Seria muito bom se os eleitores conhecessem mais de política do que de políticos. Isto é nada fácil, porque não faz parte de programas educacionais a formação política do cidadão, para habilitá-lo a escolher seus representantes. Menos fácil, ainda, quando o foco que os políticos indicam aos eleitores - no interesse deles próprios - é o da paixão. Nada de razão. Costumo passar por uma página eletrônica de amigo, em que, através dos comentários dos leitores sobre eventos havidos na cidade, e publicados ali, a gente identifica, com mínima margem de erro, quem "é" deste ou daquele candidato ou daquele partido. Os destinos da cidade interessam menos do que o continuísmo. Já a continuidade é difícil. Governos que sucedem o de partido contrário não costumam terminar as obras começadas por este. Daí a existência, em todo o país, de muitas obras inacabadas.Pois bem. Assisti, hoje, pela Globo News, ao programa Painel. O tema foi "A cassação do senador Demóstenes Torres e a credibilidade do Congresso".
Seria muito bom se estudantes - de terceiro grau, pelo menos - e profissionais em geral - de nível intermediário, pelo menos - tivessem interesse nesse tipo de debate. Seria muito bom, também, e principalmente, que a televisão tornasse disponível essa matéria, para todos os que têm um aparelho de televisão. Infelizmente, nem uma coisa, nem outra.
No mínimo, ouviriam três opiniões de especialistas em três áreas diferentes. Uma discussão civilizada, permitindo ao espectador sentir diferenças pessoais e profissionais.
Participavam do Painel, além do apresentador/moderador, três profissionais de diferentes áreas: Roberto Romano, filósofo e professor de Ética e Política, na Unicamp; Fernando Abrucio, cientista político, FGV São Paulo; e Marco Antônio Villa, historiador, Universidade de São Carlos.
A primeira pergunta do tema foi se a cassação de Demóstenes Torres contribuíra com alguma coisa para a melhoria da imagem do Senado Federal.
Incomodou-me a primeira reação do professor de Ética e Política. Um imediato não. Incomodou-me porque eu também, mentalmente, respondera "não". Mas refleti, imediatamente: ora, se foi afastado um senador que não trilhava o bom caminho, é claro que isto contribuiu "com alguma coisa", por mínima que fosse, para, pelo menos, reduzir a "incredibilidade" do Senado. Pareceu-me que o professor, enquanto falava, também refletiu. Na conclusão de seu raciocínio, disse que, se contribuiu, foi milimétrico.
Entendo: para um professor de ética, nada deve ser mais importante do que ética.
Já o cientista político demonstrou que um evento dessa ordem faz parte de um processo de melhoria. Concordou com que há muita coisa a fazer, fez comentários a respeito. Impressionou-me favoravelmente, indicando que a ciência política não pode ser tão rigorosa como a ética, mas que deve ser muito rigorosa com a ética.
O historiador mostrou uma posição bastante diferente. Começou dizendo que não queria ser amargo. E relacionou fatos históricos havidos no Brasil e na América do Sul, indicando que o Brasil está em situação melhor do que a de outros países e, por isto mesmo, não nos é vantajoso fazer comparações com estes, e sim, dentre os países com culturas mais antigas, com aqueles em que a cidadania é significativa.
Afinei-me mais com o historiador. Deve ser muito difícil não ser amargo, quando se conhece a história da humanidade.
Fotos: Embarque Mundo Afora.
http://embarquemundoafora.com/?p=1688
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