7 de nov. de 2012

PROPAGANDA QUE XINGA A GENTE


Estádio do MAracanã em Obra 75% concluido.
(Foto: Divulgação FIFA)
Infelizmente, temos de ouvir besteira, com cara boa. Felizmente, não estou sozinho. Andando pela rede, encontrei parceiro para criticar o novo comercial da Brahma, no qual Ronaldo - o Fenômeno do futebol, do futebol... - aceita o papel de xingar-nos (está em http://3toques.com.br/blogs/templodabola/2012/09/copa2014-novo-comercial-da-brahma-e-dificil-de-engolir/).
Lá por volta dos anos 1970, já tinha broncas com a publicidade xingatória. Havia uma propaganda de desodorante "Tão bonita e cheirando igual a um homem?". Ou seja: mulher que não usasse Mistral era fedorenta (as mulheres sobrevivem mais lindas e cheirosas e Mistral não existe mais). Ou, de uma marca de carro (não vou citar porque a memória é boa mas não 24 horas por dia, 30 dias por mês...): personagem: um "executivo", de terno e gravata, e a indefectível pasta "007"; cena: personagem atravessa uma avenida, a pé, esbaforido, entre automóveis; texto: "você ainda está andando a pé?". Ou seja: você não tem um carro desta marca? Você é pobre!
Esse tipo de estratégia ou foi substituído por coisa melhor ou, pelo menos, douram a pílula. Os textos, em maioria, são mais sutis. Uma coisa é certa: se você não usa da minha marca você é inferior a quem usa. Mas pega-se mais leve.
No caso da Brahma, o título é "Brahma - Imagina" ou "Pessimistas, pensem bem", não consegui certeza.
O que veio fazer a agência que promove a Brahma? Veio xingar a gente, descaradamente. Usando a figura de um dos maiores futebolistas de todos os tempos e lugares (com um corpinho que o Medida Certa ainda não conseguiu dar-lhe), mas que só foi expert em jogar futebol. Não sabemos se já pode ser chamado expert em comentários e outros babados ligados ao futebol, ou em alguma outra coisa. Respeito-o muito, mas dentro dos limites dele.
Xinga? Como? Vamos ao texto (que fui buscar no parceiro que inventei e que postou o vídeo completo). Começa falando que o Brasil é o país do futebol, mas também é o país das festas e que, por isto, a nossa copa do mundo da Fifa vai ser a melhor de todas; seguem dizendo que "alguns insistem que os nossos aeroportos não vão dar conta..." e segue falando dos problemas que se diz existirem, para a realização da Copa de 2014: aeroportos superlotados, engarrafamentos, trânsito caótico... e que "...se está assim agora, imagine na copa...". Aí vem o xingamento, explícito, "impresso" na boca de Ronaldo Fenômeno:
- Pessimistas! Pensem bem!
Pessimista, eu? Por que, pô?!!! Só porque estou levando a sério informações divulgadas em várias mídias, de que muitas das obras para a copa estão atrasadas? de que muita coisa nem saiu do papel? de que tem ou teve obra paralisada por causa de fraude na licitação? de que estão deixando atrasar para poderem fazer reajustamentos em preços, quando os prazos ficarem curtíssimos? Será que todos os jornais escritos e televisivos, todas as revistas, todo mundo está fazendo campanha contra? A oposição? Teorias da Conspiração?
A propaganda é da cerveja mas pode haver interesses da Fifa e do Governo atrelados nela. É preciso fazer o povão acreditar que vai ser mesmo uma festa. Festa até poderá ser, porque fala-se mais em festa, praias, trios elétricos, em reveion e em carnaval (temas que serão infalíveis durante a copa, para turistas). Daí, vem a vibração do narrador, apoplético:
"Imagina as praias! Imagina as cidades! Imagina o Brasil!!!...".
Não quero imaginar o Brasil! Quero um Brasil palatável!
É claro que Fifa e Governo querem conferir credibilidade à mensagem, para acalmar os "pessimistas", preocupados com as informações sobre retardamentos em obras para a copa. Uma espécie de contra-informação.
Faz-me lembrar Odorico Paraguaçu. Dias Gomes - segundo me disseram, o homem da contra-informação do Partido Comunista - insere um texto em "O Bem Amado", no qual dá a exata idéia do que seja contra-informação. Mais ou menos o seguinte:
Dirceu Borboleta:
- Prefeito, é preciso que o senhor marque uma data para inaugurar o cemitério.
Odorico:
- Por que?
Dirceu:
- Estão dizendo que o senhor nunca irá inaugurar o cemitério.
Odorico:
- E de que adianta marcar uma data para a inauguração?
- Dirceu:
- Pelo menos é uma contra-informação.
Odorico, incisivo:
- Contra-informação é providenciamento urgente!
Ou seja: no dia em que eu enterrar um defunto aí, ninguém mais irá dizer que não conseguirei inaugurar um cemitério. Não preciso de mais que um defunto!
Quanto às obras para a copa: os promotores e adjacentes não precisam mais do que colocar em dia as obras.
Xingar-nos vai resolver nada!


Imagem: 4MAIORES.
http://www.quatromaiores.com.br/fara-do-boi-obras-da-copa-ficam-147-mais-cara-que-previsto/




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