2 de mar. de 2013

CHICO ANYSIO - O GÊNIO DO HUMOR







Dias atrás, comentei "Sou Francisco", livro (Editora Rocco) em que Chico Anysio conta, em meio à sua própria história, a história do rádio e da televisão brasileiras     
(http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2013/02/chico-anysio-o-genio-do-humor_13.html).
Gostaria de ter visto este livro em alguma faculdade de comunicação. Infelizmente, como já disse, comprei-o em um sebo.
Vou pinçando aqui e ali e trazendo ao cadikim relatos que acho muito interessantes. Vamos juntos?

"... quando a Rádio Guanabara foi vendida ao Adhemar de Barros e ele nomeou um diretor cujo nome não me ocorre agora. Este diretor fez de uma atriz chamada Wahyta Brasil diretora do radioteatro. Wahyta Brasil mudou tudo na rádio. Sua primeira providência foi transferir para a tarde o horário de ensaio do Grande Teatro, que ia ao ar às nove da noite. Apresentaríamos uma peça sobre a revolução cubana. Não a do Fidel, mas a que colocou Batista como ditador. Durante o ensaio Fernanda Montenegro, que fazia o principal papel feminino, pediu licença para corrigir um erro do autor e, apoiada na sua cultura, mostrou o equívoco.
- Há um engano aqui. A peça diz que Fulano é republicano, mas está errado. Fulano é democrata, tanto que quando Beltrano propôs a Fulano que...
E deu uma pequena aula de história de Cuba. Wahyta Brasil, em vez de agradecer e corrigir, irritou-se, respondendo bruscamente e esfregando na cara da Fernanda sua condição de diretora.
- Mas aqui ele vai ser republicano. Segue o ensaio.
Faltavam dez minutos para as nove da noite e Fernanda não aparecia. Somente aí se aperceberam de que naquela tarde já deixara o rádio.
- Arranja alguém para fazer o papel.
Correram à sala de Sagramor de Scuvero, mulher do Miguel Gustavo, e ali estava Jacira Gomes, sua secretária. Jacira Gomes ... fez o papel quase à primeira vista e Fernanda Montenegro nunca mais apareceu na rádio, nem para receber o pagamento. Naquela mesma semana fez um teste no Teatro Regina (hoje Dulcina) e um mês depois estreava no teatro, onde não parou mais de representar e de ganhar prêmios.
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Mas a teimosia e a presunção de Wahyta, seu abuso de poder, sua falta de competência para o cargo e seu primeiro e imerecido comando ajudaram a que mais cedo tivéssemos o brilho de Fernanda no palco. Nada acontece por acaso, mas por acaso é que tudo acontece."



História de talento e de coragem, de confiança em seu próprio talento. Fernanda desempregou-se sem pestanejar, em homenagem à sua dignidade. Sutil, Chico Anysio escreveu "...aí se aperceberam de que naquela tarde já deixara o rádio...". Não a rádio. Lembrei-me do título de crônica do mesmo Chico: "Brasil, o país do amanhã". Não o país do futuro, mas do amanhã, mesmo.


Fonte do texto: páginas 43/44.
Foto de Fernanda: Belíssima.
http://belissima.globo.com/Novela/Belissima/Personagem/0,,PS347-5002,00.html
Foto de Chico Anysio: Capa do livro.

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