se ocê me dé de cumê.
Que a coisa é braba, sá dona,
e, se num fosse a sanfona,
de fome eu ia morrê.
Eu canto uns verso procê
e logo passo o chapéu.
Cruzado, dólar, guinéu,
tudo o que caí vai bem
e eu nem num faço iscarcéu.
Eu canto uns verso procê,
não a troco de salário,
que isso é coisa de otário.
Antes de chegá nimim,
o leão já deu dentada,
levô a maió bolada,
me deixô só um tiquim.
Eu canto uns verso procê,
mió qui sê professô
de direito do labô.
Eu ganho menos, bem sei,
muito menos, é provável.
Mas tudo é "não tributável".
Eu canto uns verso procê,
aqui na porta da venda.
Por favô, seu moço, intenda
que o que eu ganho co'as canção
num faço declaração
nem pago imposto de renda.
Eu canto uns verso procê,
ainda que o tal imposto
só sirva pra dá disgosto
pro pobre contribuinte
que, além de pagá, empresta
até no ano siguinte.
Eu canto uns verso procê
que é, também, contribuinte.
Paga tudo que é imposto
e, por isto, trás no rosto
as marca do desencanto.
Quem divia pagá muito
só paga pouco, ou nem tanto.
Eu canto uns verso procê
que, porque paga tributo,
também tem direito ao fruto
do esforço de todo mundo.
Mas a tal corrupção
só leva a gente pro fundo.
Eu canto uns verso procê
que num sabe, e nem parece
que paga ISS,
ICM, IPTU,
Imposto de Renda, IPI,
e, no fim... oh!
Eu canto uns verso procê
que, desde que era menino,
num sabia o seu dIstino
e nem sabe, até agora.
Pois sempre ouviu e ainda ouve
só promessa de miora.
Eu canto uns verso procê
que ainda tem esperança
de que um dia vai vivê
em uma grande Nação.
E, mesmo pagando o pato,
inda encontra candidato
pra votá nas inleição.
Eu canto uns verso procê
e bebo esta cachaça
que, por mais mal que me faça,
me serve de lenitivo.
Por causa dela é que eu vivo,
mesmo num mundo tão duro,
na doce ilusão de que tô
no tal "país do futuro".
Eu canto uns verso procê
e bebo ôtra cachaça.
E bebo ôtra cachaça...
E beebo ôôôôôtra cachaça...
E beeeeboo ôôôôôôtra caaa... chaa...ça...
E be...ê....ê...booo... ôôôô...tra... ca...chaaa...çaa...
E bee...bo ôôô...traaa... ca...ch...
IMAGEM:
PROSA & POLÍTICA
Blog da Adriana Vandoni
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