Madame Roquefort
faz cada vez melhor
o seu charme burguês
E já tem quase
oitenta e três
Da Rua do Chichorro
foi morar no morro
mas fala francês
Sua garçonière
tem bufet, étagère
e um lindo sumier
Só tem filé mignon,
maionese, champignon,
champanhe e vinho rosé
(do bom Chateau Duvalier que é
o que tem melhor buquê)
E vai por aí. O tema era a neta, não a própria. Então, Nei arremata:
A neta de Madame, por mais que eu reclame,
Por sua vez, também não fala
português
Seguindo a tradição, sua comunicação é no idioma inglês:
(é tudo
happy, body-board, CD-rom e CD-player)
Este país não é mesmo sério, já dizia
um bom gaulês!
Gostaria de falar mais sobre o Nei Lopes. Voltarei a ele. Mas se alguém quiser informação, é só procurar pelo nome. Pode, também, acessar no Samba & Choro:
http://www.samba-choro.com.br/artistas/neilopes
Também tenho minhas broncas com a nossa mania de achar bacana substituir a nossa língua. Patriotismo? Não! Absolutamente! Apenas não concordo com a nossa idolatria pelos estadunidenses, qualquer que seja a coisa que nos queiram impingir. Quando era jovem, ouvia muitas músicas deles lá, via filmes musicais e acho-os ótimos em coreografias (principalmente com grande número de participantes), arranjos, harmonia... Bacana demais.
Penso que caiu muito a qualidade da cultura que nos passam. Impingem.
E penso que não é adequado achar mais importante o que vem escrito ou falado em inglês estadunidense.
Discutindo com alguns colegas, na faculdade (fiz, sim, mesmo velho), falei da minha implicância com o nosso falar inglês. Objetaram que isto é globalização. Disse-lhes que não concordava. Se nós comprássemos computadores e programas deles, em inglês e eles comprassem nosso suco de laranja em português, seria globalização. Mas vender em inglês e só comprar em inglês não é globalização. É imperialismo, do mais puro.
No ano passado, acompanhando minha mulher em um congresso em São Paulo, hospedamo-nos em um hotel pra lá de bacana. Caeser. Pronuncio como se escreve (aliás, o "ae", na fachada do hotel, vem agarradinho, no mais puro latinório, como meu professor de filosofia falava). Pois bem, fui visitar meus netos, Moreno e Tainah. Fui caminhando. Na volta, já avistando o hotel (era bem alto, uai!) dei um pequeno nó e fui parar em um outro prédio, que se parecia um pouco. Abordei um senhor moreno, alto, magro, muito empertigado, que trabalhava ali e perguntei-lhe onde ficava o Hotel Caeser (escandindo: c-a-e-s-e-r, como nos sugeria o Professor Altimiras, como pronúncia reconstituída). Empertigou-se mais e me disse, num tom francamente professoral:
"Ciiiisar"! E repetiu, enfático: "Ciiiiiiiisaar".
Não, disse-lhe eu. É Caeser, mesmo. Ciiiiiiisaaar é em inglês, que lá eles falam assim. Mas com aquele nome pomposo, os proprietários deveriam exigir a pronúncia latina reconstituida. E escandi de novo: c-a-e-s-e-r. É assim mesmo. Deu Kaiser, em alemão, por exemplo. E me mandei para o Caeser.
Pode ser que os donos achem mais pomposo em inglês. Prefiro Caeser.
Hoje, em Belo Horizonte, passei por um prédio muito do bacana, construção muito antiga, início da Capital (vim a saber, depois, pela minha irmã e madrinha, que é tombado como patrimônio cultural). O que me chamou a atenção foi o nome: "FUNERAL HOUSE", que o professor google me traduz como "casa funerária".
Sô do céu! Funeral House?!!! Fica mais chique? Pra mim é "chiquê", que o Dicionário Online Priberam de Português me diz significar "falar de forma confusa", "exprimir de forma rebuscada ou subtil" (assim com "b" mesmo).
Dito isto, só quero deixar meu último pedido:
NÃO ME ENTERREM EM INGLÊS! PELAMORDEDEUS!
IMAGEM: Comendador Albuquerque
http://comendadoralbuquerque.wordpress.com/tag/nei-lopes/
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