É claro que já está sendo explorada a fala estapafúrdia de Lula, de que o traficante é vítima do usuário. Entendi que poderia ter dado sentido diferente ao pensamento: por exemplo, uma campanha para reduzir ou erradicar o uso de drogas, como foi feito, com sucesso, com a droga cigarro. De fato, o uso da droga é que provoca a demanda pela droga, implicando a presença do traficante. Mas o modo de falar ficou e qualquer emenda corre o risco de ficar pior do que o soneto.
A concorrênca? Pois não é que o Flávio Bolsonaro achou de "convidar" os americanos para nos ajudar a combater as organizações terroristas? A CNN publicou:
"O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) escreveu ter 'inveja' dos ataques realizados pelos Estados Unidos e, em resposta a uma postagem do secretário de Defesa Pete Hegseth, questionou se os americanos 'não gostariam de passar alguns meses nos ajudando a combater essas organizações terroristas' no Rio de Janeiro." (https://www.cnnbrasil.com.br/politica/flavio-bolsonaro-diz-ter-inveja-de-ataque-dos-eua-e-cita-barcos-no-rio/).
Também o senador teve de recorrer à emenda do soneto. Para variar, falou que a imprensa deturpa. E mudou um detalhe da fala anterior:
"...olha, aqui na Baía de Guanabara, no Rio de janeiro, eu já ouvi falar que tem navios que entram com muitas drogas por aqui que abastecem o Brasil inteiro e que infelizmente é uma realidade e aí uma parte da imprensa, que já tem uma má vontade com a gente e adora defender um traficante de drogas inventa que eu tô defendendo que se ataque em bombas na Baía de Guanabara no Rio de Janeiro."
(Flávio Bolsonaro diz que fala sobre traficantes no Rio foi distorcida - https://www.youtube.com/watch?v=kNDD6jIrqWI)
Nós estamos espremidos entre esses dois mundos e, qual no embate das ondas com as pedras, viramos mariscos sofredores.
| 123RF - https://pt.123rf.com/photo_108106112_close-up-de-%C3%A1gua-do-mar-onda-azul-est%C3%A1-batendo-contra-pedras-spray.html |
Os fatores permitem esses arroubos são - no meu entender - as decantadas imunidades parlamentares (que penso não serem absolutas; quem quiser que examine na Constituição Federal, o § 1º do art. 155, que acho restringir as imunidades). Permitem, também, no caso do presidente da República, um princípio que nunca vi enunciado: quem tem a última palavra não precisa de argumento.

