Neném Prancha, para os um pouco menos jovens, ex-roupeiro do Botafogo, ex-técnico de futebol de praia (que nem pensava em ser beach soccer), e filósofo da bola, cheio das frases de efeito sobre futebol.
Estive relendo texto do livro "Os Subterrâneos do Futebol", de João Saldanha. Falava de concentração. Não via vantagem, achava que "...o ambiente de véspera de jogo cria um nervosismo natural que predispõe a encrencas por qualquer coisa à-toa. Fica um a olhar para a cara do outro, só pensando em fugir ou então armar um joguinho para passar o tempo."
Poderia ter-se inspirado em Neném Prancha, que, em um de seus lampejos, afirmou:
O que li, hoje, de João Saldanha faz o mesmo sentido que faz, para mim, a observação de que todos os dirigentes reclamam de juízes, os mais apaixonados falando até em "mala preta", às vezes, mas ninguém se empenha, objetivamente, em modificar a situação. Transcrevo um excerto do João:
"E o que determinou a concentração no futebol brasileiro foi, fundamentalmente, para se evitar o suborno. Até espias havia, para examinar os visitantes. Se chegasse algum suspeito, o sinal era dado e alguém de confiança ficava por perto. Isto agora, de modo geral e felizmente, não existe mais. Mas não posso jurar que foi totalmente abolido. Claro que havia razões fundadas para temer o suborno: no futebol antigo e, principalmente, no tão decantado futebol amador, esta era uma preocupação constante do clube grande e o raciocínio era simples: 'Se nós estamos sempre pensando em dar na horta deles... eles também devem estar pensando nisto.' § O começo do profissionalismo ainda foi atingido por este problema. Mas de uns quinze anos para cá, ou de 1950 em diante, digamos assim, os casos foram rareando, até sua quase total extinção."
Não me passa pela cabeça que todos os erros cometidos por juízes e auxiliares estejam relacionados a eventuais "malas pretas". Alguns desses erros são tão elementares que nos levam a duas alternativas principais: despreparo ou má fé. Para afastar o despreparo, a solução será, sempre, qualificar melhor os árbitros e exigir deles bons desempenhos, através de avaliações isentas (o que nem sempre é fácil, porque os que estão na administração do futebol torcem para algum clube). Se for o caso de "mala preta", vejo duas soluções, não alternativas: primeiro, não pensar em dar na horta do adversário; segundo, as mesmas avaliações isentas.
Ação paralela que acho necessária: propor aos comentaristas esportivos que comentem conforme o regulamento e não conforme essa ou aquela preferência pessoal.
Ontem, não sei se assistindo a jogo da Copinha, ou ao da Seleção Brasileira no sul americano sub 20 (acho que foi da Copinha, pois só havia times brasileiros envolvidos, e não conheço as preferências do comentarista), um jogador impediu o contra-ataque adversário, segurando o jogador que se deslocava com a bola. Não foi um "segurãozinho", de leve, pela camisa, não. Foi uma perseguição, segurando e re-segurando, várias tentativas, valendo camisa e braço, até conseguir seu intento. O árbitro marcou a falta, mas não deu cartão. O comentarista "comentou" que não fora uma falta violenta, justificando a omissão. O narrador deu uma de comentarista, corrigindo o colega: não foi violenta, mas impediu um contra-ataque e a regra manda punir com cartão amarelo.
Então, por que os dirigentes não fazem uma coletânea, em vídeo, de lances desse tipo e convocam dirigentes de federações e de departamentos de árbitros, para exigir que melhorem o nível das arbitragens?
Porque a ilegalidade, as irregularidades interessam a todos eles. Estão sempre pensando em dar na horta dos adversários, por todos os meios.
Fonte: Os Subterrâneos do Futebol - João Saldanha.
Foto de João Saldanha: LANCE!
https://www.lance.com.br/botafogo/centenario-joao-saldanha-sem-ele-brasil-que-tem-medo.html
Foto de Neném Prancha: Literatura na Arquibancada.
http://www.literaturanaarquibancada.com/2012/03/nenem-prancha-o-filosofo-do-futebol.html
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