6 de jul. de 2014

ESTIGMAS E INTOLERÂNCIA: QUEM É O QUE?

Há algum tempo, fui taxado de reacionário por duas pessoas, ambas cultoras de idéias políticas de esquerda. Conheço o significado da palavra só "de ouvido". Por isto, fui recorrer ao dicionário. O Aurélio informou-me:


"reacionário. Adj. 1. Relativo à, ou próprio da reação (5 e 6). 2. Que é sectário dela. 3. Aferrado à autoridade constituída; contrário à liberdade; tirano, depótico. * S.m. 4. Indivíduo reacionário."

Fui ver a que se referiam os números 5 e 6 entre parênteses. Está no verbete "reação".


"5. Oposição conservadora que tende a impedir qualquer inovação no campo das atividades humanas. 6. Sistema político extremamente conservador, contrário às idéias que envolvem importantes transformações político-sociais."

Meu Deus! Assustei-me! Será que sou tudo isso aí? Será que sou um entrave ao progresso? Será que sou um monstro que não quer o acesso das classes menos favorecidas aos bens que todo homem almeja e necessita?
Penso que ações democráticas e progressistas podem nem sempre seguir conforme as idéias idem. Tenho visto isto muito, mas não me cabe discutir. Posso não ter razão. Quero discutir é o estigma de reacionário. Principalmente, porque já fui taxado, também, de radical. A respeito, digo que concebo o diálogo do radicalismo assim:
- "Desce as calcinhas!".
- "Não desço não!"
- "Você é radical!"
Afinal, não é possível a existência de um radical sem que exista outro radical na outra ponta. Ninguém é radical sozinho.
A "acusação" de reacionário faz-me pensar a mesma coisa: quem é o que, afinal?
Lembra-me a estória do aguazil.
Segundo Aurélio, aguazil
aplica-se, também, ao
meirinho (oficial de justiça)
Ora direis: mas o que é um aguazil? Volto ao Aurélio:  tanto pode ser um "governador plenipotenciário de cidade ou província, por nomeação real" quanto um "oficial de diligência", com um monte de titulares de cargos importantes pelo meio. Fica a escolha à vossa conta, conforme preferíreis ou conforme o contexto da estória.
Pois não é que um aguazil se encontrava, em plena via pública, fazendo muitas coisas disparatadas, aprontando horrores, chegando até a ameaçar a segurança das pessoas? Por isto, alguém, vendo que ninguém nem nada conseguia acalmar ou controlar o camarada, bradou:
- Esse aguazil está endemoninhado!
Foi quando, por artimanhas do demo, surgiu o próprio, bradando mais alto:
- Por que você diz que esse aguazil está endemoninhado e não que esse demônio está aguazilado?


Imagem: Associação dos Oficiais de Justiça do Amapá.

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