeonato Mineiro de 2020? São três os resultados possíveis. Se o Atlético vencer, terá vencido um time da segundona (grande vantagem?, dirão); se perder, terá perdido para um time da segundona (vai dar gozação); e se der empate, certamente irão dizer que o galo não deu nem para vencer um time da segundona.
    Pior: se o galo não for o campeão mineiro de 2020, irão dizer que é incompetência, como é que não consegue ganhar um campeonato em que os adversários estarão, todos, da segundona para baixo? Sem contar que o Atlético é vice campeão mineiro. O campeão está na segundona do brasileirão.
    Penso que o troco está no ar.


    Imagem: G37.
    https://www.g37.com.br/c/esportes/conselho-tecnico-na-federacao-mineira-de-futebol-define-regulamento-do-campeonato-mineiro-2020


    NAS LETRAS DE NOSSAS CANÇÕES - BAIANADA





    "Quatro baianos um comício na avenida."





    Gordurinha




    Gordurinha, em "Baianada".










    Para ouvir com o autor: YouTube.
    https://www.youtube.com/watch?v=UciTW9MhO7Y

    Imagem: LETRAS.MUS.BR
    https://www.letras.mus.br/gordurinha/



    5 de dez. de 2019

    NAS LETRAS DE NOSSAS CANÇÕES - DEIXA PRA MIM


    "Mais não jogue fora,
    não faça assim.
    Se você não quer,
    pode deixar pra mim."





    Waldeck Artur Macedo (Gordurinha), em "Deixa pra mim".






    Para ouvir com o autor: YouTube.
    https://www.youtube.com/watch?v=B6gxkJ8Xq9Y

    Imagem: PORTAL LUIS NASSIF.
    https://blogln.ning.com/profiles/blogs/gordurinha-40-anos-de-saudade

    4 de dez. de 2019

    3 de dez. de 2019

    NAS LETRAS DE NOSSAS CANÇÕES - TIME PERNA DE PAU



    "Será "possíver", como é que pode,
    desse jeito eu morro.
    "Nóis" grita, grita, grita,
    e os nossos jogador
    num fazem nem um "gorro".








    Vicente Amar, em "Time Perna de Pau".







    Para ouvir com os Demônios da Garoa: YouTube.

    https://www.youtube.com/watch?v=QE48P6VK_6s


    Para ouvir com a Dupla Ouro e Prata: YouTube.

    https://www.youtube.com/watch?v=EzKxNadv5-M


    Imagem: tv UOL.

    https://tvuol.uol.com.br/video/compositor-vicente-amar-morre-aos-83-anos-em-niteroi-rj-04028C1A326EC4C12326

    MILLÔR EM PEDACINHOS - O QUE ESTÁ ACONTECENDO COM OS ESQUILOS?

    "Como quase ninguém sabe - ninguém sabe, estou inventando a crise neste exato momento -, os esquilos, habitantes tradicionais do Campo de Santana, jardim público no centro do Rio, já não armazenam mais coquinhos, caroços, amêndoas. Ora, os esquilos, ao contrário dos generais de quatro estrelas, não são imprevidentes. Amealham o que têm hoje para prover razoavelmente o amanhã. Não agindo assim, os do Campo de Santana devem querer nos dar uma lição qualquer. Tentamos aprendê-la, consultando gentes variadas.
    I - .................................................................
    II - Um ecologista2 nos diz que aveleiras e castenheiras não têm sido constatadas no Campo de Santana nos últimos anos, e que os coquinhos-de-catarro e oitis existentes não frutificaram neste outono devido à precária situação política do país, que já não oferece boas condições de sobrevivência nem pra castanha-de-caju. Assim, continua o ecólogo, temos que nos resignar à deterioração de mais uma cultura extrativa. Aos poucos vão desaparecendo todas. Só uma continua florescente: a de extrair dinheiro do bolso do contribuinte.
    ____________________________________
    2Não confundir com ecolojista, sujeito que vende material de defesa de ecologia e câmaras de eco.".

    Millôr Fernandes, em O MUNDO VISTO DAQUI (PRAÇA GENERAL OSÓRIO), pág. 43, 30/01/1980.






    2 de dez. de 2019

    COMENTÁRIOS DE VERSOS - TORNEIO PÁ NA COVA


    Está lá no G1 PARAÍBA:

    "O torneio 'Pá na Cova' premiou os coveiros mais rápidos da Paraíba, neste sábado (30), na cidade do Conde, litoral sul do estado. A equipe campeã foi a 'The Flash', da cidade de Cabedelo'.".


    Comentário do cadikim:

    Cava a cova, coveiro!
    Bem depressa! Seja o primeiro!
    Quem vai lhe entregar o prêmio
    por ter-se mostrado exímio,
    e ter sido o mais diligente,
    será, amanhã, seu cliente.



    Organizador do 'Pá na Cova', Fábio Tatu, durante a competição que premiou o coveiro mais rápido da Paraíba  — Foto: Divulgação/Fábio Tatu
    "Organizador do 'Pá na Cova', Fábio Tatu durante
    a competição que premiou o coveiro mais rápido da Paraíba
    Foto: Divulgação/Fábio Tatu".
    Nota do cadikim: Ensaio?

    Imagem: G1 PARAÍBA.

    28 de nov. de 2019

    A COISA DEVE ESTAR FEIA DEMAIS NO CHILE! CÂMARA DOS DEPUTADOS APROVA REDUÇÃO DE 50% DOS SALÁRIOS DOS DEPUTADOS. SE A MODA PEGA...

    bandeira do chile em tecido  países frete grátisAcordo hoje com uma notícia absolutamente insólita. Acho que é a primeira vez (aos 80 anos!) que ouço coisa desse tipo: Câmara dos Deputados do Chile aprovou a redução de 50% dos salários dos deputados, estendendo a medida ao presidente, aos ministros, aos subsecretários e aos governadores.
    Que coisa linda!
    Ah! Ao ampliar a notícia, encontrei-a na página do G1 (https://g1.globo.com/mundo/noticia/2019/11/27/deputados-do-chile-aprovam-reduzir-salarios-de-presidente-e-de-parlamentares.ghtml). Com um picilone, entretanto: segundo o texto, a medida tem caráter transitório e não cortará os benefícios extras.
    Assim, até eu, ai!
    Parece-me que os tais "extras" é que encarecem o custo do nosso Congresso e adjacências.
    E se a moda pega? Como muitas das maldades que chegam ao Brasil, como o petróleo em viagens ultramarinas, poderão os nossos parlamentares ser "contaminados" pela ideia, se a coisa vier a ficar fora de controle (vejo-me obrigado a admitir a hipótese, em face de até andarem falando em AI-5 por ai).
    Quanto à transitoriedade da medida, ponho-me de acordo. Melhorando a situação, a medida poderá ser revogada. Poderá até ser pensada uma espécie de restituição. Como se poderia pensar em restituição sobre a reforma da Previdência, concordando todos os especialistas que se manifestaram com que a Nação - o trabalhador - está perdendo (ninguém fala em Nação, só no Estado, que é mero instrumento para ordenamento das coisas nacionais). Poderá tambem ser como fez Collor, que meteu a mão do Estado na grana da Nação, com prazo para devolver. E devolveu.
    Solitária manifestação semelhante ouvi do ministro Paulo Guedes: falando do projeto de economizar um trilhão para o Estado, disse que, se houver melhora, poderá melhorar também a vida do trabalhador "por solidariedade".
    O povo precisa de solidariedade do governo não, senhor Paulo Guedes. Quer que se governe para a Nação e não para o Estado, como qualidade de fazer.


    NOTA ALEATÓRIA: Utilizei a palavra "picilone", que conheço como alguma coisa indefinida que se quer dizer. Fui pesquisar a existência do termo, porque parece-me uma corruptela de ípsilon (Y), aprendendo na busca que é a quinta letra do alfabeto latino.
    Quem encontro? Noel Rosa (tinha de ser ele), com o samba "Picilone", palavra que rima com Yvone, que parece ser nome alternativo da música.
    A eventuais curiosos que pretendam rever ou conhecer Noel, adiciono o link: https://www.youtube.com/watch?v=9uKcVDuO7iA



    IMAGEM: MERCADO LIVRE
    https://produto.mercadolivre.com.br/MLB-749515540-bandeira-do-chile-em-tecido-paises-frete-gratis-_JM?quantity=1

    25 de nov. de 2019

    MILLÔR EM PEDACINHOS - MORALIZADOR-MOR

    "Ontem mesmo apreciei um caso extremo de apreço por essa campanha. Aqui em frente à minha casa dois baitas crioulos abriam um buraco no asfalto. Um deles segurava com as duas mãos uma haste de ferro pontiaguda fincada no asfalto. O outro, brandindo um malho com absoluta perícia, dáva sólidas porradas - perdão, pancadas! - no ferro que o outro segurava. De repente, o malho do primeiro crioulo resvalou e atingiu a mão do segundo, fazendo sair faíscas. Ele, como um animal, se voltou para o outro quando viu, atravessando a rua, um grupo de pequenos escolares orientados por uma freirinha. Gemendo, berrou: "Caro colega, peço-vos que de outra feita tenhais mais cuidado ao brandir essa vossa ferramenta de trabalho pois do contrário podereis vir a me machucar seriamente."
    05/05/1982


    Millôr Fernandes, no livro "O MUNDO VISTO DAQUI (PRAÇA GENERAL OSÓRIO)", pág. 181.




    23 de nov. de 2019

    "...É CULTURAL!" - A EXTENSÃO DA PALAVRA PROFERIDA


    "Você não vai acabar com desmatamento nem com queimadas, é cultural..."

    Ouvi, de corpo presente ante a TV, o Presidente da República proferir essas palavras, quando indagado sobre o crescimento do desmate na Amazônia, desde agosto/2018 até julho/2019. Estão transcritas na página do G1 POLÍTICA, com data de 20/11/2019 (https://g1.globo.com/politica/noticia/2019/11/20/voce-nao-vai-acabar-com-desmatamento-nem-com-queimadas-e-cultural-diz-bolsonaro.ghtml). 
    Dizem por aí que a palavra proferida ganha o mundo e todas as circunstâncias que o cercam. Suscitaram-me, então:

    - Você não vai acabar com a violência nem com a criminalidade, em qualquer de suas manifestações, é cultural...

    - Você não vai acabar com a corrupção, é cultural...

    - Você não vai acabar com o abuso de poder político, é cultural...

    - Você não vai acabar com as mutretas no futebol, é cultural...

    - Você não vai acabar com as mutretas, é cultural...

    - Você não vai acabar com os exorbitantes lucros dos bancos, é cultural...

    - Você não vai acabar com o mau atendimento das concessionárias de telecomunicações, é cultural...
    -
    -
    -
    -......
    - Corolário: Você não vai acabar com porcaria nenhuma, é cultural...




    Imagem: Almocreve das Petas.

    21 de nov. de 2019

    ESCÂNDALO!


    Mas vejam se não é mesmo um escândalo esse flamboyant, que vejo da minha janela!
    (não era por causa de pandemia,
    que não existia ainda).





    19 de nov. de 2019

    16 de nov. de 2019

    VASCO X FLAMENGO PODERIA TER SIDO UM LINDO

    Desmancha prazeres? Poder ser. Mas não consigo ver só o lado positivo das coisas. Foi um jogão, com alternância no placar, muitas jogadas espetaculares, muita emoção. Ótimo!
    Mas estiveram presentes também alguns fatores, que acho terem vindo de vagar e crescido com o tempo, e que, penso, só servem para macular a beleza do futebol.
    Primeiro, falo de uma puxão no braço, de Rafinha sobre um vascaíno (Rossi, se não me engano). Este encarou Rafinha que fingiu ter tomado uma cabeçada. O juiz deu cartão amarelo só para o vascaíno (pode ser que não tivesse visto o puxão do Rafinha, mas auxiliares serem para chamar a atenção do árbitro).
    Vi no puxão de Rafinha a evidente intenção de interromper um contra ataque. Foi mais longe: começou a criar conflito. Só depois de muita insistência do Rafinha em reclamar não sei o que para o árbitro foi que lhe sobrou um cartão amarelo.
    Esse tipo de comportamento é muito frequente. Tenho pensado que não é mais necessário saber jogar futebol (o Rafinha sabe e não precisa desses expedientes). Basta saber puxar uma camisa, um calção, chutar a bola para longe do local da falta, retardar a partida... Jogar bola é um detalhe.
    Pode ter nada a ver com o desempenho recente da seleção brasileira.
    O outro fato - este incomoda-me muito mais - é o da comemoração de gols. Há algum tempo atrás surgiu Henrique Dourado comemorando gols com o gesto de "degola", exatamente em um tempo em que a tv mostrava cenas reais de degola, no oriente médio, condenados enfileirados e carrascos com as adagas nos respectivos pescoços. Sempre achei que gestos violentos de jogadores transmitem sentimentos violentos para a torcida. Mas a própria crônica esportiva, narradores e comentaristas referiam-se a Henrique Dourado como "o ceifador".
    Pois não é que o Bruno Henrique, ótimo jogador, com desempenho ótimo tanto em assistências quanto em finalizações, resolveu incorporar o tipo que acho pernicioso? Aperfeiçoou! Após os gols que marca, o atleta passa a palma da mão direita sobre o antebraço esquerdo (como se estivesse afiando a cimitarra). Em seguida, repete o gesto da degola. Já vi, também, Gerson e o mesmo Bruno Henrique cruzando as duas mãos no pescoço e simulando uma degola com duas lâminas.
    Acho de péssimo gosto, podendo ser um catalizador de violência.
    Tenho visto muito jogador comemorar gols com expressão de ódio. E dizem que é momento de alegria!
    ReproduçãoMuita saudade das comemorações de Viola, com seus "trenzinho", "telefonema", "porco", "dancinhas" e outras demonstrações de alegria!

