Certa vez, um cigarro astucioso
Me falou com disfarce de ladrão:
- para seres Poeta primoroso
Eu te ajudo na tua inspiração
Quando a mente cansada permanece
De sentido e de rimas bem vazia,
Com algumas tragadas te aparece
O que queres dizer em poesia.
Te incentivo a falar dos indigentes
E da vida que encerra dias breves,
Te forneço as imagens excelentes
No perfil da mulher que tu descreves
Desta minha fumaça o conteúdo
Alimenta o prazer de uma ilusão,
Tu me fumas poeta, que eu te ajudo,
Para nunca faltar-te inspiração
Risca o fósforo e me queimes, por favor,
Tu precisas compor a tua rima
E eu também procurando outro setor
Subirei bem feliz de mundo acima
Quando ouvi do cigarro os seus pedidos
Escutei um conselho para mim,
Eu senti penetrar em meus ouvidos
Uma voz a falar dizendo assim:
- O cigarro procura te enganar
Te iludir e fazer a tua ruína,
Vai fazendo teus versos sem fumar,
Não aumentes no corpo a nicotina
Quando ouvi esta voz suave e pura,
Do meu eu transformado me encontrei
E falei ao cigarro com censura,
Tenhas calma, amanhã te fumarei
E no dia terceiro, indiferente
Me disse ele: Fumante vagabundo!
Descobri o teu truque e estou ciente,
Só se acaba amanhã no fim do mundo
Dando Graças a Deus eu conheci
Que alcancei uma graça, uma virtude,
Foi com este milagre que venci
O maior inimigo da saúde.
Do livro "Aqui tem coisa" - Editora Hedra.
Foto: Biblioteca
Patativa do Assaré.http://bbpatativadoassare.blogspot.com.br/2009/10/blog-post_24.html
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