Não é propaganda, não, gente! Felizmente, as editoras começam a tratar de artistas, de todas as áreas. Nossa memória era muito pobre. Que eu me lembre, tenho "De Letra e Música", de Billy Blanco, que comprei em um sebo, por valor ínfimo. Billy é um dos ícones da Bossa Nova. Conta, com muita graça, os motivos de suas músicas. Na década de 1960, já cantava a ecologia. Qualquer hora dessas falarei dele. Tenho um Moreira da Silva - O Último dos malandros - de Alexandre Augusto, também comprado em sebo, por coisa parecida com oito reais. Alexandre Augusto é jornalista, nascido em Feira de Santana - BA. Foi graças a uma bolsa de estudos do CNPq e da Construtora Norberto Odebrecht (também não é propaganda, é crédito) que pôde instalar-se no Rio de Janeiro e aprofundar suas pesquisas sobre a vida de Antônio Moreira da Silva (vou falar deste, também em breve). Artista não vendia. As pesquisas tinham de ser financiadas. Parece que a coisa anda melhorando. Estamos com vários livros, no mercado, sobre as vidas de artistas. Muitas vezes contadas pelos próprios, com a participação de jornalistas.
Estou selecionando textos dos livros que estou lendo, para comentar no blog. Já falei do Adoniran Barbosa (pretendo voltar). Agora, vamos ao Lobão:
Pág. 49: "E como não podia sair dos limites do playground, arranjei um meio de invadir um terreno baldio que ficava atrás do prédio e ali inaugurei meu planeta de origem - a Galinaçolândia. Um planeta povoado por galináceos muito distante da terra. Comecei a ter uma paixão irracional por... galinhas! Arrumava uns pintos de um dia na loja da Purina lá em Pedro do Rio e prosseguia na criação alojando os frangotes no banheiro do apartamento em Copacabana. Comecei a me interessar tanto por galinhas que comprei um livro chamado 'Como criar galinhas'. Logo me decepcionei quando percebi que o intento do livro era criar galinhas para corte ou para postura de ovos. Eu desejava ter galinhas como confidentes".
Lobão volta ao assunto na pág. 55: "Foi o auge da minha mania por galinhas. Meus frangos lá no sítio estavam com cinco meses... eram 23 que vingaram e todos me viam como a figura paterna. Quando chegava na área era um tal de frango entrando pela minha camisa, se empoleirando na minha cabeça, se acocorando debaixo do meu braço... Vivia o meu planeta o tempo integral, e quando descia de Pedro do Rio, cantava andando por todo o apartamento o hino do meu planeta, que era o hit do Sérgio Reis, 'Coração de papel'. Passava o dia todo emulando aquele vozeirão do Serjão pelos cantos a cantar: 'Se você pensa que meu coração é de papel... não vá pensando, pois não é... etc.' Até hoje não consigo fazer uma conexão lógica entre as galinhas e a canção, só me lembro que achava tudo muito harmonioso".
Muitas são as conexões, no cérebro (entendo nada disto, cientificamente, mas o meu costuma ser um turbilhão). Achei bacana a conexão da intimidade dos frangos com a imagem de figura paterna. Maluco? Romântico? As duas coisas e mais outras?...
2 comentários:
Sempre polêmico e muito lúcido o Lobão!
De fato, Zé! Polêmico incomoda. Lúcido mais ainda. Abraço!
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