Sempre que posso, assisto a pelo menos uma parte do julgamento do mensalão. Sei que grande parte da opinião pública - talvez a maior - acha que todos os acusados devem ser condenados, pela prática de todos os crimes denunciados pelo Procurador Geral. Só que a maior parte dessa maior parte da opinião pública só ouviu os relatos dos fatos denunciados pelo rádio ou pela televisão. Não conhece o processo, não conhece as provas. Mas acha que todos os acusados devem ser condenados.
Também acho, uai! Mas acho, também, conhecendo os fatos só por ouvir dizer, sem conhecer o processo e sem conhecer as provas.
Por questão de auto-defesa, sou intransigente quanto ao respeito pelo direito de defesa. Condenar sem defesa é muito fácil. Tenho medo de que me acusem de alguma coisa, e não permitam que me defenda. Mas daí a concordar com argumentos que estão sendo levados ao Supremo Tribunal Federal vai uma distância muito grande.
Tenho visto mais de um dos defensores dos acusados que o caso do mensalão é uma ficção.
Bacaninha, não é? Tudo não passou de fantasia: dolares na cueca e outras formas nada ortodoxas de ocultação, pura fantasia; transferências de valores foi fantasia; recebimento de valores altos, na boca do caixa, tudo fantasia... caixa dois - figura que deu oportunidade ao cínico aparecimento de um neologismo - eufemismo, em forma de "ativos não contabilizados"..., e até a uma afirmação perigosíssima de que "todo mundo faz". Fantasioso demais esse Dr. Procurador Geral da República!
Só que, de cima de meus setenta e dois - quase três - anos de idade, com alguma experiência de vida, tendo trabalhado durante muito tempo só com pessoas, não com máquinas, digo, alto e bom som: yo no creo en bruxas! pelo que las hay, las hay!
Vou além. Disse e repito: acreditarei em tudo o que me disserem das condutas de qualquer deputado, senador, presidente, ministro, e pode ir descendo... Dizia D. Ephigenia, em bom italiano: chi pratica col lupo impara a urlare (quem pratica com o lobo aprende a uivar). Afinal, não temos a mínima idéia de quem é honesto ou desonesto, ali. Não conhecemos os conteúdos de seus votos, mantidos em segredo. Como é que se vai provar uma relação entre transferência de dinheiro e um voto, se sabemos da transferência para determinada pessoa, mas não sabemos o voto dela? E, afinal, se aqueles que se pode admitir sejam honestos estão naquele furdunço, então, acreditarei, sempre, em qualquer fato que me contarem.
Hoje, ouvindo um advogado de defesa, vi que, realmente, o direito de defesa não tem limite.
Falando sobre transferências de dinheiro em conta bancária, o advogado disse que, embora pouco afeito à matemática, tomara da conta bancária envolvida e pudera verificar que o valor encontrado não passava da casa dos trezentos mil reais (pouquinho, hein?). E que o valor das transações pode ser considerado normal, tendo em vista as atividades da empresa (acho que se tratava de empresa, mesmo, mas é coisa parecida, pelo menos), no mercado de dólar paralelo.
Meu Deus! Então, transações bancárias,com alguém que atue no mercado do dólar paralelo, são absolutamente normais?
Estou com medo de processarem-me por danos morais!
Foto dólares: Blog JORNAL LOANDA EM FOCO.
http://radioloandafm.wordpress.com/2008/01/25/26-jan-dolares-na-cueca/
Imagem caixa dois: Blog do Eliel Bezerra (Autoria: Nani).
http://elielbezerra.blogspot.com.br/2012/07/caixa-dois.html
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