8 de mai. de 2020

SEGREDOS DE ESTADO E PROTOCOLOS

Acordei hoje com várias notícias que merecem comentários. Aliás, estamos com muita coisa que merece, mas ausente o princípio da isenção, fica difícil.
O General Braga Neto, ministro da Casa Civil, interpelado por uma pessoa (não sei se é jornalista), a respeito das controvérsias sobre a reunião ministerial a que se referiu Sérgio Moro, no inquérito que apura circunstâncias de sua saída do governo, ofereceu uma resposta da qual extraio o seguinte excerto, colhido em vídeo publicado pelo UOL:


"A reunião ela não necessariamente ela é filmada... às vezes não filma, o Presidente fala lá: 'não quero que filme'...".

Disse, também, que muitas reuniões ministeriais acabam tratando de assuntos de segurança nacional, que não devem ser divulgados. Considerando simplesmente assim, poderá alguém objetar que um dos princípios constitucionais da administração pública é a publicidade. Não conheço disposição constitucional que excepcione esse princípio (não estou afirmando que não há, digo só que não conheço, não tenho a Constituição de cór). Acho que não interfere aqui.
Penso que, nos dias de hoje, não há mais que falar em "segredo de Estado". Pode haver conveniência em termos de necessidade transitória. Só acho que não faz sentido falar em segredo de Estado, desde que hackers introduziram-se no Pentágono até a recente intromissão de Putin nas eleições para presidente dos EEUU.
No meio das contradições sobre a tal reunião, a imprensa, sempre usando o sagrado dever de omitir a fonte (penso ser mais uma necessidade de conservá-la do que de protegê-la) informa que, na tal reunião, além de altercação entre dois ministros, palavrões, mau humor do presidente, etc., houve também críticas à China. Alguém objetou que a divulgação disso poderia causar mal estar ou coisa semelhante.
Ora! Todo mundo já sabe, agora, que alguém afirmou ter havido críticas à China. Então, não precisa de segredo mais. Deepak Chopra refere-se a um princípio, mais ou menos assim: "o não revelado é o campo de todas as possibilidades". Entendo: se se conta o santo, mas não conta o milagre, cada um pode pensar o que quiser e imaginar o milagre, por mais doida que seja a imaginação.
Bom, gente! Vou parar por aqui. Não sei por que resolvi esvaziar o saco. Meu objetivo principal era caracterizar que todos os homens públicos praticam bizarrices a portas fechadas - quaisquer que sejam as portas - e não gostam que essas bizarrices sejam conhecidas de pobres mortais. Protegem-se atrás do Poder.
Isto remete-me a René Goscinny, autor dos textos das aventuras de Asterix, o Gaulês. Fiz releitura recente e trago duas páginas que podem ilustrar perfeitamente a tal reunião.


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Vídeo: UOL NOTÍCIAS.
https://noticias.uol.com.br/videos/2020/05/07/braga-netto-diz-que-reuniao-da-discordia-pode-nao-ter-sido-100-filmada.htm


Imagens: "Asterix entre os Belgas".

René Goscinny (Textos) e Albert Uderzo

(Desenhos).


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