Comento alguns dos motivos de minha preferência pelo voto em branco, iniciando por uma comparação: o voto nulo, ainda que possa ser considerado um protesto, não é direcionado. Tanto pode ser um protesto contra a obrigação de votar, como um protesto contra determinada situação, ou um protesto genérico, indeterminado.
Já o voto em branco pode ser classificado como protesto contra o sistema eleitoral, os métodos de gestão, contra a incapacidade ou falta de vontade dos políticos bons (que dizem existir) de excluírem ou neutralizarem os maus (só o fato de não conseguirem isto conta como um elemento qualquer de incapacidade para o exercício digno de cargo público). É como ouvi muito, na minha juventude, "quem não tem competência não se estabelece". É rejeição de todos os políticos, de vereador a presidente da república. Ora direis: mas há políticos honestos. Deve haver mesmo. Vale o que disse antes: os honestos têm-se mostrado incapazes de erradicar a desonestidade, ou de neutralizar, pelo menos. Ou não têm interesse. O voto em branco pode ser entendido, também, como protesto geral pela situação política (obrigações do governo em face do povo: saúde, segurança, educação, transportes, coibir desvios de dinheiro público, em todas as modalidades... Abrange tudo. Não fica nisto: rejeita o sistema e todos os candidatos e partidos.
Ainda não vi, em toda a minha vida, alguém que não sentisse profundamente quando é rejeitado. As reações podem ser várias, de rebeldia ou de revolta. Ou a ponderação das causas possíveis. Quando das manifestações de junho de 2013, seguindo-se o susto inicial, com manifestações e providências apressadas de governantes, o cadikim criticou iniciativa da Presidente da República, quando a mesma encaminhou ao Congresso proposta para realização de um plebiscito, indicando cinco perguntas. Nenhuma delas estava nos cartazes mostrados nas manifestações populares, muito menos os indefectíveis "isso-assim-assim já" e "fora fulano". Argumentei, então, que a pauta de consulta popular deveria ser encaminhada pelo povo. A Presidente - pareceu-me - fingiu não ter entendido os recados dos cartazes, cujos teores, em geral podiam ser sintetizados em "saúde", "educação", "ética na gestão da coisa pública", "segurança" e outras pretensões. Os políticos preferiram não ouvir a voz das ruas - mas fingindo ouvi-la - e propor plebiscito sobre coisa que o povo não havia pedido nos cartazes. Neste caso, preferiu o monólogo, em vez do diálogo, fingindo não entender a voz das manifestações populares. Se agem assim, melhor rejeitá-los, do que aceitar o monólogo que ignora o que o povo diz. Fui buscar em Geraldo Vandré - na sua magnífica "Disparada", a atitude cabível para com quem se recusa a ouvir a voz dele: "vou cantar noutro lugar".
Ora direis: Mas como é que os políticos irão saber o que o povo quer? Mas os políticos sabem! Não vi qualquer promessa de candidato que contrariasse o que o povo deseja e necessita. E, afinal, por dever de ofício, os políticos têm a obrigação de saber, com precisão, o que o povo quer e do que precisa.
Ainda direis: mas o voto em branco vai ajudar esse ou aquele candidato, esse ou aquele partido. No meu raciocínio, isto não importa. Precisamos de presidente da república, de senadores, de deputados, de governadores, de prefeitos, de vereadores. Eles existirão, só que com números de votos incompatíveis com a credibilidade que deve acompanhar qualquer escolhido.
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