7 de jul. de 2014

DIÁRIO DE UMA POMBINHA

Querido diário,

A manhã de hoje estava muito fria. Fiquei bem quieta no ninho, para aquecer melhor meus ovinhos. Os pardais causaram um certo alvoroço, como sempre. Pedi que dessem um tempo, porque precisava de sossego. Ainda pela manhã, apareceu um bem-te-vi e pousou em um galho, bem perto de mim. Vi logo que não era visitinha de cortesia. Não sei se você
sabe, diário, que aquele pássaro é carnívoro e costuma comer ovos também. Fiquei com medo de que atacasse meu ninho. O bem-te-vi afastou-se e aproveitei para voar um pouco, a fim de encher o papinho, pois desde ontem não comia nada. (Snif, snif, cafungada profunda) Quando voltei, querido diário, uma tragédia. Só um ovo no ninho. Acho que o bem-te-vi aproveitou-se de minha ausência e atacou. Preocupei-me mais ainda quando apareceram umas ararinhas fofoqueiras que pousaram, uma no telhado próximo e a outra em um fio, e  ficaram tagarelando por perto, dizendo que o bem-te-vi estava piando alto e estridente, e se gabando de ter comido um ovo e dizendo que ainda iria comer o outro. Parece que queriam meter-me medo. E conseguiram.



Fiquei apavorada, meu diário, e piei baixinho, com tristeza, de desgosto e preocupação. 
Foi quando o futuro papai chegou e assumiu o ninho, enquanto eu saía um pouquinho, para acalmar-me. Voltei dali a pouco e deitei-me sobre o ovinho que
sobrevivera, para chocá-lo. Papai ficou por perto, vigiando. Foi quando o bem-te-vi apareceu de novo, agora escondido entre folhas, disfarçando-se. Papai não podia enfrentá-lo porque o bem-te-vi é muito mais forte e muito bravo. De repente, sem que eu pudesse evitar, o malvado, de um salto, passou junto ao ninho, enfiou a cabeça sob
meu corpo e saiu carregando o último ovinho. Meu Deus! Como pode ser tão mau? Estou arrasada, querido diário! Muito triste, abandonei o ninho vazio. Não sei o que farei da minha vida. Por enquanto, vou curtir minha dor em outro lugar. Acho que a natureza irá dar-me outra oportunidade, quando conseguir
controlar minha tristeza. Não sei se usarei o mesmo ninho. E espero ver esse bem-te-vi bem longe de mim. Deseje-me boa sorte, meu querido diário!

Nenhum comentário: