Para
os aficionados íntimos, Pedacinhos do Céu. Para minha mulher, Tenda do Ausier.
Chorinho da melhor qualidade, ambiente delicioso, música criando clima de
romance. Ausier chega a entrar em transe, com seu cavaquinho. Parece que viaja
a outro mundo, cheio de magia.
Acho
que ele mesmo não sabe da magia que anda rondando sua casa.
Mas
não é que, de repente, baixou magia de verdade?
Um
dos freqüentadores achou de paquerar minhas irmãs. Embora minha mulher (muito
mais jovem que nós todos) ache que é preconceito, minha filha e eu achamos que
já é o primeiro milagre realizado na Tenda do Ausier um camarada, ainda que entrado em anos, paquerar as
duas provectas senhoras acima dos setenta, sendo que o mercado masculino anda
dos mais em baixa.
O
cara era insistente. Quando a mais nova das duas, talvez constrangida por
viuvez recente (ou assustada, pela falta de convivência com a noite), resolveu
“saltar fora”, sob o pretexto de levar o bisneto, já ferrado no sono, para o
carro, engrenou uma quinta e partiu para a mais velha. Minha mulher bem que
tentou colaborar com a magia e salvar a lavoura. Dispôs-se a levar o garoto
para o carro, argumentando que de onde estava sentada poderia controlar a
situação, pois o carro estava ao alcance da vista, bem próximo. Não adiantou. A
paquerada (chamada de linda, pelo galã!) não quis ficar mesmo.
Aí,
foi com a mais velha. Trocaram palavras, ele deixou o endereço. Ela passou
receita de sopa para ele. Grande princípio de romance. Minha mulher contrariada
porque o galante conquistador ficava entre ela e o palco e ela, além de ouvir, queria
ver, também. Mas gostando do romance e até dando o maior apoio.
Num
intervalo, chamou-me para ir até o palco, ver fotos de músicos que passaram
pela casa (até o Lula, dando uma de artista, empunhando um cavaco, sem se mancar que passa longe daquela elite, de Waldir Azevedo, Altamiro Carrilho, Beth Carvalho... só fera!). Passamos algum tempo lá. Quando
voltávamos, parou e mostrou-me nossa mesa. O galante cavalheiro segurava as
duas mãos de minha irmã mais velha, expressões de enlevo, de parte a parte. Minha mulher
apressou-se, marcando cerrado. Chegou a tempo de ouvir o cara dizer: “adorei
conhecer a senhora!”
Milagre
demais? Ainda não. Ao sentar-se, minha mulher perguntou à cunhada onde estava a
muleta dela (na verdade, é uma bengala). Minha irmã respondeu: “Está com você”.
Não
estava. Aí, minha mulher foi procurar no banheiro. Estava lá a bengala.
É
isto aí, Ausier. Para minha mulher, Pedacinhos do Céu virou Tenda do Ausier:
não sabe se é o ambiente, a música, a simpatia, tudo o de bom que há na casa.
De fazer velhinha largar a bengala! Médica que é, garante: se
minha irmã voltar ao Pedacinhos do Céu (Tenda do Ausier, insiste) mais umas três
ou quatro vezes, sai de lá curada!
NOTA: Pedacinhos do Céu fica em Belo Horizonte. Endereço, programação, etc., na página da casa (com direito de ouvir "Pedacinhos do Céu", de Waldir Azevedo, com Ausier ao cavaquinho): http://www.pedacinhosdoceu.com.br/
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