10 de ago. de 2012

DIFERENCIAIS ESPORTIVOS

A literatura publicitária e marquetária está cheia deles. Todo produto tem de ter um diferencial, para progredir no mercado. O mercado é esse cruel ambiente, que exalta uns e execra outros, conforme a habilidade marquetária e publicitária. Só pode se dar bem quem é diferente. Uns dos outros, o mais moderno do anterior (mesmo que seja pior)...
O esporte é um excelente observatório. Ali, como no mercado, todos querem ser diferentes, para chamar a atenção. Os dribles, as tabelas, os próprios gols (que, provavelmente, passaram, mesmo, a ser um detalhe), são de pouquíssima importância, perto de um cabelo de moicano, um brinquinho, um agradecimento ostensivo a Deus – como se Deus, por falta do que fazer, torcesse pelo Flamengo, ou pelo Vasco, ou pelo Atlético Mineiro, ou mesmo pelo o Ibis, para que continue imbatível como o pior do mundo.
Como o voleibol passou a fazer parte do sucesso esportivo, e o futsal (que conheci como futebol de salão) caminha nas pegadas, vivo tentando identificar diferenciais entre esses esportes. Sem falar no futebol de areia - criado no Brasil, como o de salão, mas rebatizado mercadologicamente de beach soccer, mesmo onde não há praia.
Encontro muitos diferenciais. Muito pano pra manga. Começo pelo futebol, com a violência, as “faltas táticas” – eufemismo que os treinadores inventaram, para disfarçar falta de ética e de espírito esportivo – os xingamentos e palavrões tanto de jogadores para os juízes, como de torcida para todos. E, quando tem “fair play”, a bola não é recolocada no lugar de onde foi posta fora, quando o jogador gentil está do meio de campo para o ataque. É jogada o mais perto possível da área do gentil. O diferencial isola o futebol dos demais esportes citados.  Palavrões a gente vê em todos. Das torcidas, inclusive. Em geral, com menos ênfase do que no futebol, mas vê. A violência é quantitativa e qualitativamente inferior. Os meios de controle existem, no futebol, mas são aplicados com extrema parcimônia. O cartão amarelo só é mostrado depois de pelo menos dois eventos que o justificariam. Mas há até comentaristas de arbitragem que defendem uma atitude do juiz, de “administrar” a partida. Acham que, se distribuir muitos cartões, “mata” a partida. Pode até ser que mate aquela partida. Mas pode impedir que se mate o futebol, como vem acontecendo com freqüência. 
Como é no voleibol? Cartão vale ponto para a equipe adversária. E olha que, no vôlei, não há contato físico. Mas já vi um jogador se mostrar indignado com o árbitro, ostensivamente, jogando a bola violentamente ao solo, e receber cartão. Ponto para o adversário. Brandiu o punho, voltado para o árbitro, outro amarelo – agora seguido de vermelho – e outro ponto. Não dá para bobear.
E no futsal? Da sexta falta coletiva para frente, tiro direto, sem barreira, contra o gol do infrator. Antigamente, o local da cobrança era aquele aonde a falta foi praticada. Um amigo, goleiro dos bons, reclamava: "mas por que o goleiro tem de ser punido? Às vezes, é pior do que pênalte" (antigamente, a cobrança era no lugar onde ocorrera a falta, muitas vezes pertinho da linha da área).
No futebol de areia, toda falta é cobrada sem barreira. O risco de sofrer gol é real. Os jogadores “maneram”.
Há algum tempo, vendo defesas sensacionais dos líberos, com passes perfeitos, levantamentos primorosos e finalizações objetivas, passei a pensar em um diferencial que o vôlei tem e que os demais coletivos não têm. Nesses, sempre vemos referência ao jogador que deu a vitória a seu time. Como se o último gol fosse sempre o da vitória, principalmente quando a diferença é mínima. A mania de endeusar o artilheiro é antiga. O entusiasmo dos narradores, quando narram uma grande defesa ou um passe “com açúcar” nunca chega aos decibéis da narração de um gol. O gol exige muitos erres, muitos “sensacional”, “genial” e outros que tais.



O vôlei é diferente. Um ponto, quando não vem de erro do adversário, depende da participação de cinqüenta por cento do time; uma recepção, um levantamento e uma finalização. Exceções: quando o levantador habilidoso pontua com a segunda bola;  o ponto de saque; o de bloqueio, que raras vezes envolve mais de dois companheiros. Na quase totalidade dos pontos preparados e concluídos por um dos times, a participação de metade dos jogadores é indispensável. Isto obriga os jogadores a se conhecerem melhor, a um grau muito mais alto de colaboração. Para isto, é preciso muito treinamento, com muita vontade de privilegiar o sucesso do time, e não o individual.
Não sei se será por mera coincidência que o voleibol brasileiro vem destacando-se internacionalmente, por muito tempo e com sucessos consecutivos.

Foto futsal: Toque de Bola.
http://toquedebola2010.blogspot.com.br/2011/07/copa-pid-de-futsal-cnovos-2011_07.html

Nenhum comentário: