18 de jul. de 2012

E SE NEYMAR TIVER UM PIRIRI? (EDIÇÃO EM 11 ABRIL 2020)

Dizem que dá quando a gente menos espera. Pode acontecer mesmo quando são tomados todos os cuidados para evitá-lo. Sei que a Seleção Olímpica do Brasil tem nutricionista, médico, cozinheiro (acho que tem, porque outras levavam, inclusive por causa do feijão). Mesmo que não tenha, sabe-se que os dirigentes irão tomar grandes cuidados com o rango da tropa. Mas que pode acontecer pode.
Secando o Brasil? Jeito nenhum! Não acho que uma vitória olímpica, inédita no futebol de tantas e grandes glórias, vá mudar a vida dos brasileiros. Como, de resto, nem uma das cinco mudou, nem os panamericanos, as libertadores, as copas américas. Vai servir como mote para promoções pessoais e políticas.
Então, por que o medo de Neymar ser acometido de eventual piriri?
Por causa do texto na capa de Veja Olimpíada 2012, julho. Está lá com todas as letras:

"Neymar é a esperança de medalha de ouro inédita no futebol".

Significa que, se Neymar tiver um piriri, gripar, machucar, der birra (não tem perfil, mas não se deve descartar qualquer hipótese, para afirmar o que está na capa da Veja) ou coisa parecida, vai-se a esperança dos brasileiros em conquistar a tal de "medalha de ouro inédita"?
Isto será bom para os demais jogadores? E o técnico? Não conta? A comissão técnica? Os cartolas? Todos dispensáveis? Só o Neymar resolve? Ou só resolve o Neymar?
Nunca é demais repetir que se insiste em individualizar os heróis do futebol, que, pelo menos em tese, é esporte coletivo. Millôr disse que, com o trabalho de equipe, podemos dispensar os heróis. Precisamos de heróis para servir de exemplos? Nem sempre o são. Precisamos, sim, para que virem garotos-propaganda. A mídia precisa, para ganhar mais com publicidade. Se todos forem craques, ninguém é craque. Então, é preciso destacar um, para gáudio da publicidade.
Acaba que o importante passa a não ser o futebol, mas o cracaço. Vai daí que, muitas vezes o  cracaço desvia-se do futebol, para viver o garoto-propaganda.
Neymar é craque. Mas parece que, em alguns momentos, desvia-se do craque para incorporar o garoto-propaganda.
Pelé também foi garoto-propaganda. Mas podemos ver que Pelé não alcança o Neymar, quanto a este quesito (nos demais, Neymar precisa de muita estrada, ainda, e com muito sucesso). Vejamos a foto de Pelé, estampada na capa da revista Realidade, em 1966. Um craque alegre, sorriso aberto, olhar sonhador. A de Neymar, na capa de Veja, julho de 2012, mostra um Neymar que a mim parece um rapaz flertando com uma gatinha que a produção pudesse ter colocado à sua frente, na hora da foto. Ou foi mal Neymar, ou foi mal a produção.

Foto: Conversa de Balcão.com.br
http://debalcao.blogspot.com.br/2012/08/veja-faz-releitura-de-revista-historica.html

EDIÇÃO EM 11 ABRIL 2020.

Lá se vão 8 anos desde a publicação do texto aí de cima. A seleção olímpica brasileira não foi campeã em 2012. A "esperança" que a Veja apregoara não se realizou. Ficou na prata. Conseguiu a façanha do ouro no Brasil, em 2016, Neymar capitão do time, autor do gol do empate com a Alemanha e do penâlti de desempate para a vitória. Parou nessa medalha. Disputou a Copa de 14 e sofreu desleal ataque de um adversário, tendo ficado de molho por bom tempo. Ironia: escapou de ter participado dos 7 x 1. O resultado teria sido o mesmo com Neymar em campo? Ou aquela fratura de vértebra foi o "piriri" de Neymar?

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