6 de jun. de 2020

FALSAS NOTÍCIAS - UMA PONTINHA DO PRESIDENTE




Não! Não estou sugerindo que as investigações sobre as falsas notícias possam atingir o Presidente (prefiro a expressão em português). Estou afirmando que há uma pontinha dele, em ação de falsa notícia, ele mesmo tendo confirmado.
De início, acho de meditar sobre a existência de notícias falsas e o que se busca com elas. De qualquer forma, busca de poder: inocente ou quase em alguns casos, quando o veiculador só quer impressionar ou chamar as atenções de outrem para si; ou, no limite oposto, conquista ou manutenção de poder, às vezes com violência extrema.
Os historiadores podem indicar a incidência delas. Com poucos conhecimentos, lembrei-me da "noite de São Bartolomeu". Uma briga histórica entre católicos e protestantes (huguenotes), na França. Um casamento arranjado entre majestades, para "selar armistício". Um atentado contra um almirante huguenote, tramado por Catarina de Médicis e Henrique de Guise, do lado católico. Um boato espalhado pelos católicos, falsa notícia de que os huguenotes estavam planejando uma rebelião para vingarem-se do atentado. Milhares de huguenotes de todo o país convidados para as festas do casamento, em Paris. O resultado do que estava anunciado como uma grande festa de unificação acabou em atentado horroroso, tendo sido assassinados milhares de huguenotes.
Vendo toda a celeuma que rola no Brasil, por causa das notícias falsas, a referência consequente que me veio à memória foi a fatídica noite de São Bartolomeu, em Paris, quando matanças organizadas foram iniciadas no dia 24 de agosto do ano de 1572, tendo-se espalhado pela França.
No caso dessa noite, buscava-se o poder, dois lados políticos, a igreja católica ligada a um deles. O desfecho foi um ato de enorme violência.
Ocorreu-me, também, uma referência bastante singela. Meu irmão caçula, Cícero, tinha e tem uma característica imaginativa marcante, muito criativa. Inventava estórias. As dificuldades da vida e circunstância de filhos adolescentes, sem emprego, levaram Dona Ephigenia a fazer uma horta e criar galinhas e porcos, em lote grande, com bananeiras e muitas outras árvores. Hábitos de trabalho para os rapazinhos e um cenário de fartura para toda a família.
Foi por causa disso que o Cícero, bem pequeno ainda, chegou, certo dia, com a novidade: "o porquinho subiu na ameixeira". Manjado que era o jeitão dele, ninguém deu muita bola. Poucos dias depois, minha mãe passando conosco pelo chiqueiro, o Cícero vira-se: "Olha a orelha do porquinho, toda arranhada. Ele arranhou quando desceu da ameixeira". Ficava só nisso não. Ocorriam enchetes no ribeirão Arrudas, a cerca de duzentos metros de nossa casa. Era chover um pouco forte e lá vinha o aguaceiro. Com ele, costumava virem bichos mortos pela água. Deu-se que o Cícero chegou com a novidade: "caiu uma vaca no Arrudas". Fato que acontecia frequentemente, naquele cenário. Ninguém deu trela. Ele seguiu, buscando maior efeito: "e caiu um burro também".
No caso do Cícero, uma busca inocente de poder, de chamar para si a atenção da família (Dona Ephigenia, muito carinhosa, trabalhava demais mas o tempo para "agradar" era curto). Para todos (eu nem cogitava ainda o que podia significar uma notícia falsa), apenas uma atividade inocente, sem qualquer consequência.
Uai! Direis! Vem com esse papo todo e nem toca na pontinha do presidente? Toco sim, sô! Não há de ver que ele falou, para a turma do ritual da recepção quando chega ao palácio, com gravação "pra surdo ouvir, pra cego ver"*, que iria promover um churrasco no Alvorada, para cerca de trinta pessoas, regime de "vaquinha" a R$70,00, uma peladinha, sem bebida alcoólica, que a primeira dama põe todo mundo pra correr... Pois é! Muita gente meteu o pau, a imprensa também, disseram que descumpria recomendações da OMS, e coisa e loisa... Vai daí que, no dia seguinte, em manifestação no mesmo lugar, com assistência dos frequentes, o presidente assumiu um tom irônico, quando um apoiador perguntou-lhe se não o ia convidar, disse que ia convidar a imprensa e seguiu dizendo que deveriam comparecer cerca de 3.000 pessoas. Afirmou, mais próximo de um pequeno grupo, que o churrasco não iria acontecer. Que era fake. Divulgou pelas redes sociais que era fake. Falou em jornalistas idiotas que teriam acreditado e assinalou que o MBL se superou: entrou com ação na justiça.
O noticiarista diz que o MBL confirmou que pediu, em juízo, que lhe fosse aplicada uma multa caso o churrasco fosse realizado.
Pois bom! Não se sabe se o churrasco foi cancelado em contraponto ao ingresso de ação na justiça, ou se era uma atividade encenada pelo Presidente para chamar a atenção sobre si, para ser desmentida depois.
Certo é que divulgou falsa notícia via Embratel. Não em rede social, não. Foi para a Nação. Pego pelo pé (críticas e demanda ao judiciário), desmentiu.
Não sei se é o espírito imaginativo, como o do meu irmão, ou coisa "mais pior"...

* Xote dos Milagres - Tato, do Falamansa.

Imagem: med imagem.

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