É claro que a comemoração do 21 de abril, em Ouro Preto, não poderia ter deixado de relembrar Tancredo Neves. Nem de falar nas manifestações populares, nas ruas, pelas "Diretas Já!" Segundo leio alhures, trezentas mil pessoas, na Praça da Sé, em São Paulo. Lá estavam, em palanque, claro, Ulisses Guimarães, Tancredo Neves, Lula, Leonel Brizola, Franco Montoro, ... o grand monde, com a enorme massa apoiando.Na página da Radio Câmara (http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/radio/materias/REPORTAGEM-ESPECIAL/466301-DIREITAS-JA-REJEICAO-DA-EMENDA-DANTE-DE-OLIVEIRA-MARCA-A-HISTORIA-DO-PAIS-BLOCO-1.html), leio que um milhão de pessoas lotaram a Cinelândia, no Rio de Janeiro; que um milhão e setecentas mil pessoas compareceram ao comício pró-Diretas, no Vale do Anhangabaú. Uma participação expressiva, em quantidade, que é mencionada, até hoje, comparando com as mais recentes manifestações populares. Encontro na Wikipédia que, de acordo com o IBOPE, 84% da população brasileira estavam a favor da Emenda Constitucional nº 05/1983.
Pois não é que a Emenda Dante de Oliveira, das "diretas já", foi rejeitada? Na busca de restaurar eleições diretas constitucionais, a voz do povo não foi ouvida. Os políticos fizeram diferente. Ora direis: mas o regime era ditatorial! Ora, digo eu, era ditadura, sim. Mas o imenso apoio popular poderia ter sido encorajador. Nem tão encorajador assim foi, porque, ainda segundo informa-me a Rádio Câmara, "...113 deputados não apareceram para a sessão". Vê-se que, se tivessem cumprido seu dever condignamente, a emenda poderia ter passado. Mas Tancredo Neves foi eleito Presidente, em eleições indiretas, concorrendo com Paulo Maluf.
A Constituição reza que "todo poder emana do povo". Mas na prática não é assim.
Quando das manifestações de 2013, este cadikim postou "Estás brincando, Excelência" (http://cadikimdicadacoisa.blogspot.com.br/2013/07/estas-brincando-excelencia.html), indicando que a Presidente da República, em "resposta" às manifestações nas ruas, encaminhou ao Congresso proposta para realização de plebiscito, indicando cinco temas, nem um deles manifestado naqueles eventos. E várias pessoas, no governo, repetem que "é preciso ouvir a voz das ruas".
Não sou um otimista político. Muito pelo contrário. Vejo a roda da vida passando muitas vezes pelos mesmo lugares, nas voltas que dá. Muitos políticos de outrora continuam na crista da onda. Abro parêntesis: classifico-os como "rolhas". Você pega uma rolha e joga no vaso sanitário. Dá descarga sem medo de gastar água. Quando pára, lá está a rolha, por cima. Fecho parêntesis.
Há algum tempo, rabisquei um samba, que procurava acompanhar a roda da vida política, desde o governo Sarney (1985 - 1990) até o início do governo Fernando Henrique (1995 - 2002), tentando retratar as questões em voga: planos econômicos malucos, corrupção, cassação, anõezinhos do orçamento... Parei no meio do caminho (ajuste fiscal no governo FHC), porque
cheguei à conclusão de que acabaria rodando em círculos. Não deu outra. Mostro a parte que foi feita, achando que cada época retratada cabe na sequência pós-FHC:
DEVAGAR COM O ANDOR, MEU IRMÃO!
Devagar com o andor, meu irmão,
que o santo é de barro (bis, os dois versos).
Sai governo, entra governo
e eu não sei em que ponto de apoio me agarro.
No tempo do plano cruzado
que foi um cruzado na economia,
só se via nego muito sufocado.
Matar a inflação por decreto
e dizer que vai dar tudo certo é fria.
Devagar com o andor...
Mudar o padrão monetário
é papo pra otário e o otário é o povo .
Operário dançou com cruzado novo.
Salário rodando pra baixo
e o custo de vida só roda ao contrário.
Devagar com o andor...
Disseram que uma quadrilha
formada em Brasília
roubava da gente.
Presidente foi somente um grande embuste.
Se ninguém tá mais roubando,
pra que é que precisa do tal de ajuste?
Devagar com o andor...
Cansei!
Foto: Projeto Cinestesia.
http://projetocinestesia.blogspot.com.br/
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