Estive fora por uma semana. Belo Horizonte, aproveitando a companhia de duas de minhas três filhas, que foram encontrar-me lá. Uma delas, para conferir-me: na viagem que fiz a Bonito, sofri um belo dum desarranjo, com direito a três dias de hospitalização (tinha escrito internação mas prefiro hospitalização; poderiam pensar que surtei; vivo em estado limítrofe). Foi preciso encontrar a Nanete, para que ela visse que o véio está dando para o gasto.
A volta, uma delícia. Um turbo-hélice que voa muito mais baixo do que aqueles jatões. Já escrevi sobre isto mas ainda não tive peito para publicar, porque ficou longo. Ainda terei coragem e penso que quem se aventurar poderá gostar pelo menos de algum pedacinho.
Volto a falar do gosto que tenho por voar e, principalmente, voar baixo. Tenho o hábito das viagens paralelas. Não foi diferente nessa última. O tempo estava um pouco nublado. Nuvens disputando espaço com o azul. Logo de saída, passamos por uma nuvem que cismei de ver em forma de um anjo ou do próprio Cristo. Não aqueles Cristo rígido, parecendo dominador, que o Tom Jobim achou de poetizar com "...braços abertos sobre a Guanabara". O Cristo que vi estava com os braços abertos, também, mas um pouco fletidos, o tronco um pouco encurvado, um aspecto muito acolhedor, a desejar-me boa viagem, ou a dizer que está me esperando, o que é uma forma poética de desejar-me boa viagem.
Nuvens aparecem de diversas formas: nuvenzinhas pequenas e médias, em diversos planos, dão-nos a visão exata do que é realmente 3D. Umas mais ao alto, outras mais baixas, aquel'outras mais baixas ainda... Adiante, as nuvens não estavam em camadas horizontais, parecendo colchão, como em viagem anterior. Pareciam montanhas, como se fosse um terreno muito acidentado. E, como eram brancas e havia um pouco de sol, as montanhas estavam cobertas de neve, ora aparecendo cinza claro, ora branco brilhante, luz e sombra a desenhar. Aconteceu de aparecer um pouco de azul, em algumas partes. Pareciam lagos no meio das montanhas geladas. Em um desses lagos, desceu uma montanha, avassaladora, cobrindo todo o lago com seu gelo. O vento empurrava a montanha sobre o lago. Mais adiante, um espaço maior em azul, com muitas nuvens entremeadas, parecendo um mar com blocos de neve. Fica muito bonito. As paisagens não são estáticas. Afinal, as nuvens movimentam-se rapidamente. Tão rapidamente como a política. Meu amigo Antônio Sacco disse-me, há tempos, que, principalmente entre mineiros, política é como nuvem: você olha e está de um jeito; um minuto depois, volta a olhar e está tudo diferente.
Prefiro as nuvens e o azul do céu.
Nenhum comentário:
Postar um comentário