    Imagem: UOL ESPORTE.
    https://www.uol.com.br/esporte/top5/top-5---comemoracoes-com-aderecos-no-futebol.jhtm

    15 de nov. de 2019

    PENSANDO UM NOVO MÉTODO DE ELEIÇÃO (EDITANDO EM 05 NOV 2020, CONSIDERANDO AS ELEIÇÕES DO TIO SAM. NÃO SERIA MENOS COMPLICADO COMO NA CÓRSEGA, SÉC. V a.C?)


    Parece que virou mania políticos se autodeclararem presidentes. Assim rola na América Latino Espanhola.
    Sempre relendo minhas revistas de Asterix o Gaulês, encontrei uma experiência que poderá vir a fazer sucesso, conforme o andar da carruagem.
    Colo os quadrinhos:





    IMAGEM: Asterix na Córsega.
    Texto: René Goscinny.
    Desenhos: Albert Uderzo.


    31 de out. de 2019

    SARGENTO BRAZINHA VOLTA A ATACAR - EDIÇÃO EM 05 MAI 2020

    Nota do cadikim: Por via das dúvidas, fomos conferir o link da fala do Deputado Delegado Waldir. Assiti, agora, ao vídeo referido no texto.

    Quem achar que deve saber quem é e o que fez o Sargento Brazinha, pode reportar-se a este mesmo cadikim, em "SARGENTO BRAZINHA" (http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com/2012/05/sargento-brazinha.html), crônica publicada em 27 de maio de 2012, quando me lembrei do fato por causa de idas e vindas políticas (o Brasil também se repete, uai!).
    Muito bêbado, o Sargento Brazinha "interditou" uma boate, na zona boêmia, em Passos-MG, "causdequê" a dona do estabelecimento, considerando o lastimável estado de embriaguês do sargento, recusou-se a servir-lhe uma pinga; em face da ordem de interdição, madame resolveu servir a bebida e o Sargento Brasinha apressou-se a "desinterditar" a boate.
    Então o fato repetiu-se? Não exatamente. Para mim, no mesmo diapasão, mas muito pior e em tom mais exasperado.
    O Presidente da República achou de intervir (em bastidores, conforme relatos jornalísticos, mas tudo escrachado durante a briga que se formou depois), para  colocar o Deputado Eduardo Bolsonaro na liderança do PSL na Câmara dos Deputados, (substituindo o Delegado Waldir, PSL-GO). Em represália, o Delegado Waldir contra-atacou e acabou se referindo ao Presidente da República como "vagabundo" e afirmando, alto e bom som, que vai "implodir" o Presidente, mostrar gravações que possui do mesmo (é só rodar na rede e ver muitos registros).
    Olha que estou habituado a ver Deputados Federais e Senadores ofenderem-se mutuamente, via Embratel, em TV fechada (TV Câmara e TV Senado). Mas nunca vi nem ouvi tais referências ("vagabundo" e "vou implodir"), estando o outro ausente, dando ensejo às publicações na mídia. Também nunca vi uma autoridade mencionada como "vagabundo" quedar-se sem reação imediata. Aliás, aos oitenta anos de idade, nunca ouvira uma autoridade qualquer referir-se ao Presidente da República como "vagabundo", pela televisão.
    Pois não é que, lista pra cá, lista pra lá, reuniões e xingamentos, parecia que voltara a ser tudo como antes no quartel de Abrantes? Eduardo Bolsonaro conduzido à liderança; Delegado Waldir, reconduzido em breve "dança de cadeiras", instado a falar sobre o que tem para implodir o Presidente, respondeu que "...nada é só questão de... é uma fala de emoção, né?... um momento de sentimento..." - declaração que, acontecida em Goiás, ficaria mais própria em canção com dupla sertaneja (http://g1.globo.com/globo-news/globo-news-em-pauta/videos/t/todos-os-videos/v/delegado-waldir-lider-do-psl-na-camara-volta-atras-apos-falar-em-implodir-bolsonaro/8012701/).
    Idas e vindas, a briga continua na Justiça, bivaristas querendo suspender bolsonaristas. Não se sabe em que vai dar.
    Relação com Antônio Carlos Magalhães? À época da intervenção no Banco Econômico, ACM ameaçou apenas dizer "quem era e o que faziam" diretores do Banco Central. Não passou disso.
    Relação com o Sargento Brazinha?
    A mim mais parece um bando de bêbados a quem se negou um gole de pinga.

