12 de abr. de 2012

CARONA NA CRÍTICA DO NEI LOPES

Conheci Nei Lopes por acaso. Ouvia a Rádio Nacional de Brasília, quando saiu o samba "Justiça Gratuita". Gente! De quem é esse samba?! Eu achava que conhecia tudo de samba! Como é que vem isso aí, agora, e eu nunca vi. Pedi para a Fifi: arranja um cd desse cara pra mim! (a Raïssa vai acabar pensando que gosto mais é da Fifi). Arranjou. Saquei que conhecia várias obras do Nei Lopes, sem saber que eram dele. Aprendi um montão de outras que não conhecia. Dentre elas, "A Neta de Madame Roquefort", parceiria com Rogério Rossini. É uma sátira às nossas "control C contrl V" culturais. Antes, copiávamos a cultura francesa. Minha mãe contava de um comerciante que abriu uma loja com o nome de Petit Louvre. A prefeitura lançou imposto maior, porque o nome era em língua estrangeira. O cara retirou a placa, que estava no lado de fora e colocou dentro da loja, dizendo que ali colocava o que quisesse. Legal, não é? Mas vamos a um pedacinho de "A Neta de Madame Roquefort":

Madame Roquefort
faz cada vez melhor
o seu charme burguês
E já tem quase oitenta e três
Da Rua do Chichorro
foi morar no morro
mas fala francês
Sua garçonière
tem bufet, étagère
e um lindo sumier
Só tem filé mignon,
maionese, champignon,
champanhe e vinho rosé
(do bom Chateau Duvalier que é o que tem melhor buquê)

E vai por aí. O tema era a neta, não a própria. Então, Nei arremata:

A neta de Madame, por mais que eu reclame,
Por sua vez, também não fala português
Seguindo a tradição, sua comunicação é no idioma inglês:
(é tudo happy, body-board, CD-rom e CD-player)
Este país não é mesmo sério, já dizia um bom gaulês!

Gostaria de falar mais sobre o Nei Lopes. Voltarei a ele. Mas se alguém quiser informação, é só procurar pelo nome. Pode, também, acessar no Samba & Choro:
http://www.samba-choro.com.br/artistas/neilopes

Também tenho minhas broncas com a nossa mania de achar bacana substituir a nossa língua. Patriotismo? Não! Absolutamente! Apenas não concordo com a nossa idolatria pelos estadunidenses, qualquer que seja a coisa que nos queiram impingir. Quando era jovem, ouvia muitas músicas deles lá, via filmes musicais e acho-os ótimos em coreografias (principalmente com grande número de participantes), arranjos, harmonia... Bacana demais.
Penso que caiu muito a qualidade da cultura que nos passam. Impingem.
E penso que não é adequado achar mais importante o que vem escrito ou falado em inglês estadunidense.
Discutindo com alguns colegas, na faculdade (fiz, sim, mesmo velho), falei da minha implicância com o nosso falar inglês. Objetaram que isto é globalização. Disse-lhes que não concordava. Se nós comprássemos computadores e programas deles, em inglês e eles comprassem nosso suco de laranja em português, seria globalização. Mas vender em inglês e só comprar em inglês não é globalização. É imperialismo, do mais puro.
No ano passado, acompanhando minha mulher em um congresso em São Paulo, hospedamo-nos em um hotel pra lá de bacana. Caeser. Pronuncio como se escreve (aliás, o "ae", na fachada do hotel, vem agarradinho, no mais puro latinório, como meu professor de filosofia falava). Pois bem, fui visitar meus netos, Moreno e Tainah. Fui caminhando. Na volta, já avistando o hotel (era bem alto, uai!) dei um pequeno nó e fui parar em um outro prédio, que se parecia um pouco. Abordei um senhor moreno, alto, magro, muito empertigado, que trabalhava ali e perguntei-lhe onde ficava o Hotel Caeser (escandindo: c-a-e-s-e-r, como nos sugeria o Professor Altimiras, como pronúncia reconstituída). Empertigou-se mais e me disse, num tom francamente professoral:
"Ciiiisar"! E repetiu, enfático: "Ciiiiiiiisaar".
Não, disse-lhe eu. É Caeser, mesmo. Ciiiiiiisaaar é em inglês, que lá eles falam assim. Mas com aquele nome pomposo, os proprietários deveriam exigir a pronúncia latina reconstituida. E escandi de novo: c-a-e-s-e-r. É assim mesmo. Deu Kaiser, em alemão, por exemplo. E me mandei para o Caeser.
Pode ser que os donos achem mais pomposo em inglês. Prefiro Caeser.
Hoje, em Belo Horizonte, passei por um prédio muito do bacana, construção muito antiga, início da Capital (vim a saber, depois, pela minha irmã e madrinha, que é tombado como patrimônio cultural). O que me chamou a atenção foi o nome: "FUNERAL HOUSE", que o professor google me traduz como "casa funerária".
Sô do céu! Funeral House?!!! Fica mais chique? Pra mim é "chiquê", que o Dicionário Online Priberam de Português me diz significar "falar de forma confusa", "exprimir de forma rebuscada ou subtil" (assim com "b" mesmo).
Dito isto, só quero deixar meu último pedido:
NÃO ME ENTERREM EM INGLÊS! PELAMORDEDEUS!

IMAGEM: Comendador Albuquerque
http://comendadoralbuquerque.wordpress.com/tag/nei-lopes/

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