Apesar dos lenços brancos, um dos dois irá morrer. Certamente, o touro. |
Hoje, assisti ao jogo de volei feminino entre Rio de Janeiro e Volei Futuro. No meio do terceiro set, dois sets a zero para o Rio de Janeiro, o Volei Futuro vencia com uma vantagem considerável. Bernardinho pediu tempo e foi falar com suas atletas. Naquele momento, o narrador reclamou, no ar, de que o Bernardinho não deixava chegarem microfones perto de onde se encontrava conversando com as atletas. Reiniciado o set, o mesmo narrador explicou que não era uma reclamação vazia, porque o regulamento da Federação de Volei prevê o direito de as emissoras de TV captarem as conversas naqueles momentos. Onde está "as emissoras de TV", leia-se "a Rede Globo", única a transmitir os jogos da superliga. Também não sei se o narrador falara "as emissoras de TV". Mas duvido que tivesse falado, no ar, que a Rede Globo estava contemplada no regulamento com o tal privilégio.
Não conheço o regulamento. Mesmo sem conhecer, não concordo. Aquele lugar, onde o treinador trabalha com suas atletas tem de ser indevassável. É o local de trabalho dele/delas. Se colocarem as orientações no ar, teremos adversários ouvindo tudo. Será compatível? Penso que não.
Os profissionais da comunicação, que trabalham com futebol, também não se conformam com que os treinadores impeçam a filmagem de treinos coletivos. Ali, no entanto, quem manda é o Clube, não a Federação.
Os profissionais da comunicação reclamam argumentando que "estão fazendo o seu trabalho". Mas os treinadores também estão, uai!
Por que o trabalho de um é mais importante do que o trabalho de outro?
Quem está desrespeitando quem?
No caso do voleibol, acho que a Federação - se fez constar, no regulamento, o direito de transmissão das conversas de técnico com atletas - está mais do lado da TV do que dos Clubes - razão de ser da presença da TV ali. Sei que as transmissões pela TV rendem dinheiro para a Federação e, provavelmente para os Clubes; que estes obtêm patrocinadores porque aparecem na TV. Mas tudo isto faz parte de uma comunhão de interesses. Por que um pode querer ser mais importante do que o outro?
Esse dilema não ocorre só com as transmissões esportivas.
O trânsito é um outro exemplo. Por que a minha pressa é mais importante do que a de meu semelhante? Avanço, corto, faço zigue-zaques... Tudo porque coloco a minha pressa em primeiro lugar.
Acho que o conflito nasce da falta de educação. Da nossa mania de querer o melhor para nós. Ninguém quer ser igual. Mas bradamos aos céus que queremos paz. E soltamos pombinhas brancas, acenamos com lenços brancos, fazemos passeatas com roupas brancas... Tudo em nome de uma paz que insistimos em não implementar.
Ah! Ia me esquecendo: minhas pombinhas são mais brancas do que as suas; meus lenços são mais brancos do que os seus; minhas roupas brancas são mais bonitas e de melhor grife do que as suas...
Foto: Jorge H. Sampaio.
http://bolasetetouradas.blogspot.com.br/2011/08/se-for-no-sabado-terrugem-leve-um-lenco.html
Um comentário:
Excelente texto Comini. Toda profissão tem seu valor e importância. Se faz mesmo necessário que cada qual respeito o lugar e o afazer do outro.
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