10 de jul. de 2020

ANTIGAS ESTÓRIAS DE MALUCOS

Não me lembro de ter lido. Parece-me mais ter conhecido por transmissão oral. Daí que não posso atribuir o crédito.
Dizia-se que um determinado sujeito cismou - e cismou com convicção - que era um grão de milho. Passou a esconder-se dos galináceos e até dos pássaros capazes de engolir um grão de milho sem esforço.
Como todos se incomodavam com isso, acabou em um psiquiatra (levado na marra por alguém, claro, porque não se atrevia a sair de casa). Depois de matutar sobre a estranha cisma, o psiquiatra recomendou-lhe que, durante três dias, ficasse recluso em um quarto, repetindo, sem parar: "Eu sou um homem, um ser humano perfeitamente normal". E lá se foi nosso cismado a repetir a frase, sem cessar. Passados os três dias, tornou ao psiquiatra que lhe perguntou: "O que o senhor é?". Respondeu, sem pestanejar: "Sou um grão de milho". O psiquiatra mandou-o voltar à reclusão, por dez dias, a repetir: "Eu sou um homem, um ser humano perfeitamente normal". E lá ficou nosso amigo a cumprir a recomendação. Depois dos dez dias, voltou e o psiquiatra perguntou-lhe: "O que o senhor é?". Respondeu, novamente sem pestanejar: "Eu sou um grão de milho". O psiquiatra não mudou o tratamento, só aumentou o prazo (parece que tinha alguma afinidade com um tal de Goebbels). Mas resolveu internar o camarada, mantê-lo recluso em sua clínica, para poder exercitar-se sem desvios de atenção. E foi o paciente (tem de ser muito paciente, não?) à nova reclusão e à sistemática e entediante repetição, ora com maior prazo de validade: "Eu sou um homem, um ser humano perfeitamente normal". Vencido o prazo, retornou ao psiquiatra e veio a pergunta: "O que o senhor é?". Declarou, maquinalmente (ainda sem pestanejar): "Eu sou um homem, um ser humano perfeitamente normal". O psiquiatra exultou: "Parabéns! O senhor venceu, está bem resolvido agora. Pode, pois retornar à sua casa". Surpreendeu-se com a reação do paciente recém curado: "Quero ficar aqui, doutor, não quero ir para casa". O psiquiatra obtemperou: "Na sua casa o senhor ficará melhor, já tem intimidade, terá companhia de seus parentes.... Por que não quer ir para casa?". "Não, doutor! Não quero! É que lá tem muitas galinhas". O psiquiatra não se conteve e, com um toque de impaciência, disse: "Mas o senhor nada tem a temer! O senhor sabe com certeza que o senhor é um homem, um ser humano perfeitamente normal, ora!". Foi quando o paciente deu termos definitivos à questão:
"Sim, doutor! Eu sei que sou um homem, um ser humano perfeitamente normal. Mas as galinhas podem pensar que ainda sou um grão de milho".

Imagem editada de vídeo: YouTube.
https://www.youtube.com/watch?v=KNutzJeAs5E

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