14 de mai. de 2022

DESMEMÓRIA POLÍTICA


Hoje ninguém mais fala

naquele mala levando uma mala,

em corridinha ridícula,

com quinhentos mil reais.

De vergonha, nem gotícula.


Nem no apartamento baiano

onde encontraram muito mais:

na terra dos foliões

eram cinquenta e um milhões.


Aquela famosa audiência

no Jaburu, no porão,

altas horas, fora de agenda,

nome trocado, no portão,

mais uma vez, com permisso,

empresário presta contas

de mutretas ao presidente

que recomenda, complacente:

é preciso manter isso.

Proteção ao deputado!

O papo foi divulgado.

Pro presidente, ofendido,

empresário vira bandido.

Tudo acertado a contento,

cai também no esquecimento.


Nem acredita o néscio

naquela manjada estória:

empréstimo ao senador

dois milhões, sem promissória.


Também não se lembra mais

do dinheiro - centenas de milhões -

da tal 407

na qual ninguém mais se mete:

era o tal do mensalão.


Ah! E a Petrobras?

Tem gente que acredita

em inocência decantada,

intercalando sempre um "mas...".

Há gente desapontada:

devolução de bilhões

(não mais centenas de milhões),

processos de investidores

- prejuízos extraordinários -

na terra do Tio Sam,

como em casa dos horrores,

com acordos bilionários.


Até coisa mais recente

incomoda muitos de nós

sem que se explique pra gente:

o que é feito do Queiroz?

Alguns dizem: muito pouco,

haverá tribunal que albergue.

No entanto, quem sabe seja

só a ponta do iceberg.


Se for escarafunchar

a história oculta do Brasil,

lama no mar, mar de lama,

verá muita gente com fama:

Capemi, Coroa Brastel,

Grupo Delfim, BNDES, Lutfalla,

comissões, mordomia a granel.

Só que hoje ninguém mais fala.


É que a memória do povo

dilui-se em gerações.

Para os velhos, nada de novo,

quem é jovem não conhece.

No topo, velhos figurões,

malfeitos que a gente esquece

e a velha esperança fenece.


Para que ficar lembrando

que um bando de gente importante

bem nutrida, bem falante,

a pretexto de servir,

serve-se, a seu talante,

das misérias do povo

bem ajuntadas em poucos

muito cuidadosamente,

sempre de ouvidos moucos,

alheios a sofrimento de muitos,

empanturram-se com intuitos

de pleno enriquecimento.


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