    Imagem: Recorte (edição) de imagem enviada ao YouTube por Hélio Reis, em 15/10/2019, em seu canal (https://www.youtube.com/channel/UCBmrC88BZ56Fq8qnWXDbFIQ)


    10 de out. de 2019

    MILLÔR EM PEDACINHOS



    "Mas me inverto. Falo de fracassos quando queria falar de uma vitória. Há poucos meses, numa das primeiras reuniões do Conselho Superior de Censura, alguém teve o bom humor de me levar a sério quando declarei que um conselho de censura não pode ser superior. E propôs a mudança do nome do órgão censor. Ainda há, sem trocadilho, bom senso em Berlim."


    Millôr Fernandes, em "Censura livre?", no livro "O MUNDO VISTO DAQUI", pág. 95.




    A INTOLERÂNCIA NÃO ESTÁ SÓ DE UM LADO

    Bandeiras dos países de língua oficial portuguesa.
    Bandeiras dos países de
    língua oficial portuguesa
    Não me quero envolver em politicagem. Mas a políticagem me envolve, ainda que eu preferisse que a política fosse tratada como coisa séria. Não me esqueço de um ensinamento que me foi passado por René Goscinny, no episódio "O Caldeirão", da série "Asterix o Gaulês". A aldeia dos indomáveis gauleses recebia a visita de um chefe vizinho, com quem os irredutíveis não se relacionavam bem, porque esse chefe negociava com os romanos de Júlio César, que tinha como ideia fixa conquistar toda a Gália, mas esbarrava na bravura dos habitantes daquela aldeia e na poção mágica de Panoramix - druida mega campeão do Festival de Druidas que era realizado anualmente, na Floresta dos Carnutes. Pois bem: os súditos de Abracoursix - o colérico e bravo chefe - torceram os narizes (grandes, como narizes gauleses) à visita e não queriam receber o chefe visitante. Abracoursix foi taxativo: "quando um chefe gaulês recebe outro chefe gaulês, o protocolo deve ser observado" (mais ou menos isso, este sentido).
    Ainda como introito, digo que, em minhas lides militares, observava que, se o comandante gostava de determinada atividade, a unidade que comandava ia bem naquele quesito; se não gostava, ia do jeito que Deus provia. Costumava eu dizer que "comandante não tem gostar", tem de "pegar geral as atividades submetidas a seu comando".
    Mas por quê e pra quê essa lereia toda?
    Acontece que acordei com a notícia de que o Presidente da República disse que não assina (agora, pareceu-me) o diploma relativo ao Prêmio Camões de Literatura, outorgado a Chico Buarque de Hollanda. Assustei-me com que o Sr. Presidente entenda de ignorar o "chefe gaulês" da terra de Camões e mesmo a comissão mixta encarregada da outorga do prêmio que consagra autores da língua portuguesa, composta por representantes do Brasil (2), de Portugal (2), de Moçambique (1) e de Angola (1). Susceptibilidades e idiossincrasias à parte, vejo que cada vez mais as simpatias e antipatias políticas estão atravessando fronteiras da convivência (o facebook está cheio!). Nem vou discutir isto!
    Mas o cadikim tem um título, pô! "A intolerância não está só de um lado".
    Pois não é que, fuçando a rede para tentar entender o assunto, encontro: "Morrissey expulsa manifestantes de esquerda de seu show" (https://www.diariodocentrodomundo.com.br/entretenimento/morrissey-expulsa-manifestantes-de-esquerda-de-seu-show/). Ora direis: mas esse tal Morrissey é de direita, uai! Não é a mesma coisa? Não está do mesmo lado do Presidente?
    Penso na contramão: o Presidente, de direita, abominando os artistas de esquerda, recusa o aperto de mão a Portugal, Moçambique e Angola, contrariando a máxima de Abracoursix. O artista - que pertence a uma classe que ordinariamente se alinha à esquerda - pode também ser um radical de direita e não só abominar a esquerda, mas agir de modo a expulsá-la de um espetáculo artístico.
    Por fim, penso que o mundo poderia ficar um pouquinho menos ruim se Chico Buarque abstraísse a pessoa de Jair Messias Bolsonaro e fizesse baixar neste o Presidente da República, que representa a Nação que adora Chico e que o estaria homenageando.
    É! Acho que vão ser necessárias muitas encarnações para que eu consiga inserir-me no contexto. Sou um "sem turma"!


    Imagem: Biblioteca Nacional.
    https://www.bn.gov.br/acontece/eventos/2017/06/divulgacao-vencedor-premio-camoes